Muitos querem contar, mas diante de tantos contadores (que às vezes parecem ser o dobro dos ouvintes) fica difícil prender a atenção e passar o recado. Mas a Normando consegue, conseguiu na estreia da edição passada e conseguiu no desfile que aconteceu hoje (08.04), abrindo o terceiro dia de SPFW.
Quando Carol Ribeiro, conterrânea-musa da marca, surge na passarela com conjunto de juta bem dramática, poderia ser apenas uma versão nacional do corp core – mas está muito longe disso. Na coleção “Chove nos Campos de Cachoeira”, eles discutem sobre o nosso país sem discursos baratos e, a partir, da obra homônima de Dalcídio Jurandir.
A escolha da obra também me fez pensar sobre o tempo, ao pesquisar descobri que, apesar de ter concluído o livro em 1929, a publicação só veio em 1941. A sabedoria de acreditar no tempo que perdemos com o passar do… tempo – sempre ele. Mas voltando à coleção: as meias de látex amazônico chamam atenção por darem esse toque de rebeldia, transgressão e fetichismo.
A trilha de Max Blum arremata de forma inteligente o tópico desmatamento, essa seca, essa concretude que vai se formando e destruindo a paisagem e, consequentemente, o nosso passado. O vestido usado por Thai que mistura palha de Buriti e látex reúne essa ambivalência da apresentação.
Voltando ao látex, material-chave do desfile e que mais me chamou atenção, ele aparece nas principais peças – ressalto o vestido meio slip, meio baby doll arrematado por renda soutache francesa preta. Igualmente interessante a alfaiataria cinza desencaretada por franjas. Styling inteligente de Larissa Lucchese. História bem contada, com começo, meio e fim.