Nenhum lugar reflete mais as convenções sociais do que um ambiente burocrático e formal, ali não há lugar para ambiguidades e nada que dê margem ao não literal. O jovem designer holandês Duran Lantink sabe disso e é nesse contexto que sai, com toda certeza, uma das melhores coleções dessa temporada de inverno 25/26.
Quando Mica Arganaraz surge na passarela com um torso masculino esculpido e calça de alfaiataria, já entendemos que ele quer subverter. Mas não se deixe prender apenas por isso, pois vem, na sequência, o seu exercício mais genial: redesenhar a silhueta criando novas perspectivas e deformações propositais. A forma celebrada em seu ápice. Onça, zebra, vaca e cobra juntas e misturadas. Logo entendemos se tratar da mistura de raças, gêneros e conceitos.
Nesse escritório (que serviu para a locação), ele não quer esclarecer nada, muito pelo contrário, quer confundir. Aliás, ali, tudo é NSFW (Not Safe for Work). Com muito humor e uma dose extra de sonho, real e surreal de mãos bem dadas. LeonNDame surge pintado de zebra e com tanga na mesma padronagem. Jeans se tornam uma espécie de colagem, que revelam a parte de trás. Sem medo de proporções, ombros emendam pescoços e quadris são completamente deslocados.
Caso ainda não tenha ouvido falar em Duran, vale dizer que ele surgiu em 2021 oficialmente e logo chamou atenção por refletir o que é criar e inovar na atualidade: olha para a sustentabilidade, reciclagem e pautas do presente com técnica e inteligência. Nada é ordinário, muito menos o cotidiano. Não foi por acaso que foi reconhecido com o prêmio Karl Lagerfeld do LVMH Prize, em 2024.
Para encerrar o desfile-show: modelo com próteses mamárias de silicone, em contraponto com o look de abertura. Formas de falar sobre objetificação, classe, gênero e, claro, liberdade. Duran Lantink é o nome para se prestar atenção. E vale dizer que a Jean Paul Gaultier já está de olho nele para ser o novo diretor criativo, após anos convidando designers para assinar suas coleções de forma pontual.