É um desfile de moda ou cena de um cotidiano inspirador? Na Lemaire, a realidade não envergonha e passa longe de ser um crime como em muitas outras marcas, em que a fantasia é onipresente. Seja pelas ruas de Paris, no pátio da Universidade Pierre e Marie Curie ou em uma passarela circular nos arredores da Place des Voges, as apresentações da marca são registros poéticos do dia a dia, em que funcionalidade e utilitarismo caminham de mãos dadas.
Muito antes do frisson hoje conquistado pela The Row em torno dos essenciais, a Lemaire já estava lá: discreta, introspectiva, silenciosa. Sem afetação, no sentido mais amplo. Mas a história não é nenhum um pouco recente. Christophe ganhou o prêmio ANDAM em 1992, dois anos após lançar a sua marca homônima e terminou a década como diretor criativo da Lacoste.
Dez anos depois atraiu todos os olhares ao substituir Jean Paul Gaultier a frente da Hermès, onde permaneceu por quatro anos, tendo já ao seu lado sua atual parceira de vida e de criação, Sarah Linh-Tran. Juntos passaram a assinar colaborações para a Uniqlo, em 2015. Um sucesso comercial e conceitual, que fez a rede cair nas graças de um público que buscava qualidade e conforto.
Essas duas palavras marcam o trabalho da dupla, que está bem longe de se adequar ou se limitar ao minimalismo. Há ali uma dose extra de profundidade, estranheza e sofisticação. Miyake, Yamamoto e Kawakubo formam a tríade que o casal nunca escondeu servir de inspiração. Essa verdade sobrevive mesmo sem fogos de artifícios, fazendo com que a marca tenha lojas não só na Europa, como na Ásia. O foco em acessórios de couro e manter o core como uma alternativa mais acessível ao luxo garantiram esse sucesso e crescimento – saltando de 10 milhões (2019) a 100 milhões (2024) de dólares em vendas.
E, apesar de parecer um tanto banal, a Lemaire consegue ser como poucas o sinônimo perfeito do que entendemos como um estilo realmente atemporal.