Willy Chavaria era mais do que esperado na semana masculina de Paris, sua estreia na cidade ganhou ainda mais simbolismo, por ser na mesma semana que o presidente Trump assumiu o poder dos EUA, iniciando mais um mandato. Willy é californiano, mas nunca escondeu suas origens latinas, muito pelo contrário, elas são o mote do seu trabalho.
Numa igreja decorada com flores e luz baixa, surge da penumbra a artista Dorian Wood, amiga de infância e que assim como Willy tem pais vindos da Costa Rica, seguida dos primeiros modelos, todos com blazers de veludo molhado e terços nas mãos, ali entendemos que a coleção Tarantula não é sobre religiosidade, mas sobre fé e crença em dias melhores.
Na transição entre a alfaiataria e o esportivo, entra o cantor colombiano J.Balvin. Willy olha para latinos, ou melhor, para os imigrantes que vem perseguidos não só na América, como na Europa. É uma coleção melancólica, questionadora, que exalta tradição, crenças e celebra um passado que merece ser lembrado – e exaltado.
Mas Willy não é conformista, está bem longe disso, se para elas ele redesenha o corpo em uma sensualidade com quê vintage, para o bloco final ele vai fundo no streetwear elevado a enésima potência: bermudas enormes, jaquetas, puffers, agasalhos em versão box – provavelmente fruto de collab com a adidas.
E quando achamos que não poderia haver mais espaço para emoção ele finaliza tendo o discurso da bispa Mariann Edgar Budde como trilha, que discursou diante do presidente Trump: “A grande maioria dos imigrantes não são criminosos. Elas pagam impostos e são bons vizinhos. Eles são membros fiéis de nossas igrejas, mesquitas e sinagogas, gurdwara e templos. Nosso Deus nos ensina que devemos ser misericordiosos com o estrangeiro, pois já fomos estrangeiros nesta terra”. Sem dúvidas, a imagem mais marcante da temporada e, arrisco dizer, do ano.