A Prada escolheu a ilha da Sardenha como locação para seu desfile do Verão 22, a terceira coleção da marca desde que Miuccia Prada e Raf Simmons começaram a dividir a criação das coleções. Entre um túnel vermelho (um tanto claustrofóbico) e o mar, a Prada nos coloca a refletir sobre a “utopia da normalidade” e a tão sonhada saída do lockdown (na Europa ele aconteceu de verdade e foi bastante longo).
Enquanto algumas marcas almejam e imaginam roupas para viagens espaciais em movimentos escapistas, Miuccia e Raf depositam suas expectativas no retorno de atividades cotidianas e ordinárias, como ir à praia.
A Posidonia Oceanica, planta endêmica do mar mediterrâneo que aparece em esculturas nos sapatos e estampas nas roupas é um organismo imprescindível para a filtragem de gás carbono e habitat de diferentes espécies marítimas. A coleção é uma homenagem, bem como um apoio da Prada ao reflorestamento desses organismos marítimos através do projeto do MedSea Foundation.
A coleção foge do óbvio, em cores, cortes e silhuetas e o equilíbrio entre Miuccia e Raf é distinguível. Os destaques ficam por conta dos shorts super curtos em referência ao comprimento que nos anos 70 eram sensação, sobrepostos por uma micro-saia; os decotes quadrados e profundos; as referências à pesca nas estampas de moluscos falhadas, nas capas de chuva e no Bucket Hat alongado na parte de trás, como os usados pelos pescadores do Mar do Norte e Báltico, que aqui ganha o já hit mini bolso em forma de triangulo com zíper que já havia aparecido na coleção anterior atachado a luvas e bolsas.
Raf e Miuccia reforçam, através dessa coleção, um desejo urgente e necessário de uma volta à normalidade, a possibilidade de uma vida ao ar livre ancorada no que a ela tem de mais simples: uma ida a praia nas férias de verão, como nos bons tempos quando não podíamos nem imaginar que seriamos privados dos desejos mais básicos. (AUGUSTO MARIOTTI E LUCAS ASSUNÇÃO)