André Lima voltou ao line-up do SPFW com um pézinho no passado e olhos no futuro, mas de uma forma zero nostálgica – por mais que tenha dado um belo aconchego aos saudosistas, seja do evento, seja das suas coleções em si. A série de TV Mulher Maravilha, dos anos 1970, foi o ponto de partida e a interpretação inesperada.
E, aqui, o inesperado foi uma incrível surpresa: peças com fios, que remetiam a cabelos, crinas, perucas – presentes, inclusive, nos belos acessórios assinados por Débora Parisotto –, para arrematar os looks de suas guerreiras glamazon e heroínas retro-futuristas. Os cabelos oitentistas assinados por Ricardo dos Anjos e Truss foram outro capítulo à parte.
Direto de seus desfiles dos anos 2000, Carmelita, Viviane Orth, Drielly, Barbara Berger, Daiane Conterato e Alessandra Berriel capricharam nos pivôs ao som da música-hino “Baile de Peruas” do NoPorn – para quem não sabe, a composição de Liana Padilha [morta em março deste ano] é, na verdade, um compilado de críticas ácidas sobre as coleções de André. O resto? O resto é história! Qual apaixonado por moda não conhece pelo menos um dos versos debochados?
E as roupas em si? Belos exercícios de moulage que desafiavam a física e reverenciavam a beleza do corpo. Aparições, miragens, sonhos fetichistas para instigar, provocar, incitar. Ao final do desfile brinquei dizendo: “Regina Guerreiro [jornalista e editora-ref brasileira] escreveria ‘A mulher André Lima levantou a saia’”, porque ela, a mulher idealizada pelo estilista, está querendo, mais do que nunca, todos os olhares para ela.
Decotes profundos, saltos vertiginosos, ombreiras, transparências que revelam não só o corpo como a técnica do criador. Ali, nada, nada era pela mera imagem, tudo aliado ao processo, ao saber fazer e mais do que isso, ao amor que André tem pelo criar. Especial, em todos os sentidos. “Sem medo de voar, sem medo de abalar”.