SÃO PAULO, 30 de novembro de 2010
Por Luigi Torre (@luigi_torre)
Gustavo Silvestre sempre teve como ponto positivo em seu trabalho o uso de elementos tipicamente brasileiros _sem que, para isso, precisasse recorrer aos clichês tupiniquins. Seus famosos bordados, sempre muito ricos, por si só já davam conta de um tanto da nossa cultura, mas para o inverno 2011 o estilista quis ir um pouco além. Para falar da miscigenação cultural brasileira, aproveitou a sustentabilidade e construiu quase toda sua coleção com tecidos e materiais reciclados ou reaproveitados. Porém, uma certa irregularidade _tanto na edição, quanto no styling confuso_ acabam impedindo que suas boas ideias fossem exploradas mais profundamente.
O desfile abre com peças escuras sobrepostas a outras bem estampadas e de silhueta rente ao corpo. A imagem vai aos poucos se refinando, a medida que a ordem é invertida e o preto domina pontuado por bordados brilhantes ou flashes desses “patches de estampa”. Sofisticação e brasilidade na medida certa. Extremamente em sintonia com a identidade que Gustavo desenvolveu nas últimas temporadas.
Logo em seguida, a cor volta a dominar numa interessante sequência de peças em jeans, dando continuidade ao trabalho do estilista com o material. Dessa vez são vestidos e jaquetas construídos a partir de pedaços de calças antigas que resultam em peças “Frankenstein”, como no bom vestido com espécie de corset (foto #9) e naquele com recortes verticais e bordados triangulares (foto #10).
No entanto, meio que repentinamente, a coleção se envereda por um caminho comercial demais, se esvaziando de sua força. Os vestidos com estampas pixeladas e os jeans boot cut, por exemplo, apesar de bem desejáveis, podiam ter ficado de fora da edição final.