Direção criativa
Alexandre Herchcovitch
Edição e styling
Mauricio Ianês
Beleza
Celso Kamura (cabelo) e Robert Estevão (maquiagem)
Direção de desfile
Roberta Marzolla
Trilha
Max Blum
Tema
Uma história de boudoir sobre amor e perda, perversão, sexo e poder.
Materiais
Tricoline de cashmere, fitas de gorgurão, tafetá de seda, jacquard, tule elástico, cetim de seda stretch, meia malha, lã cashmere, canvas de lã, lã alpaca, crepe georgete
Uma história de boudoir sobre amor e perda, perversão, sexo e poder. Um tema rico e amplo, que foi trabalhado com rigor e precisão. O desfile abre com as camisolas de tricoline de cashmere e um trabalho com fitas de gorgurão que permeia a coleção e faz a transição entre a inocência e a intimidade, das camisolas à perversidade do fetiche. Muitos elementos que definem a estética de Alexandre Herchcovitch estão lá: as técnicas de costura, as silhuetas, os laços, que aparecem desfeitos, o shape quadrado de algumas peças, o zíper com ilhós e amarração, usado desde o início de sua carreira em incontáveis roupas da Marcia Pantera e em coleções, as argolas nos seios usadas nos anos 1990. Há também a questão da dualidade, o agressivo e o leve, o sexo e o austero, o perigo e a inocência.
Uma das coleções mais fetichistas da história recente de Alexandre Herchcovitch. O trabalho com a fita remete ao bondage, há transparências, muito zíper, amarrações, argolas sobrepostas como sutiã (no look final de Vanessa Moreira) e seios que ficam de fora por conta do recorte com viés SM da roupa (look 11). Esse look é um dos mais fortes do desfile como imagem, mas é interessante notar que não é o peito nú que o transforma no mais ousado ou impactante, e sim a roupa em si, carregada de sexo através de seu desenho. Assim, não é um desfile sensual e sim sexual, com um fetiche que é cru, moderno e sofisticado ao mesmo tempo. E está aí algo difícil de conseguir, descartar as obviedades e os caminhos mais fáceis e ainda se suceder.
80% da coleção foi feita somente por duas pessoas. Apenas duas costureiras tinham as habilidades necessárias na pré-moldagem à vapor das fitas de gorgurão, que aparecem na maior parte da coleção. “O difícil era pegar uma fita reta e fazer no corpo, que é curvo”, explica Herchcovitch. Assim, ele usou uma fita de gorgurão de viscose que é mais maleável, mas pré-moldada a vapor, de maneira que pode esticar ou encolher dependendo do efeito desejado. “É uma matemática violenta”, diz, referindo-se a uma técnica que era muito usada nos acabamentos de roupas vitorianas. As fitas aparecem em detalhes até virarem um único vestido, 100% construído de fita de gorgurão. Aqui também notamos a capacidade dele em evoluir sobre um único tema, do mínimo ao máximo.
Um alfaiate pregou todas as mangas de alfaiataria em ponto picado, em que cada ponto leva um segundo, e uma outra costureira fez todas as peças em viés. Os vestidos do final do desfile em cetim duschese têm um estampa quadriculada preta e branca, mas feita da seguinte maneira: em cada quadrado branco tem um quadrado preto de tecido aplicado por cima. Ou seja, uma coleção muito artesanal, luxuosa no fazer, com técnicas históricas, inclusive usadas na Alta-Costura. No Brasil não existem profissionais prontos no mercado para esse tipo de trabalho; eles são ensinados pelos próprios estilistas. Alexandre treina as costureiras para que elas aprendam técnicas específicas. (CY)
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