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    Ronaldo Fraga
    N47
    Foto: Zé Takahashi / Ag. Fotosite
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    Foto: Zé Takahashi / Ag. Fotosite
    Por Camila Yahn 26.abr.19

    Candido Portinari morreu em 1962, dois anos antes do início do que seria a Ditadura Militar no Brasil. Deixou uma obra lírica, mas também política, em que criticou acima de tudo a opressão em suas muitas formas. Uma de suas pinturas, os painéis de Guerra e Paz, foi o ponto de partida para o desfile de Ronaldo Fraga. Encomendados pela ONU, os dois paineis de 14m de largura, opõem o massacre do povo e sua capacidade para a expressão da alegria. Ronaldo, em um exercício de ficção, escreve uma carta póstuma a Portinari e se pergunta, diante da atual situação lamentável do país, o que Portinari pintaria, o que denunciaria se pintasse Guerra e Paz hoje. Portinari, um gênio reconhecido mundialmente, foi do Partido Comunista e no Brasil de hoje seria tratado como inimigo. Ronaldo, por sua vez, tem se colocado pessoalmente em suas redes contra os descalabros do atual governo, especialmente nas questões relacionadas a racismo, homofobia, direitos das minorias e propostas ambientais, pautas de interesse geral da população mas que tem sido tratadas como "esquerdistas". Sua passarela deixa claro: há um processo de militarização da vida em curso. A guerra é, antes de tudo, um modo de organizar o mundo. Os modelos vestem capacetes criados por Marcos Costa com diferentes adornos que representam diferentes questões importantes. As armas, que viraram símbolo e gestual do atual governo. O genocídio da população negra e a violência de tentar negar que os horrores da escravidão ocorreram e ainda têm consequências. A perseguição à população LGBT. As novas medidas que ampliam a exploração de florestas e roubam direitos das populações indígenas. A opressão dos trabalhadores. O descaso com as ciências humanas. Em certa entrada o adereço é a pomba da paz que parece tentar furar e atravessar o capacete e, quem sabe, tocar um pensamento. As roupas trazem estampas detalhes das pinturas de Guerra e Paz, mas também balas, estilhaços, sangue. No chão da passarela, café, símbolo de riqueza, conforto mas também do trabalho escravo nas fazendas brasileiras, amplamente retratado no trabalho de Portinari. Ele, que durante a vida declarou que não acreditava em arte neutra, que o sentido social de um ato artístico existe mesmo sem intenção explícita. As técnicas de patchwork combinam bem com o pensamento dessa coleção, que entende a história como um ajuntamento de vozes, de trajetórias, de pessoas e seus percursos, suas produções e seus afetos. A trilha foi feita ao vivo pelo grupo de cantoras A Quatro Vozes, acompanhadas pelos instrumentistas do trio Motim. Canções da MPB com cunho político, mas também canções de amor. A realidade às vezes é tão penosa que os fatos nos sobrecarregam, deprimem, precisam ser escondidos de nós mesmos. Só conseguimos elaborá-los muitas vezes partindo de uma ficção. Assim faz a arte, assim às vezes consegue fazer a moda, embalando fatos duros em uma narrativa que não os esvazia, mas que os torna mais acessíveis. Portinari, presente.    

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