
Nº34 • 2013
Amor e Outras Artes
Em tempos bicudos de avanço da intolerância no país, a edição 34 da ffwMAG! elege o amor como resposta, saída, diálogo, intervenção, tema central da revista. Não só o amor, mas o amor muito bem acompanhado pela arte.
Contra a truculência dos patrulhadores da vida alheia, contra a repressão que assombra cada vez mais as liberdades, contra a falácia de felicianos e outras cambadas que tentam tolher os direitos civis de milhares de pessoas, revidamos com amor e arte: duas formas de expressão capazes de transformar o indivíduo, o meio por onde ele transita, o mundo.
É o amor que inspira o editor de moda Paulo Martinez, que apresenta as coleções para o Verão 2014 em três ensaios que celebram todas as possibilidades de romance: heteroafetivo, homoafetivo, viva a diversidade! As fotos são de Fabio Bartelt, Nicole Heiniger e Gustavo Zylbersztajn.
É o amor que move o artista plástico Ernesto Neto. Veja só: ele se casou dentro de uma obra de arte. O fotógrafo Murillo Meirelles e a escritora Luciana Pessanha estavam lá e registraram tudo.
É o amor que valoriza ainda mais a arte do venezuelano Alfredo Cortina. Ao longo de muitos e muitos e muitos anos, ele dedicou seu olhar à mulher amada, fotografando-a com obsessão em diferentes lugares e situações. É o amor que leva a cada semana centenas de mulheres apaixonadas a esperar até 30 horas do lado de fora do Cadeião de Pinheiros para rever maridos e namorados encarcerados no pior presídio de São Paulo.
É o amor que embala as canções exageradamente sentimentais de ícones da música brega, como Waldick Soriano, Odair José, Lindomar Castilho, Reginaldo Rossi e Wando.
É o amor que movimenta artistas e ativistas em busca de ideias e atitudes que possam mudar a sociedade: “Todo ser em movimento/ é perigoso / todo ser que se transforma / incomoda”, escreveu o poeta Paulo Leminski.
É o amor que marca os atuais momentos da artista plástica Adriana Varejão, grávida e linda nas páginas desta ffwMAG!, e da cantora e compositora Clarice Falcão, a grande novidade da música pop brasileira.
É o amor que faz dos ateliês dos artistas lugares sagrados, onde Paulo Pasta, Iran do Espírito Santo, Stephan Doitschinoff e Talita Hoffmann se isolam do mundo para reinventá-lo com outras cores, texturas, indagações.
É o amor ingênuo da infância que vemos nas definições de crianças colombianas para palavras como adulto, céu, sexo, morte, eternidade ou violência: “Parte má da paz”.
Ao discutir qual seria o tema desta edição, uns preferiam amor; outros, arte. Optamos por juntar os dois assuntos e transformar esta ffwMAG! em uma declaração de amor à arte, manifestação de toda forma de amor.
Ame muito. Ame sem moderação. Amar não tem contraindicação.
Paulo Borges
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