
Nº35 • 2013
Futebol Bossa Nossa
Gol, quase gol, gol perdido, gol de placa, gol de letra, gol de bico, gol de bicicleta, gol olímpico, gol de canela, gol contra, gol de cabeça, gol de falta, gol de barriga, gol impedido, gol anulado, gol de pênalti, gol de mão, gol de voleio, gol bonito, gol feio, gol, gol, gol, goooooooooooool… Não importa o jeito, brasileiro adora gritar gol. E ffwMAG! dribla o tempo, antecipa 2014 e, com o exigido “padrão Fifa”, faz esta homenagem ao futebol – esporte que tomamos dos ingleses e transformamos em grande paixão nacional. Como antropófagos, comemoraria Oswald de Andrade, deglutimos a forma importada e produzimos algo genuinamente brasileiro: o futebol-arte, com ginga e malemolência só nossas. Sim, “somos a pátria de chuteiras”. Sim, somos “milhões em ação, ligados na mesma emoção”. Sim, gastamos demais com a construção dos estádios para a Copa do Mundo. Se Lima Barreto, inimigo feroz da bola, ainda estivesse por aqui, bufaria de indignação: “Não acredito que um jogo de bola e, sobretudo jogado com os pés, seja capaz de inspirar paixões e ódios”. O escritor, lá no início do século 20, chegou a criar a Liga Anti-Futebol. Para ele, esse esporte seria um jogo brutal e sem sentido, que deseducava as pessoas e favorecia o racismo. Vale lembrar: as primeiras equipes brasileiras, com exceção do Vasco da Gama, não permitiam jogadores negros. Do outro lado do campo, na contramão do pensamento de Lima Barreto, estava outro escritor, Coelho Neto, que acreditava que o futebol “ajudava a formar uma sociedade na qual os homens, qual os esportistas, fossem adestrados pelo exercício físico, criando um tempo de paz e de harmonia e abrindo o peito para valores nobres de confraternização e integração social”. Como se vê, esse debate quente sobre o papel positivo ou negativo do futebol na sociedade brasileira vem de longe e, mesmo caduco, não morreu de velho. Ainda hoje, há quem siga xingando o esporte. Mas deixemos essa briga para quem é de briga e vamos ao que interessa aqui: o futebol como circo, o futebol como manifestação cultural, o futebol como paixão, o futebol como esporte global, o futebol como entretenimento, o futebol como arte. Entre os assuntos que escalamos para esta edição suada de ffwMAG!, resgatamos a história do jogo entre as piores seleções do mundo: Butão x Montserrat; conversamos com colecionadores de camisas de times de futebol; viajamos até a África com a fotógrafa Jessica Hilltout; espiamos os vestiários para desvendar a vida sexual dos jogadores; percorremos o bairro da Mooca, em São Paulo, onde está a sede do Clube Atlético Juventus; batemos bola com as meninas da categoria de base do Centro Olímpico; fomos até Manaus, onde acontece “o maior campeonato de peladas do planeta”; e, aos 45 minutos do segundo tempo, o deputado federal Romário e o zagueiro Paulo André, do Corinthians, apareceram para falar sobre os bastidores do futebol brasileiro. Com jogada de mestre dos craques Paulo Martinez e Heleno Manoel, os ensaios de moda – fotografados por Cristiano Madureira, Nicole Heiniger e Fabio Bartelt – são poemas, bailados de pés, instantes lúdicos inspirados no tema da edição. É só ocupar o seu lugar na arquibancada que a bola já vai rolar.
Paulo Borges
Publisher
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