Por Luiz Henrique Costa
Às vezes, quando a gente abre um pacote de bombom e, na duvida sobre tantas possibilidades, a embalagem nos engana. Nem sempre a cor da caixa ou a descrição mais atraente tem o recheio mais gostoso, e é mais ou menos isso que acontece com a nova minissérie The White Lotus, da HBO MAX e a sua sinopse simplista: “As desventuras dos empregados e hóspedes de um resort tropical durante uma semana.” Você pode abrir esse bombom que parece meio insosso sem medo de errar, porque temos aqui uma sequência de seis episódios excepcionais. Um tanto amargo em certa medida, é verdade, mas quanto mais cacau na receita, mais intenso é o chocolate.
The White Lotus é uma das produções mais faladas do ano e se inicia com um grupo de turistas chegando a um resort paradisíaco no Havaí com um pano de fundo a partir da estrutura já manjada do ‘Quem matou?’ que é na verdade só um pano de fundo para os ótimos roteiro e direção de Mike White, de Dawson´s Creek, trazer a tona discussões sobre a elite, a branquitude, as relações de poder e privilégios.
É difícil dizer qual dos personagens no arco complexo da trama é o mais desprezível, mas com certeza você vai reconhecer, infelizmente e com certa tranquilidade, alguém que já cruzou no seu caminho, seja no boçal cliente rico que se sente melhor e superior aos funcionários do resort – aquele tipo que maltrata o garçom no restaurante – ou nos jovens que reproduzem desde sempre ausência de empatia e respeito com o mundo que se tem a volta. Intragáveis quase todos e ao mesmo tempo próximos de cenas corriqueiras que todos nos certamente já vivenciamos.
O contraste entre a fotografia saturada que amarelam o mar e da natureza no Pacífico, a trilha brilhante do compositor Cristobal Tapiade de Veer que vai de encontro com cada núcleo no instante certo, as atuações excelentes do elenco – destaque especial para o ator australiano Murray Barlett no papel de Armond, o gerente do resort – o conjunto de relações dos hospedes e funcionários que culminam em um roteiro com passagens quase risíveis de tão absurdas tornam The White Lotus um trabalho imperdível e que nos rende necessárias reflexões como sociedade.