Por Luiz Henrique Costa
Tempo, o novo trabalho do diretor M.Night Shyamalan se baseia no elogiado HQ Castelo de Areia publicado em 2011, originalmente em francês, com ilustrações de Frederick Peters e roteiro de Piérre Oscar Levy. A obra fez um enorme sucesso e concorreu a prêmios importantes no Festival d´Angoulême.
Trata-se de uma trama complexa que conta a história de três famílias em uma praia paradisíaca em um dia aparentemente perfeito de mar e sol e que prometia ser uma experiência inesquecível, mas logo descobrem que estão todos presos permanentemente ali entre os rochedos e não há saída.
A praia aos poucos revela um mistério perverso. Em cada minuto nela os personagens descobrem que estão envelhecendo. É uma reflexão interessante sobre envelhecimento, o medo iminente de morte, a revisão do que foi feito ou não durante a vida. Afinal os únicos fatores sobre o quais não temos controle são essencialmente o tempo e a morte.
O diretor tem uma carreira bastante irregular, cheia de acertos, mas com mais erros, principalmente pelo insistente vício de criar finais fantásticos que muitas vezes caem no ridículo. Mas sejamos justos, tecnicamente Shyamalan tem muitos méritos, sabe criar cenas de tensão, conduz um trabalho sonoro excepcional, além de ter um olhar sempre interessante para enquadramentos e filmagem, principalmente neste caso da filmagem em uma praia, um tipo de locação que dificulta muito o trabalho devido a todas as variáveis de luz que dependem quase que exclusivamente da própria natureza.
Infelizmente uma das falhas do filme é a direção pouco inspirada na atuação dos atores, que incluem nomes como Gael Garcia Bernal, Alex Wolff e a modelo Abbey Lee Kershaw, que não se destacam e soam pouco convincentes no horror que estão vivendo e a confusão mental que se espera da descoberta das ultimas horas de vida. O que, em um filme dessa natureza, seria vital para um maior envolvimento maior do público com a trama.
Pouco podemos falar sobre o longa sem estragar a surpresa da história, especialmente do terceiro ato do filme que pode ser considerado desastroso e é difícil falar de M.Night Shyamalan sem dividir opiniões. Nunca se sabe o que se esperar de alguém que dirigiu obras memoráveis como O Sexto Sentido, Corpo Fechado e o sucesso recente Fragmentado. Mas no meio disso estejam talvez os piores filmes já realizados na história do cinema como A Dama na Água, Sinais ou A Vila, além do fiasco O Último Mestre do Ar, no qual os próprios atores, se pudessem, apagariam dos seus currículos.
Nem um sucesso, nem desastre total, Tempo ao menos vale pelo visual deslumbrante e a sinopse perturbadora.