Por Luiz Henrique Costa
*alerta: o texto pode conter spoilers do primeiro filme
Em 2018, Um lugar Silencioso se tornou um sucesso estrondoso de público e crítica sendo considerado pelo American Film Institute como um dos dez melhores filmes do ano. Com orçamento relativamente baixo, o longa arrecadou cerca de 340 milhões de dólares em bilheteria ao nos apresentar à família Abbott tentando sobreviver em um mundo pós-apocalítico dominado por estranhas e ágeis criaturas que localizavam as suas vítimas através do som. Felizmente, as misteriosas criaturas não podiam ouvir nossos suspiros de espanto e mãos arranhando as poltronas através da tela do cinema porque foram muitos e ótimos sustos.
Em um mundo onde a regra de ouro é viver em absoluto silêncio, qualquer passo fora do caminho, qualquer graveto quebrando ou objeto caindo no chão é fatal.
Uma sinopse original e apavorante, somada ao constante clima de tensão do casal protagonista vividos por John Krasinki, também roteirista e diretor do filme, e Emily Blunt, às vésperas de dar a luz, que precisavam de atenção redobrada aos cuidados com os filhos se adaptando em um ambiente hostil sem poder gritar, brincar ou correr. Bem, na verdade correr muitas vezes não foi apenas necessário, mas essencial, não no sentido infantil do verbo.
Bem construído e com pitadas de drama, o filme ainda revelou uma grande surpresa em sua primeira versão que foi sem dúvida a intensidade de Regan (Millicent Simmonds) vivendo a filha mais velha do casal, uma jovem e muito talentosa atriz, surda desde os onze meses de vida e que foi peça chave para a sobrevivência da família, adaptada a uma rotina de comunicação através da linguagem de sinais, antes do apocalipse.
Se no primeiro longa pouco se explicava sobre a origem do caos e a invasão do mundo pelas criaturas, exceto que essencialmente haviam dizimado a humanidade, a ótima surpresa é que Um Lugar Silencioso II, que teve o lançamento adiado devido a pandemia, introduz a origem do enredo logo de cara e é tão bom quanto o primeiro filme. A cena inicial é composta por uma sequencia eletrizante de pura ação e adrenalina onde entendemos – e enxergamos – as misteriosas criaturas de audição apurada.
O filme é um tecnicamente impecável, com destaque para o design de som, ironicamente em um mundo onde o silêncio é uma palavra de ordem, e é essencialmente dividido em duas jornadas principais, uma com planos mais abertos e uma mais obscura e claustrofóbica em que a personagem de Emily Blunt tenta manter em segurança o bebê dentro de uma espécie de caixa acústica – um dos pontos altos do primeiro longa envolve a sequência em que a sua personagem entra em trabalho de parto em uma banheira.
Quem assina o figurino aqui é Kasia Walicka-Maimone, uma profissional experiente também responsável pelo ótimo trabalho em Moonrise Kingdom, de Wes Anderson. Kasia acerta em cheio nas escolhas de tecidos simples e silenciosos que garantem a agilidade e a total ausência de ruídos, tão valiosa aos personagens.
Eletrizante do início ao fim, Um Lugar Silencioso II merece ser visto com o som em sua potência máxima. Mas cuidado, não faça barulho.