O governo americano chocou o mundo com sua política tolerância zero em relação aos imigrantes, separando pais de seus filhos na fronteira (há 51 crianças brasileiras separadas dos pais depois de terem cruzado a fronteira entre o México e os Estados Unidos). A política foi obviamente criticada por outros governos e pela ONU, que comparou a prática a tortura, e os EUA voltaram atrás.
Além de organizações e ativistas, se tem alguém que pode fazer barulho e jogar luz na situação dos imigrantes é a classe artística. De estrelas como Ai Wei Wei a jovens artistas e ilustradores independentes, eles têm criado iniciativas para, cada um à sua maneira, colaborar com a causa.
Três artistas americanos criaram uma série de prints cuja renda total vai direto para a RAICES Family Reunification Bond Fund, iniciativa que trabalha para conectar as crianças aos seus pais. Clay Hickson, Liana Jegers e Allison Filice estão vendendo as obras através de seus sites por valores que vão de US$10 a US$35. Clay e Liana juntos criaram a revista mensal The Smudge com Liana em 2017, já em reação à vitória de Trump. É bem legal, vale checar.
O mais recente trabalho de Ai Wei Wei destaca a crise global envolvendo refugiados. The Law of the Journey, apresentada na Bienal de Sidney há menos de três meses, mostra um bote salva vidas de 60 metros com mais de 300 figuras amontoadas dentro. A obra, inteira preta, foi feita da mesma borracha dos botes e é uma clara referência às duras jornadas de milhares de refugiados. Em 2016, ele lançou três obras/instalações também inspirado pelo tema. Em uma delas, ele embrulhou uma sala de concertos de Berlim com 14 mil coletes salva vidas dos refugiados que conseguiram completar a viagem.
O artista mexicano baseado no Brooklyn Bosco Sodi, construiu uma instalação no Washington Square Park que imita um muro. A obra foi feita com material mexicano e por mãos mexicanas – ao final, ela foi transportada para Nova York fazendo a mesma rota que um imigrante ilegal pode fazer. Muitos dos que ajudaram a dar vida à obra já viveram ilegalmente nos EUA em algum momento de suas vidas. A ideia é que a instalação durasse apenas um dia: as pessoas que passavam pelo local eram encorajadas a desmanchar o muro, levando tijolos para casa.
Outra mexicana baseada em Nova York, Aliza Nisenbaum tem se dedicado a pintar retratos de imigrantes não documentados vindos do México e outros países da America Central – ela os conheceu quando atuava como voluntária ensinando inglês em um centro comunitário.
No Olvidado, deAndrea Bower, funciona como uma espécie de monumento para as pessoas que morreram tentando cruzar a fronteira México – EUA. A obra foi exposta na Documenta 14 e é, segundo o artista, um memorial ainda incompleto. “Muitas das pessoas que morreram tentando cruzar a fronteira ao longo dos anos nunca serão identificadas”. A lista dos imigrantes que consta na obra foi fornecida pela ONG Border Angels.
O artista mexicano Felipe Baeza foi do México para os EUA ainda criança, assim como muitas das crianças atualmente em centros de detenção. “Acredito que a arte tem um papel crucial em transformar, redefinir e repensar o fenômeno global da imigração”, diz o artista à i-D.
No final de 2015, Banksy revelou uma pintura de Steve Jobs com um saco de lixo numa mão e um computador original da Apple na outra, que gerou muita discussão sobre o fato de Jobs ser filho de um imigrante sírio que foi para os EUA após a Segunda Guerra. A obra chamada The Jungle tinha a intenção inicial de jogar luz no maus tratos sofridos pelas pessoas no campo de refugiados de Calais, na França. “Somos levados a acreditar que a migração é um dreno para os recursos dos países, mas Steve Jobs era filho de um imigrante sírio. A Apple é uma das empresas mais lucrativas do mundo – paga mais de US$ 7 bilhões de impostos por ano – e só existe porque permitiu um jovem homem de Homs entrar”, disse o artista em um raro comunicado. E se esse imigrante não tivesse conseguido entrar nos EUA?