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    Direto da FFWMAG: Entrevistamos Sean Baker, diretor de filme premiado feito com iPhone
    Direto da FFWMAG: Entrevistamos Sean Baker, diretor de filme premiado feito com iPhone
    POR Redação
    filme tangerine alta 2

    As (não) atrizes Kitana Rodriguez e Mya Taylor, personagens principais de “Tangerine”

    Por João Lourenço, em colaboração com a FFWMAG 41

    Janeiro é um mês bastante aguardado pelos cinéfilos americanos, é quando todo mundo assiste aos filmes indicados ao Oscar e os comenta. E é em janeiro também que acontece o festival independente mais disputado dos Estados Unidos, o Sundance Film Festival, criado pelo ator Robert Redford.

    A grande sensação do festival este ano foi Tangerine, filme que surpreende tanto pela narrativa quanto pela história“por trás das câmeras”. O longa foi inteiramente filmado com o iPhone 5S. O assunto pode não parecer novidade, afinal, cineastas como Jean-Luc Godard já utilizaram o smartphone da Apple na produção de filmes. Mas o caso de Tangerine é diferente. O diretor Sean Baker conta que não foi uma escolha artística. “Fiz o filme com o iPhone porque tínhamos pouco dinheiro.”

    Ao todo, foram utilizados três aparelhos nas filmagens. Com o auxílio do aplicativo Filmic Pro (US$ 8 na Apple Store), de lentes anamórficas e de um pequeno tripé para estabilização da imagem, Baker deu ar profissional para algo que poderia resultar amador. Na época, as lentes anamórficas desejadas pelo diretor ainda estavam em fase de produção. A empresa Moondog Labs decidiu apoiar Baker e enviou para ele os protótipos que já tinha em estoque. Hoje, as lentes são vendidas por US$ 175.

    Bugigangas tecnológicas à parte, Tangerine também chamou a atenção dos críticos pela narrativa engraçada, realista e original de personagens que vivem à margem da sociedade. Lembra um pouco as comédias trash de John Waters. O filme acompanha a vida de transexuais negras que trabalham em uma parte nada glamurosa de Hollywood. A ação tem início quando Sin-Dee (Kitana Kiki Rodriguez), após sair da cadeia, descobre que o namorado a está traindo com uma “mulher de verdade”.

    A narrativa de Tangerine acontece em West Hollywood, área de Los Angeles conhecida pela grande presença de transexuais, que fazem ponto nas esquinas movimentadas. “Eu moro há menos de um quilômetro daquela área e sempre escutava sobre as confusões que aconteciam por lá. Fiquei interessado na história daquelas pessoas e me perguntei: ‘Por que isso ainda não foi registrado por uma câmera?”

    O casting do filme foi feito no mesmo local onde a história se passa. O diretor misturou atores profissionais com transexuais que nunca tinham atuado. “Geralmente, o ator estreante leva um tempo para se acostumar com a câmera. Mas como o iPhone é um aparelho que já faz parte da cultura pop, as transexuais se adaptaram rápido, afinal, elas já utilizavam o aparelho para fazer selfies”.

    Baker teve a colaboração das transexuais para escrever o roteiro. “Elas chegavam com várias histórias, termos e gírias que eu nunca tinha ouvido antes. Tudo isso ajudou a acrescentar fluidez ao filme.” Além do roteiro, as atrizes ajudaram o diretor a pensar em uma nova linguagem visual. “Na hora da pós-produção, eu tento diminuir a intensidade das cores. Em Tangerine, fiz o contrário: saturei as cores ao extremo.” O resultado é um filme com as mesmas cores saturadas das produções dos anos 1980.

    Leia abaixo a entrevista com Sean Baker:

    Tangerine  , by Daniel Bergeron.

    Tangerine , by Daniel Bergeron.

    Jean-Luc Godard utilizou um iPhone para filmar algumas cenas de Adeus à Linguagem. No seu caso, o aparelho foi utilizado durante toda a filmagem de Tangerine. Como foi esse processo? 

    Não foi uma escolha artística. Eu fiz o filme no iPhone porque tínhamos pouco dinheiro. Tento aumentar o meu orçamento sempre que faço um novo longa, porém, desta vez não foi possível. Então, decidi explorar outras opções de câmera. Encontrei um canal no Vimeo que só tinha vídeos feitos pelo iPhone e fiquei impressionado com a qualidade das produções. Em seguida, descobri a Moondog Labs, uma empresa que desenvolveu um adaptador para as lentes do iPhone. Basicamente, essas lentes permitem filmar em uma extensão maior, ou seja, imagens amplas e bem definidas. Também utilizamos um aplicativo maravilhoso chamado Filmic Pro, que captura as imagens em uma taxa de compressão de alta qualidade, 24 quadros por segundo. Na pós-produção, adicionamos filtros e saturamos as cores. Resumindo, a ideia surgiu diante de uma resposta ao limite de orçamento, mas o resultado final foi muito melhor do que eu imaginava.

    Alguns diretores, como Woody Allen, defendem que o roteiro é o elemento que fala mais alto em um filme. Além de diretor, você é um cinéfilo assumido. Quanto tempo demorou para você se adaptar a essa nova mentalidade digital? 

    Cresci assistindo a filmes que foram feitos em celuloide. Não foi fácil me acostumar com o formato digital, especialmente quando se trata dos meus próprios filmes. Em Tangerine, aceitei que essa era única saída e fiz o melhor com o que tinha em mãos. Não gosto de pensar que vou ficar rotulado como o “diretor do iPhone”, pois, se isso acontecer, significa que a câmera falou mais alto do que o conteúdo.

    A área onde você filmou Tangerinefica perto de onde você mora, mas, até então, você não tinha tido contato com as transexuais que habitam e trabalham naquela região. Como você fez essa abordagem? 

    O casting de Tangerine foi feito nas ruas e isso não é tão simples quanto parece. Por exemplo, algumas transexuais se recusaram a falar comigo, pois pensaram que eu era um policial disfarçado. Nos meus filmes anteriores, passei por experiências parecidas. Desta vez, ter os DVDs dos filmes que já dirigi facilitou na hora da abordagem. Encontrei Mya Taylor [que vive a personagem central no filme] em um centro LGBT. Eu me aproximei dela porque ela tinha uma expressão diferente, algo que me cativou na hora. Quando expliquei sobre o projeto, ela demonstrou bastante entusiasmo. Trocamos informações e passamos a nos reunir semanalmente para discutir o projeto. Ela compartilhou diversas histórias sobre a luta dela e de outras amigas nas ruas de Los Angeles. Ela também me apresentou a algumas amigas, assim, o elenco principal de Tangerineestava fechado.

    Você explora o universo das transexuais negras. Quais eram as suas maiores preocupações em rodar um filme sobre essa subcultura?

    O filme fala de uma subcultura muito específica, quase um microcosmo. De certa forma, Tangerine também é um retrato daquela região de Santa Monica Boulevard, em Los Angeles. A ideia era representar com precisão os personagens que transitam naquele ambiente. Para mim, era essencial expressar no filme pelo menos dois aspectos daquele microcosmo. O primeiro aspecto é o humor que esses transexuais e profissionais do sexo utilizam para encarar o dia a dia. Seria desonesto não apresentar essa característica. E o segundo aspecto tem a ver com o sistema de apoio nessas comunidades. Geralmente, essas pessoas foram ignoradas pela sociedade e pela própria família, foram condenadas à marginalidade e, apesar de tudo, conseguem criar uma nova família entre si.

    Como o contato direto com as transexuais ajudou a moldar a sua visão sobre o assunto? 

    A luta das transexuais se tornou mais real para mim. Veja só, eu testemunhei em primeira mão as situações que elas lidam no dia a dia. A discriminação vai além do que imaginamos, e conduz ao desemprego, por exemplo. Tangerine foi filmado há mais de um ano, ou seja, houve um grande período de espera até que o filme fosse finalizado e chegasse ao circuito dos festivais. Nesse tempo, tentamos encontrar empregos temporários para as transexuais que trabalharam no filme, mas foi impossível. Uma das atrizes se candidatou a mais de 180 vagas de trabalho, nas mais diversas áreas, mas não conseguiu encontrar nenhum emprego.

    Em entrevista durante o Festival de Sundance, você disse que os atores não tiveram dificuldade para se acostumar com a câmera, pois todo mundo carregava o mesmo aparelho no bolso. Quais foram as outras surpresas que o iPhone te proporcionou? 

    Descobri logo de início que o tamanho do aparelho iria permitir que me locomovesse mais. Tive mais possibilidades na hora de escolher os ângulos. Seria difícil atingir a mesma flexibilidade se eu tivesse utilizado uma câmera tradicional. A maioria das cenas de Tangerine não foi filmada em um tripé. Muitas vezes, utilizei minha bicicleta para acompanhar os personagens: era uma mão no guidão e a outra na câmera. Isso acrescentou fluidez ao filme.

    Hoje, temos tablets, smartphones e Netflix. Há um catálogo infinito de filmes e séries a apenas um toque de distância. Em termos de consumo e produção, o que você espera ver no futuro? 

    De certa forma, a internet transformou o mundo em um lugar menor, mais unido. O consumo de entretenimento, por exemplo, está cada vez mais acessível, parece que tudo já está disponível. Ainda não sei como lidar com tudo isso. Às vezes, passo um tempo adicionando filmes a minha lista, comprando títulos importados, mas não tenho tempo de assistir a tudo. Isso acaba gerando uma ansiedade, mas já aceitei que não é possível acompanhar tudo ao mesmo tempo. No futuro, espero que a gente aprenda a lidar melhor com o nosso nível de atenção. Hoje, todo mundo sofre de déficit de atenção.

    A maioria da nova geração de fotógrafos e cineastas abandonou os moldes tradicionais da sala de aula. Eles defendem que não conseguem aprender “coisas reais dentro de uma instituição especializada. Optam por aprender no dia a dia, entre outros artistas. Você é um cineasta com formação acadêmica. Em termos de produção de imagens, seria a rua a melhor escola? 

    Percebo que jovens cineastas e fotógrafos aprendem assistindo a filmes, escutando comentários e lendo entrevistas de outros diretores e fotógrafos. Você não precisa fazer um curso de cinema para começar a trabalhar em um set de filmagem. Se tivesse que dar um conselho para quem está começando, eu sugeriria aprender cedo como cortar um filme. Aprender a editar vai te ensinar a como cobrir as cenas. E a edição também ajuda com o ritmo e o tom da filmagem.

    Matéria originalmente publicada na FFWMAG 41, já em bancas e livrarias selecionadas

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