A artista alemã Anne Imhof, 38, foi escolhida para representar seu país na Bienal de Veneza, que vai até 26.11. Ela apresenta o trabalho Fausto, uma performance diária que dura entre quatro e cinco horas e que fez com que o Pavilhão da Alemanha virasse o buzz da Bienal desde o início. Como já era esperado, Imhof foi premiada com o Leão de Ouro pela melhor contribuição nacional. “Meu trabalho representa a graça dos pensamentos, da liberdade, do direito de ser diferente, da não-conformidade de gênero e do orgulho de ser uma mulher neste mundo”, diz a artista.
Anne também chamou a atenção pois tem apenas 38 anos e expõe profissionalmente desde 2010, período curto para um artista conquistar não apenas um espaço de destaque, mas um prêmio dessa estatura. Seus recentes shows em Berlim e Basel destacaram sua originalidade e energia em um momento mais conformista no cenário artístico.
Fausto
A performance, que dura cerca de cinco horas, é encenada por dançarinos, amigos e assistentes de Anne Imhof e ganhou adjetivos como provocadora, empoderada e dark. Vestidos de preto, eles recebem os visitantes fazendo contato olho no olho enquanto dançam e se contorcem num ambiente que remete a uma prisão, um calabouço ou um hospital. Há muito espaço para improviso corporal, uma das características do trabalho de Imhof: os artistas são incentivados a adicionar seus próprios movimentos na coreografia, fazendo com que a performance viva em constante mudança e evolução. “É muito importante não fazermos o mesmo todos os dias. É uma discussão flexível e que pede naturalidade em vez deles se movimentarem apenas porque eu mandei”. O público é observado por seguranças femininas, jovens e bonitas, com dobermans. “Sua participação é uma instalação forte e perturbadora que levanta questões urgentes sobre nossos tempos”, Manuel Borja-Villel, curador espanhol e presidente do júri desta Bienal.
Eliza Douglas
O maior destaque das performances de Imhof é a americana Eliza Douglas, musa de Anne Imho Se você acompanha o trabalho de Demna Gvasalia, vai reconhecer Eliza, já que ela está em todos os desfiles da Vetements e da Balenciaga. Eliza também é artista e foi assistente de Anthony Hegarty. Recentemente, participou do clipe de Paradise como avatar de Anohni. Durante a temporada de Paris, ela entrou na lista das mais estilosas da The Cut, do New York Times.
As performances
Segundo a curadora Elke aus dem Moore, “Anne cria performances visualmente ricas com imagens densas e intensidade penetrante”.
Suas apresentações são bem físicas e compostas por gestos e movimentos coreografados ou improvisados. Os artistas têm liberdade de adicionar seus gestos emprestados do cotidiano, como saudações e flertes, numa desconstrução da dança convencional, livre de qualquer tradição. Suas figuras são descritas como individuais, peculiares e pós-gênero.
Performances de longa duração não são novas, mas Imhof criou um sistema complexo que ela desdobra trabalhando com códigos do nosso tempo, criando uma conexão também com o público jovem e seu comportamento. No show Angst II, Anne desconstrói movimentos como o andar de uma modelo na passarela ou um mosh de show.
Demna Crew
Não tem como falar sobre o “figurino” das performances. Na verdade, roupas comuns, do cotidiano, como calça jeans, camiseta lisa, tênis ou trajes esportivos, uma coisa normcore, mas que não esconde o interesse de Imhof por moda. Ela acompanha Eliza aos desfiles, é da turma de Demna Gvasalia, posta fotos do desfile da Balenciaga da primeira fila e estava usando um boné da marca quando recebeu o Leão de Ouro em Veneza.
Trajetória
Anne estudou Comunicação Visual no início dos anos 2000 e ganhou diversos prêmios enquanto estava na faculdade, como o vídeo Borboletas Privadas, que fez em 2003 em parceria com a fotógrafa Nadine Fraczkowski, que hoje fotografa todas as suas performances. Sua primeira mostra individual foi em 2013, em Frankfurt, mas começou a ganhar reconhecimento mais sério quando venceu o Prize for Young Art, da britânica National Gallery em 2015. Hoje vive entre Frankfurt e Paris e é representada pela galeria Izabela Bortolozzi, de Berlim.