Por Luísa Graça
Lina Scheynius teve o primeiro encontro com a fotografia no seu aniversário de 10 anos. Comemorando a data em casa, fotografou o bolo, os próprios pés e a sua melhor amiga sentada no vaso do banheiro. Curiosamente, são cenas essencialmente como essas que ela continua a retratar hoje, aos 35, como fotógrafa profissional – uma olhadela em momentos íntimos do dia-a-dia. Autorretratos e fotos de viagens, amigos e ex-namorados estão compiladas em 09, nono número de uma série de livros auto-publicados que a sueca lança em fevereiro.
“Eu não fotografo pensando que as imagens vão se tornar um livro. Vou fotografando até que, eventualmente, me dou conta de que é tempo de edita-las”, conta em entrevista ao FFW. “Eu estava me sentindo alegre e esperançosa na época em que editei esse livro, o que resultou numa coleção mais colorida do que as anteriores. Foi um retorno ao meu período inicial em que trabalhava mais espontaneamente, fotografando como quem escreve um diário”.
Em 64 páginas, imagens fotografadas entre 2013 e 2016 ostentam as características peculiares ao olhar da sueca: de autorretratos cândidos banhados em luz natural a pequenos detalhes casuais – as veias de uma flor, a casca bordô de uma ameixa, a ponta da língua. Sua estética delicada, íntima e um tanto nostálgica, adequou-se bem a um movimento fotográfico que ganhou força na moda nos últimos anos na visão de garotas como Petra Collins e Harley Weir.
Postando fotografias no Flickr no final dos anos 2000, Lina chamou a atenção de agentes e editores. Mesmo sem formação profissional na área, não demorou a começar a fotografar gente como Mariacarla Boscono, Jessica Stam e Charlotte Rampling para as revistas Dazed, AnOther e Vogue UK, entre outras. “Eu não imaginava que essa se tornaria minha profissão, mas fico feliz que tenha sido assim”, conta ela que tem entre suas maiores referências a japonesa Rinko Kawauchi e o sueco JH Engström. Passou a escolher os trabalhos de moda com mais cautela nos últimos dois anos para não comprometer sua visão artística. Admira, aliás, Juergen Teller e Viviane Sassen, justamente por fazerem trabalhos comerciais sem comprometimento. “Cada foto deles se parece com uma foto deles”, diz.
“O trabalho da Lina promulga intimidade. Suas fotos encontraram um caminho através da internet para o mundo da moda e, então, para o mundo da arte”, diz Simon Maurer, curador da Galeria Christophe Guye, que a representa em Zurique e exibe uma mostra de trabalhos da fotógrafa até abril. “A maioria dos seguidores dela são jovens mulheres. Scheynius parece ter aberto um caminho para que essas meninas enxergassem a elas mesmas. Justo ela, tão tímida, se revelou ao compartilhar seu lado mais pessoal com o mundo”.
Quando é sua vez de definir o próprio trabalho, Lina deixa cada um enxergar essa intimidade como bem quiser. “Eu espero que as pessoas encontrem algo significativo nessas fotos, sem que eu as diga o que sentir. Prefiro dar a elas espaço para explorar por si mesmas”.
Mais sobre Lina e o livro 09 aqui: www.linascheynius.com
Lina Scheynius Exhibition 04
26/01 – 15/04/2017 @ CHRISTOPHE GUYE GALERIE, Zurique
https://christopheguye.com