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    Winter Conta Sobre Novo Single em Entrevista Exclusiva ao FFW

    Por Isadora Almeida

    Winter, projeto musical da curitibana Samira Winter, radicada nos Estados Unidos há dez anos, ganha voos mais altos e seguros a cada lançamento. Hoje (24.03) ela lança o novo single “All I Know”, que conta com a participação do músico e produtor Jorge Elbrecht. A música vem como um anúncio de que com Winter o melhor sempre está por vir.

    Até o momento, a jovem adulta de 29 anos lançou quatro trabalhos: Supreme Blue Dream (2015), Ethereality (2018), Estrela Mágica (2018) e Endless Space (Between You & I) (2020). Logo de cara os títulos já entregam o universo doce, sonhador e astral em que essas composições e compositora habitam. O instrumental é uma explosão cósmica de guitarras e os vocais delicados que a todo momento flertam com os gêneros dream pop, indie rock, e que na linha do tempo musical de Winter miram no shoegaze como mostram os singles “Violet Blue” e o recém lançado: “All I Know”.

    Ao longo da carreira, a artista vem mesclando faixas em inglês e português nos trabalhos, mas é em Endless Space (Between You & I) (2020) que ela encontra o equilíbrio perfeito entre as línguas. Com apenas duas faixas cantadas em português, do total de onze, o papel de despertar o interesse de ouvintes que não falam português é feito com sucesso. Uma delas é “Bem No Fundo”, um dueto com Dinho Almeida, vocalista da Boogarins, a banda mais internacional do cenário independente brasileiro no momento. Por ter as duas línguas presentes em sua vida desde sempre, já que a mãe de Samira é brasileira e o pai estadunidense, trabalhar com elas acaba sendo um atrativo e diferencial que a ajuda. Turnês pelo Brasil, Argentina, Estados Unidos e Europa estão no currículo da cantora que já tocou em festivais como o importante Desert Daze e Animal Collective Camping Weekend (festival com curadoria da banda Animal Collective). 


    A FFW conversou com a Samira, que direto de Echo Park, em Los Angeles, contou um pouco sobre sua trajetória musical, sinestesia, moda e astrologia. As fotos da matéria são de Angel Aura e tiveram como cenário o “Secret Garden” em L.A. – nome que as duas dão ao jardim que fica na casa da fotógrafa.

    Como e quando você começou na aventura musical?

    Faz 10 anos que eu estou nos Estados Unidos. Eu comecei a compor com 12 anos, tive professor de canto e violão e quando era adolescente fiz parte de bandas de cover em Curitiba. Tive uma banda de folk, naquela época que tinha umas bandas de folk aparecendo, sabe? Mas eu considero o começo da Winter quando eu fui pra faculdade, foi no último ano. Eu estudei jornalismo e comecei no último ano esse projeto, e a partir disso gravei 4 discos, fiz 3 turnês no Brasil, fui pra Europa, Argentina e também fiz turnês nos Estados Unidos. As coisas foram acontecendo assim.

    A pandemia está sendo um momento muito difícil, mas interessante para alguns músicos que puderam usar esse tempo em casa para criar e tentar novos formatos. Como a pandemia influenciou na sua produção e processo criativo?

    Eu acho interessante lançar música na pandemia, porque não dá pra fazer shows que geralmente é como as coisas acontecem. Sei lá… eu acho que, ao mesmo tempo, dá para se conectar com as pessoas de uma forma global lançando música. O disco que eu lancei ano passado foi perfeito nesse sentido, é louco porque até minha relação com ele foi uma relação aconchegante, sabe? É um disco íntimo de uma maneira e foi muito bom ouvi-lo durante esses momentos de isolamento. A produção é maximalista, tem muita coisa acontecendo. É um mundo criado do etéreo, fadas, rolam muitos arpejos, e é um tipo de disco bom pra você ouvir nos fones de ouvido. A gente fez muitos momentos de stereo, colocamos vozes sutis, então teve esse sentimento de ser um conforto ouvir o disco na pandemia. Ele é muito nostálgico e eu sempre tive isso de gostar da nostalgia e sinto que hoje em dia tá bombando esse sentimento.

    “Eu sou obcecada por cores. Quando eu faço arte, eu tento explorar todos os sentidos. “



    Sua música é muito visual, dá pra sentir as cores, são camadas sonoras que parecem flutuar, algo como uma dança de sentimentos. Fico curiosa para saber como a música brasileira se reflete no seu trabalho. 

    Eu cresci muito obcecada por trilha sonora de filmes, por ver MTV, então minha experiência com música é muito visual… quando eu crio, eu imagino. Eu amo cinema demais. Ano passado eu comecei a pintar, então tô interessada nesse aspecto de sinestesia, sabe? É muito minha pira, eu acho que a arte é, na verdade, uma expressão da natureza, e acaba sendo uma imitação da vida. Pra mim, a minha experiência com arte é muito sensorial. Eu sou obcecada por cores. Quando eu faço arte, eu tento explorar todos os sentidos. A música brasileira tem essa coisa, é uma cultura sensorial, então eu gosto de trazer isso com o que eu faço. Minha relação com música brasileira é meio romantizada talvez por eu morar aqui, sabe? Tem um romance nisso e eu curto um romance, parece que quando eu escuto, eu me sinto em casa. Falar “saudade” é meio clichê, mas tem um porquê. Música é minha melhor amiga. Especialmente quando eu estou sozinha eu gosto de ouvir. E a música brasileira acho que é uma linguagem bem emocional. Eu logicamente preciso conhecer muito mais, mas tento ficar por dentro do que está rolando e fico sempre procurando. 

    Samira Winter para divulgação do single All I Know

    Winter para divulgação do single All I Know. fotos: Angel Aura

    Acho que ficam muito claras as referências que você traz, principalmente nos trabalhos mais recentes. São nomes como Melody’s Echo Chamber, Broadcast, Cocteau Twins e até mesmo My Bloody Valentine. Todos esses nomes trazem mulheres em destaque nos projetos. Como você vê a feminilidade na música? E como você traz essa força em um estilo musical que é marcado pela sutileza? 

    Eu me inspiro muito na Gal Costa pensando na voz, pela sutileza e pelo sorriso cantado, mas eu acho que tô entendendo que meu projeto é uma extensão de quem eu sou, é um mundo que eu posso acessar, sabe? E pra mulher, muito do nosso poder eu sinto que é interno, uma criatividade interna. Eu sempre curti guitarra elétrica e nunca me considerei uma cantora, era mais compositora e só agora me considero uma produtora. Sendo mulher nesse meio, às vezes a gente se considera uma cantora e é isso. O universo da Winter é supersonhador e eu comecei a acessá-lo por meio das minhas pinturas, eu amo esse universo das memórias, sonhos e do cinema surrealista. Tenho muito pra explorar, acho que essas coisas vêm com a idade também, mas espero explorar minha linguagem artística e cada vez mais interessada em fazer música que só eu poderia fazer. Quando eu comecei, era mais uma vibe de querer tocar numa banda, mas acho que agora eu tô querendo fazer uma produção mais experimental. Eu me sinto meio Alice, sabe? Mas gosto da ideia de que mulheres são muito criativas. Realmente espero que tenha mais mulheres compondo, tocando bateria, baixo, no palco ou atrás dele. Infelizmente é ainda um universo muito masculino.

    “Realmente espero que tenha mais mulheres compondo, tocando bateria, baixo, no palco ou atrás dele. Infelizmente é ainda um universo muito masculino.”

    All I know”, seu novo single, tem participação do Jorge Elbrecht. Me conta como aconteceu a ideia dessa faixa e todo o processo até aqui.

    O Jorge é um produtor que eu conheci em turnê ano passado, ele conhecia meu guitarrista e veio assistir a um show nosso. Ele produziu bastante gente que eu curto. Nós dois somos taurinos e nos demos muito bem, aí ele me convidou pra ir pra Denver pra gente trabalhar em algumas músicas. Eu fiz umas demos pra ele ouvir e ele ouviu a “Violet Blue”, em um dia fizemos nossa química e deu muito certo. E “All I Know” escrevemos juntos no dia seguinte, foi uma vibe muito boa. Foi super legal porque ele trabalha com produção faz muito tempo e consegui aprender com ele. Eu tô sempre na busca de um som mais shoegaze e acho que essas duas que fiz com ele foram as mais shoegaze. Eu quero sempre estar adiantando a conversa, sabe? Não quero só reproduzir coisas que já existem. E outro ponto legal nesse período de quarentena foi que deu mais liberdade de lançar músicas de maneiras diferentes, fazer uma colaboração, ir lançando singles soltos, o que você quiser.

    A maioria dos seus looks são coloridos. Toda a identidade visual que você traz nos seus trabalhos contempla uma paleta de cores diversa, mas sempre trazendo tons pastel, glitter. Como você se relaciona com a moda? Como ela influencia o seu trabalho?

    Nossa, tudo! Cor do cabelo, roupa, tudo muda dependendo de como eu tô me sentindo. Eu sinto que é muito importante me expressar com moda, já que sou artista. Um dos meus propósitos é inspirar e ser inspirada, e eu acho que é uma forma de se expressar muito empoderadora. Até que quando eu vou pintar eu penso nas cores, adoro brincar com isso, já que tem dias que to em uma vibe dark, mas depois de uns dias isso muda. É tipo assim: “hoje eu vou usar uma roupa mais séria” e monto esse look que eu me sinta assim. Eu acho isso muito bom, sabe? Poder ser livre pra mudar e experimentar de acordo com o que você tá sentimento naquele momento.

    E como é a sua relação com marcas? Tem alguma favorita? Ou gosta de brechós, talvez fazer suas próprias roupas? 

    Eu queria muito fazer roupas pra usar, mas confesso que não sei como fazer isso. Eu ando mais numa vibe de comprar em brechó. Aqui em Los Angeles, por causa da covid, tem muita gente colocando coisa pra vender, sabe? Rolam até essas vendas no jardim das pessoas. Pra fazer essas fotos de divulgação do single, eu fui no brechó escolher algumas coisas e tinha muita coisa boa. Tá bem legal de achar peças bonitas. 

    O novo single sai pelo Bar None Records, cultuado selo de New Jersey, que tem no catálogo nomes como Yo La Tengo e Of Montreal, e ainda conta com a distribuição da incrível Secreatly Canadian.

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