10 Mulheres que mudaram a moda
Selecionamos 10 nomes que foram importantes para construir a história da moda como conhecemos hoje.
10 Mulheres que mudaram a moda
Selecionamos 10 nomes que foram importantes para construir a história da moda como conhecemos hoje.
Apesar de serem a força motriz da moda – dominando o mercado consumidor e a base da cadeia produtiva –, as mulheres seguem pouco representadas nos espaços de poder. Os cargos de liderança e decisão ainda pertencem, majoritariamente, aos homens. Como já apontamos em novembro passado, 77% dessas posições são ocupadas por homens brancos, seguidos por mulheres brancas (17%), homens negros (4%) e mulheres negras, que representam apenas 2%. Olhar para o passado torna esse cenário ainda mais desigual.
Ainda assim, algumas mulheres fizeram de sua trajetória uma ferramenta de mudança, abrindo caminho para um cenário mais justo e inspirando outras mulheres a seguirem seus passos. Logo a baixo, destacamos algumas dessas figuras que, ao lado de tantas outras, seguem ressignificando a indústria – tornando-a um espaço mais humano, potente e, acima de tudo, cheio de possibilidades.
Zuzu Angel
Zuzu Angel foi uma das poucas criadoras de moda que romperam barreiras e marcaram a história do Brasil. Preferia se chamar de costureira, mas sua obra ia além da técnica: misturava brasilidade, materiais inusitados e moda como ato político. Nascida em Minas Gerais em 1921, mas foi Rio de Janeiro onde começou a costurar para ajudar em casa. Com o tempo, abriu sua loja em Ipanema, conquistando nomes como Liza Minnelli e Joan Crawford. Tecidos de colchão, chita, seda e renda compunham suas criações, que traziam frescor à moda brasileira. Nos anos 1970, já era um fenômeno, mas sua vida mudou quando seu filho Stuart desapareceu na ditadura. Em resposta, fez um desfile-protesto em Nova York, bordando anjos chorando e militares disfarçados de palhaços. No final, trocou o vestido de noiva pelo de luto, em uma das manifestações mais marcantes da moda. Em 1976, foi assassinada em um atentado disfarçado de acidente. Só 44 anos depois, seu assassinato foi reconhecido pela justiça. Hoje, sua história segue inspirando a luta por democracia e liberdade.
Regina Guerreiro
A editora de moda Regina Guerreiro passou por Elle, Vogue, Manequim e Claudia fez história ao imprimir personalidade nos veículos de moda onde foi editora, marcando uma era no jornalismo. Paulistana, formou-se em Jornalismo pela Cásper Líbero, mas encontrou seu caminho na construção de editoriais de moda criando algumas das imagens que entraram para a história pelo caráter artístico, subvertendo o tom comercial das revistas da época. Na escrita, brilhava ao brincar com as palavras para descrever coleções. Conhecida pela língua afiada, suas críticas eram aguardadas com certa apreensão: podiam desestabilizar ou alavancar carreiras. Recentemente foi homenageada com uma exposição no São Paulo Fashion Week que registrou sua trajetória desde quando tudo ainda era mato na moda brasileira.
Elsa Schiaparelli
Se existe uma mulher que levou a moda para o território da arte, essa é Elsa Schiaparelli. Nascida na Itália em 1890, cresceu em um ambiente intelectual, mas escolheu um caminho próprio, distante dos padrões da época. Após uma breve passagem pela literatura e pela revista Dada Société Anonyme, foi incentivada por Paul Poiret a explorar o design de moda. Sem formação em costura, criou peças intuitivamente, moldando tecidos de forma espontânea. Em 1927, revolucionou com um conjunto de tricô usando a técnica de Trompe-l’oeil e explorando a ilusão de ótica na moda. O sucesso abriu caminho para sua loja, Schiaparelli – Pour le Sport, que evoluiu para um ateliê na Place Vendôme, em Paris, consolidando sua legado inovador.
Miuccia Prada
Miuccia Prada redefiniu a moda ao transformar um tradicional negócio de couro em uma das marcas de moda mais influentes do mundo. Além de designer de ponta, consolidou-se como uma empresária de sucesso. Nascida em 1949, enfrentou o machismo dentro da própria família até assumir a direção da Prada em 1978. Sua abordagem inovadora trouxe questionamentos sobre estética e poder, refletindo o papel da mulher contemporânea – não só na Prada, mas também na Miu Miu. Em 1979, substituiu o couro pelo nylon em bolsas e mochilas, inovação que explodiu nos anos 1990. Foi nessa época que criou o conceito de “ugly chic”, ressignificando o que é visto como belo na moda. Além do setor fashion, Miuccia criou a Fondazione Prada, consolidando-se como uma das maiores provocadoras da moda e da cultura.
Coco Chanel
Pode parecer ousadia dizer que Coco Chanel foi pioneira quando o assunto é androginia no guarda-roupa feminino, mas, ao olhar para o passado, quando ela vestiu roupas masculinas e as adaptou para o corpo feminino, esse ponto se torna claro. Nascida em 1883, em Saumur, na França, Chanel cresceu em um abrigo, onde aprendeu a costurar. Já adulta, começou a fazer chapéus e conquistou clientes fiéis. Com a ajuda de seu namorado, o industrial Boy Capel, foi expandindo seu império. Primeiro, trouxe calças compridas para as mulheres, depois o tailleur de tweed e, em seguida, visuais náuticos que combinavam austeridade e elegância na medida certa — sem falar na normalização do uso do vestido preto. Como toda maison de sua época, sua melhor jogada foi a criação de uma fragrância para chamar de sua: Chanel Nº 5 nasceu, levando a marca ao estrelato mundial junto de toda a sua história.
Donyale Luna
Na décade de 1960, Donyale Luna foi a primeira modelo negra a ser capa de uma revista de moda nos Estados Unidos. Sua aparição derrubou barreiras para outras mulheres negras. Pense em ser a primeira modelo negra na capa da Harper’s Bazaar em quase 100 anos de publicação, a primeira na capa da Vogue, ou até mesmo estrelar filmes de Andy Warhol e Federico Fellini. Nem mesmo as passarelas a perderam de vista, fazendo dela a estrela de Paco Rabanne. Mas não pense que uma trajetória tão brilhante veio sem desafios. Em meio às conquistas, enfrentou a retaliação de uma sociedade preconceituosa. Quando estampou capas de revistas, anunciantes ameaçaram retirar investimentos, e leitores cogitaram cancelar assinaturas. Ainda assim, ela não se intimidou, continuando a ser requisitada em desfiles de alta-costura, clicada por ícones da fotografia e inspirando outras mulheres como ela, até sua morte em 1979.
Lea T.
Reconhecida mundialmente por se tornar garota propaganda da Givenchy na era de ouro de Riccardo Tisci, a brasileira Lea T. deu um chacoalhão na indústria da moda quando surgiu no início da década de 2010. Filha do jogador da seleção brasileira Toninho Cerezo, ela deixou o Brasil na adolescência e foi para a Itália para terminar seus estudos. Foi lá que conheceu seu amigo e mentor Riccardo Tisci, que a ajudou a conseguir trabalhos e a seguir sua verdade. Em um perfil para a Vanity Fair italiana, ela contou que, para juntar dinheiro para as cirurgias, trabalhou como assistente pessoal, modelo e stylist ao lado de Tisci. Aos poucos, foi ganhando mais espaço e mais trabalhos, estampando capas de importantes revistas e considerada a primeira supermodelo transsexual do mundo pelo jornal The Guardian. Hoje, mais afastada dos holofotes, raramente estrela campanhas, com a última sendo para Donna Karan, em fevereiro deste ano. Seu foco tem sido levar uma vida discreta e se engajar em causas socioambientais.
Bethann Hardison
Durante a Batalha de Versalhes, muitos nomes saíram vitoriosos, tornando-se eternos nas páginas da história. Mas engana-se quem pensa que apenas designers triunfaram. A modelo estadunidense Bethann Hardison ganhou notoriedade por sua presença no desfile de Stephen Burrows, fazendo com que seu nome se tornasse mais conhecido. Descoberta pelo designer Willi Smith em 1967, ela foi conquistando espaço aos poucos em outras grandes marcas. Por entender que era minoria em uma indústria que valorizava corpos brancos, decidiu, nos anos 1980, abrir sua própria agência para mapear e oferecer modelos negras ao mercado, buscando diversificar a indústria. Assim surgiu a Bethann Management Agency, responsável por lançar Tyra Banks e Naomi Campbell. O impacto foi enorme, e entre seus feitos, destaca-se sua contribuição na primeira edição da Vogue Itália que apresentou apenas modelos negras, em 2008. Sua história e legado foram eternizados no documentário Invisible Beauty, que teve sua estreia no Festival de Cinema de Sundance, em 2023.
Gisele Bundchen
Existem supermodelos, e existe a übermodel Gisele Bündchen. Essa frase, dita pela imprensa inglesa, define bem o fenômeno Bündchen, que, desde que surgiu nos anos 90 e ainda continua a ser um dos rostos mais conhecidos da moda. Durante um passeio no shopping quando tinha 14 anos, Gisele foi descoberta por um olheiro que percebeu que ela tinha tudo para ser uma new face que mudaria o rumo da indústria – e ele estava certo. No início foi difícil para ela entrar em castings de grandes marcas, mas, com a perseverança da equipe, da família e da própria top, ela conseguiu ser notada por Alexander McQueen e acabou sendoa estrela de seu desfile de verão 1998, onde apareceu com maquiagem escorrendo, como se estivesse chorando, dando um ar dramático ao seu look. No ano seguinte, foi escolhida por Anna Wintour para ser capa da Vogue americana, tornando-se o símbolo do retorno das modelos sensuais e marcando o fim da era heroin chic. A partir daí, estrelou centenas de campanhas e capas, atuou em filmes como “Taxi” e “O Diabo Veste Prada” além de se dedicar a promover pautas relacionadas ao meio ambiente e sustentabilidade.
Path McGrath
Pat McGrath revolucionou a maquiagem e a moda com sua visão ousada e criativa. Nascida no interior da Inglaterra, foi influenciada pela mãe costureira e iniciou sua jornada sem estudo formal. Mudou-se para Londres nos anos 80, onde se conectou com os ainda emergentes Alexander McQueen e John Galliano para quem assinou belezas que ainda estão no imaginário da moda. Sua parceria com o fotógrafo Steven Meisel gerou algumas das imagens mais icônicas da moda. Lembra da capa de Linda Evangelista na Vogue Itália numa clínica estética? Eles quem fizeram. Famosa por sua abordagem criativa e dramática, também popularizou a maquiagem clean e luminosa. Seu trabalho mais recente, a maquiagem do desfile de Maison Margiela Artisanal de Verão 2024, com modelos de rosto em aspecto de porcelana, surpreendeu a todos e conquistou até quem ainda não conhecia seu trabalho. Hoje, a maquiadora e empresária tem sua linha de maquiagem Pat McGrath Labs e acaba de ser anunciada diretora criativa da nova linha de beleza da Louis Vuitton.