Antonio Frajado revela detalhes de como foi todo o processo de vestir Fernanda Torres
De celebridade nacional até a ascensão global conquistada no Golden Globes e Oscar.
Antonio Frajado revela detalhes de como foi todo o processo de vestir Fernanda Torres
De celebridade nacional até a ascensão global conquistada no Golden Globes e Oscar.
Quem conhece o Antonio Frajado sabe que ele possui um humor bem particular, onde pelo tom da voz você já entende qual o mood – que invariavelmente é bom, com uma série de tiradas e um humor ácido. Depois de alguns dias e trocas de DM, stickers e lembretes de que queria entrevistá-lo pós-Oscar, conseguimos sincronizar as rotinas, ou quase.
Antonio Frajado é stylist, mas entrou nos holofotes por conta de uma cliente cuja relação não é nem um pouco recente, ela mesma, Fernanda Torres. A troca criativa, que teve uma guinada com a campanha internacional de “Ainda Estou Aqui”, foi escalonando a passos largos, enquanto gradualmente suas horas de sono foram minguando. O resultado: assim como grandes estrelas que possuem contratos milionários com marcas internacionais, Fernanda também conseguiu esse feito, ao escolher – e ser escolhida – pela Chanel. E o resto é história…
Se recuperando de toda a adrenalina, ansiedade e mix de sentimentos culminados no último domingo (02.02), noite do Oscar, Antonio me contou sobre quase tudo dessa montanha russa que foi materializar essa olimpíadas de looks, criar imagens – muitas vezes a distância – e de assinar o estilo de uma das figuras mais cativantes do show business nacional e, agora, global. Tudo respondido entre o fim de uma diária até a chegada de sua casa. Algo que já revela muito dele, que consegue ser essa antena e ter o poder da onipresença. Um ótimo malabarista.
Como se sente diante de toda essa dimensão que seu trabalho foi tomando?
Quando eu olho para essa experiência, por mais linda que tenha sido e por mais bem executada que eu tenha feito, eu não consigo ficar tranquilo e achar que está ali a grande solução de toda a minha vida, que a partir disso vai ser uma eternamente ascendente, que eu vou brilhar feito uma estrela.
Em números, quantos looks foram produzidos ao longo de toda a temporada de divulgação?
Tenho medo de contar e ser assim, tipo 25 [risos]. Não sei, eu não contei. Obviamente, eu também acho que não foram apenas 25, mas a sensação que eu tenho é que eu, sei lá, produzi 60 looks, tem muita coisa que ninguém viu também. Muitos Q&A’s que são aquelas perguntas e respostas e vários screenings, que assim, não teve uma foto.
Qual o maior desafio de estar no Brasil e ter que produzir Fernanda no Globo de Ouro?
Ah, foi horrível, não vou enganar, porque eu não estava preparado para aquilo, a verdade é essa, eu não estava preparado para aquela nomeação, acho que nem ela estava. E daí, quando saiu, que foi no início de dezembro, eu me dei conta que eu não tinha reservado nada para aquele momento.
Então, tipo, ter um custom made tava fora de cogitação. Completamente fora de cogitação, e daí a gente começou a levantar opções e tudo isso à distância, e tudo isso numa raça enorme, e daí a equipe que foi aumentando e todo mundo produzindo todos os dias, a equipe em Paris, a equipe em Los Angeles, a equipe aqui no Brasil, A Maria Cecília, a Alexia [Niedzielski], fizemos uma força tarefa… Era dia 20 de dezembro, praticamente natal, os escritórios já estavam todos fechados, você não conseguia falar com uma viva alma.
Aí que entra o Olivier Theyskens, né?
Sim! O grupo de WhatsApp, comigo, Alexa e Theyskens foi criado no dia 28 de dezembro, juro! Ele chegou lá [Los Angeles] no dia 3 de janeiro foi muito insano, muito insano. Eu tinha certeza assim absoluta que seria aquele assim desde o início.
Quem é Olivier Theyskens, o designer belga que vestiu Fernanda Torres no Globo de Ouro.
Então quando o vestido voou dia 1º de Janeiro de Paris, eu lembro que eu estava decolando para ir encontrar a Fernanda num desespero, pois não tinha nem o tracking dele ainda. Apenas sabia que ele tinha saído de Paris, eu não tinha nenhuma outra informação. Desembarquei às 9, a prova era meio dia, o vestido chegou às 11:30. Sério!
E aí pós-Golden Globes?
No dia seguinte da vitória, eu tinha um e-mail já de todo mundo que tinha negado looks, voltando atrás e se colocando disponível. De certa forma eu entendo porque imagina, a gente sabe do talento da Fernanda e nós brasileiros, já tínhamos visto o filme, a gente já tinha noção do tamanho que era aquilo, mas lá fora, internacionalmente, ainda estava baby steps. Depois do Golden Globes, tinha crítica até no New York Times, então tudo mudou! Imagina que até então eu escrevia uma bio da Nanda para apresentá-la às marcas.
Foi a Dorothy chegando pela estrada dourada em Oz [risos]. A Nanda é um fenômeno do carisma, né? Você leva a Fernanda numa prova de roupa, ela conquista o ateliê inteiro. Ela é arrebatadora. Então, junta isso com o talento dela, é imbatível, imbatível. Quando me elogiam ‘nossa, que trabalho lindo que você fez’, eu sempre respondo: ‘é que eu tinha um bom material na mão’. É fácil trabalhar com a Fernanda, né? Porque ela trabalha junto. Ela vem, ela trabalha, ela entende o que ela precisa fazer e o jogo que ela tá jogando. Ela é parceira, ela joga junto contigo. Então, mudou isso e com toda essa força da Fernanda, a gente conquistou o mundo, então foi muito legal.
Phoebe Philo, The Row, McQueen… vocês usaram muitas marcas internacionais, mas notamos que havia sempre um toque brasileiro por conta das joias assinadas por designers nacionais. Foi proposital?
Confesso que foi pela praticidade! O brinco do Ara Vartanian eu levei na minha mochila, era fácil de fazer também por conta da logística. Tudo foi pela praticidade, Fernando Jorge tem escritório em Los Angeles, a Sauer loja em Nova York. Essas grandes joalherias possuem acordos comerciais com as atrizes, então não tinha sentido também eu propor isso.
Como foi o processo com a Chanel?
Ela [Fernanda] foi convidada para assistir ao desfile de alta-costura da Chanel em janeiro. A gente já tinha conversas abertas sobre o Oscar com outras marcas para o desenvolvimento de um vestido. Assim que o desfile acabou nos falamos, ela já estava com um modelo em mente, eu acompanhando em tempo real pelo app que revelava os looks, também. Quando enviei ficamos chocados com a simbiose que alcançamos [risos]. Mandei a escolha para a Maria Fernanda, PR da Chanel no Brasil, e foi iniciado o processo. O curioso é que diferente de outros momentos, onde tinha apenas um desenho, já tínhamos o vestido pronto, era fácil visualizar, entender. E, para fechar, mesmo sendo uma peça desfilada por uma modelo com as medidas de uma modelo, quando a Nanda vestiu caiu como uma luva. O vestido ‘acendeu’ ela, quem é stylist vai entender a sensação… Foi mágico”.
E, por fim, a Cláudia Kopke me disse que foi quem apresentou você a Fernanda. Como foi isso? Foi meio amor à primeira vista?
Foi Cláudia que me apresentou, era um trabalho que seria dela e ela me passou. E daí eu conheci a Nanda e foi louco, foi uma prova de roupa que durou 20 minutos, 15 minutos. A gente aprovou um look e foi, tá pronta, foi. Como ela tem essa objetividade, eu acho que o amor à primeira vista se deu a praticidade… É um encanto para uma pessoa que gosta de ser assim e trabalhar assim [risos].