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    Como Brigitte Bardot tornou Búzios um destino jet set anos 60

    A atriz vivia o auge de sua carreira e buscava escapar dos holofotes. No pequeno vilarejo, encontrou seu paraíso secreto, que acabou marcando a história.

    Como Brigitte Bardot tornou Búzios um destino jet set anos 60

    A atriz vivia o auge de sua carreira e buscava escapar dos holofotes. No pequeno vilarejo, encontrou seu paraíso secreto, que acabou marcando a história.

    POR Gabriel Fusari

    Aos 29 anos, Brigitte Bardot estava exausta. Com O Desprezo (1963) de Jean Luc Godard  no cinema e após terminar as gravações de As Malícias do Amor (1964), Bardot era constantemente assediada pela imprensa. Ao ponto de ela armar barraco com jornalistas em Capri e fugir de paparazzo em Londres e Paris como se sua vida dependesse disso.  Em conversa com amigos, ela contava sobre seu descontentamento e como gostaria de encontrar algum lugar onde pudesse se despir de sua fama e ter momentos de tranquilidade. Escutando isso, Wallinho Simonsen, dono da TV Excelsior e da PanAm Brasil (empresa de aviação), convidou Bardot e seu namorado, o jogador de basquete marroquino-brasileiro Bob Zagury, que atuava pelo Flamengo, para visitar o Brasil. Para facilitar, ele se comprometeu a pagar as passagens do casal e a ajudar a mantê-los disfarçados para evitar serem encontrados.

    Apesar do ato de bondade, ele tinha um fundinho de interesse. O mundo vivia o ápice do clima da Bardot Mania e ele queria monopolizar a chegada da atriz em seu canal de TV.  Para isso, Wallinho organizou uma força-tarefa, mobilizando equipes em pontos estratégicos. Mesmo com Bardot usando uma peruca morena e a informação sendo mantida em sigilo, a notícia vazou para toda a imprensa. Quando ela chegou ao Rio, no dia 10 de janeiro de 1964, cerca de quinhentas pessoas invadiram a pista de pouso, deixando-a tão desesperada que ela fugiu do aeroporto sem passar pela alfândega ou imigração. Ela passou dias no hotel sem saber o que fazer, até que decidiu organizar uma coletiva de imprensa no Copacabana Palace. Lá, prometeu conceder uma entrevista à mídia e oferecer fotos exclusivas de sua passagem pelo Brasil apenas para os veículos nacionais — com exceção do Paris Match —, desde que a deixassem em paz para aproveitar sua estadia no país. Dito e feito, ela partiu em um furgão rumo ao seu paraíso secreto. 

    Paraíso secreto

    Em 1964, Búzios era um pequeno vilarejo de pescadores que pertencia a cidade de Cabo Frio. Não havia telefone, água encanada, isso sem falar de energia elétrica. As casas eram simples, separadas por ruas não asfaltadas que de noite desapareciam na penumbra. Apesar disso, as praias eram lindas e a população se satisfazia com os dois bares que os divertiam no tempo de lazer. Tranquilidade era sinônimo de cidade que ainda não tinha hoteis, restaurantes e grande fluxo de pessoas. 

    Esse era o destino perfeito para Bardot que ficou numa casa que destoava um pouco da realidade humilde de outras residências. Alojada na casa de André Moura Sieff, representante da ONU no Brasil, bem na praia de Manguinhos, era uma edificação em arquitetura colonial, muros altos, portão e janelas verdes e paredes brancas.  Quando ela chegou de furgão no dia 13, já fez questão de conhecer a praia e dar voltinhas de fusca vermelho. As pessoas da localidade não sabiam bem quem era ela, mas tinham uma certa noção. 

     

    Se Búzios falasse…

    Ela era muito querida e simpática com os moradores do distrito. Eles a descreviam como “Uma donazinha, com olhos dest’-amanho numa carinha de sagui”. Por entender as preocupações dela, eles a protegeram do assédio da imprensa e de curiosos, agindo como informantes e espiões. Quando chegava alguém estranho por lá, corriam para avisar ela: “Birgite (sic), tem repórter por aqui”.  Assim, ela pode ficar à vontade pelos quatro meses que viveu por lá.  Ela passeava de barco, cozinhava comida mediterrânea, assava peixe na praia, tomava leite de cabra e ficou sem retocar o cabelo, deixando as raízes escuras. Ao entardecer, sob o pôr do sol, enquanto os pescadores caiçaras se organizavam para voltar para casa e passar um tempo com suas famílias, Bardot caminhava apreciando a paisagem após uma longa tarde de topless e diversão ao sol.

    Ela também aproveitou esse período para mergulhar com seu amigo, o mergulhador Arduíno Colassanti, aprender a tocar violão com seu namorado Bob — que, mais tarde, a incentivou a gravar uma música em português — e posar para fotos de Denis Albanese, o único fotógrafo autorizado a acompanhá-la na viagem. As fotos mostravam o clima: a presença dela fazia a vida parecer um filme. Após essa longa temporada, no dia 28 de abril, ela retornou à França, sentindo-se descansada. Ela prometeu retornar caso houvesse necessidade, pois encontrou lá um lugar para recarregar suas energias como nenhum outro. 

     

    Sequências nunca são boas

    Como prometido, Brigitte retornou ao Brasil para celebrar as festas de fim de ano, desta vez acompanhada de seu coelhinho de estimação, Bribri. No entanto, ao contrário do que esperava, a cidade já não estava tão tranquila. Após a divulgação na mídia das fotos e da localização onde havia se hospedado, assim que pousou no Brasil, no dia 18 de dezembro, as pessoas sabiam exatamente onde procurá-la. Dados da época, publicados no Jornal do Brasil, revelaram que a cidade bateu recordes de visitantes, recebendo cerca de 20 mil pessoas, dentre essas 40 jornalistas. A reportagem também destacou que aproximadamente 2 mil pessoas passaram pela rodoviária de Niterói com destino à ilha, e que o pequeno comércio local registrou um recorde de vendas — um único dia de funcionamento foi equivalente a um ano inteiro. Em menos de um ano, sua passagem transformou o distrito profundamente.

    Não adiantou fazer acordos com a Mídia, pois os repórteres estavam mais sedentos do que nunca. No início, ela tentou se disfarçar com lenços e perucas, mas logo as pessoas na rua identificavam sua identidade.  Dessa vez, ela se hospedou na casa e pousada do argentino Ramón Avellaneda, na Rua das Pedras, ficando trancada na suíte 8 arrependendo amargamente de ter divulgado seu paraíso secreto. Ela dizia se considerar uma pessoa que destruía tudo o que tocava, pois a mesma situação já havia ocorrido em Saint-Tropez, e jamais poderia imaginar que isso se repetiria no interior de um país continental.

     

    O Desprezo

    A única coisa a fazer era enfrentar seu medo e aproveitar o que o balneário tinha a oferecer — e assim ela fez. Bardot passeou de barco pela Ilha Grande e pela Ilha da Jiboia, visitou o bairro da Ogiva, em Cabo Frio, e continuou frequentando a praia — desta vez, sem fazer topless. Durante esses passeios, era comum vê-la brincando com as crianças, correndo atrás de porcos. Em uma dessas situações, um fotógrafo capturou uma imagem dela com um porco, que ela odiou profundamente. Além de detestar a foto, a imagem foi amplamente divulgada em tabloides ao redor do mundo, alimentando o arrependimento de estar lá. 

    Era um verdadeiro carnaval fora de época. Prefeitos de municípios vizinhos disputavam sua atenção, tentando convidá-la para visitar suas cidades  e prometendo homenagens. Ela chegou a receber o título de cidadã honorária de Búzios, acompanhado de um pedaço de terra. Mas tudo o que Brigitte queria era paz. Naquele Natal, que passou na casa do secretário da embaixada da França no Brasil, localizada em Búzios, ela desabafou que seu maior desejo de presente do Papai Noel era “uma trégua nessa guerra com a imprensa”, conforme relatou a esposa do embaixador ao Jornal do Brasil.

     

    A despedida de Maria Ninguém

    Depois do Réveillon, ela ficou mais alguns dias, desapontada pelo holofote que jogou a cidadezinha. No dia 08 de janeiro de 1965, ela colocou um vestido simples branco com listras azuis, cabelo preso no alto com fitas vermelhas, três malas, se despediu das crianças com beijos e caiu na estrada para nunca mais voltar. Nos jornais, muito era dito que ela voltaria, que construiria uma casa para crianças carentes no espaço que lhe foi dado, mas ela nunca pagou impostos. Em uma entrevista ao RFI em 2017, ela fala “Guardo recordações únicas. Uma lembrança mágica, magnífica. Vivíamos como Robinson Crusoé em praias selvagens e desertas. As ruelas eram cheias de leitões pretos e galinhas. Nós vivíamos de pesca, farofa, mangas e muito sol”

    Búzios nunca se esqueceu de Brigitte, que ajudou a cidade a se desenvolver, tanto estruturalmente quanto turisticamente, projetando-a para o estrelato internacional. Posteriormente, o balneário passou a receber figuras como Mick Jagger, Glauber Rocha, Cat Stevens, entre outros. Como forma de gratidão, foi construída uma orla batizada com seu nome juntamente com uma estátua de bronze com sua imagem, garantindo que sua presença ficasse eternamente marcada na história da cidade.

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