Entre o retro-futurismo e a ficção: O design e a estética hipnotizante de Ruptura
A série mais assistida da história da Apple TV+ criou um universo visual entre o retrô e o futurista – e você pode ter algumas dessas peças em casa.
Entre o retro-futurismo e a ficção: O design e a estética hipnotizante de Ruptura
A série mais assistida da história da Apple TV+ criou um universo visual entre o retrô e o futurista – e você pode ter algumas dessas peças em casa.
O último episódio da segunda temporada de ‘‘Ruptura’’ nessa última quinta-feira (20.03), consolidando a série como a mais assistida da história da Apple TV+. Mas enquanto todo mundo tenta processar os novos desdobramentos da trama, uma coisa é certa: o design do universo de Lumon Industries segue sendo um dos aspectos mais hipnotizantes da produção. O resultado é um cenário que, de tão repetitivo e vazio, às vezes parece saído das backrooms, com corredores sem fim e aquela sensação esquisita de que algo está sempre ligeiramente errado.
Criada pelo designer de produção Jeremy Hindle e pelo decorador de set David Schlesinger, a estética mistura um toque de modernismo com uma distopia retro-futurista. ‘‘Estava tentando fazer todas as coisas simétricas, mas levemente erradas, porque essa era a série’’, explicou Hindle à Variety. ‘‘Tudo era um pouco estranho, o que era bem desconfortável’’. A inspiração vai de Playtime (1967), de Jacques Tati, à fluidez modernista de Oscar Niemeyer, especialmente em seu projeto para o French Communist Party Headquarters, em Paris, criando um espaço que parece existir fora do tempo – e da realidade.
E para quem quer levar um pouco desse universo para a vida real, não faltam possibilidades. O icônico prédio da Lumon, por exemplo, é o antigo Bell Labs, em Nova Jersey, hoje transformado em um espaço cultural aberto ao público. Já a Perpetuity Wing foi filmada no Hudson River Museum, onde a mansão Glenview House pode ser visitada. No quesito objetos, a série traz uma seleção afiada de design, como os eletrônicos minimalistas de Dieter Rams e a cadeira Nimrod, de Marc Newson.
O escritório do Macrodata Refinement
Projetado por Jeremy Hindle como um “playground de observação”, funciona como um experimento onde os recém-separados despertam e são monitorados desde o primeiro momento. Com um único espaço, os funcionários dividem uma mesa central com divisórias que simulam cubículos, mesmo com o ambiente espaçoso. O teto baixo intensifica a sensação de confinamento, enquanto a mobília vintage e os computadores retrô, sem conexão aparente com o mundo exterior, ampliam a atmosfera enigmática do ambiente.
Lumon Industries
O exterior da Lumon é o icônico Bell Labs, em Nova Jersey, enquanto os interiores onde os ‘‘innies’’ trabalham foram filmados no York Studios, no Bronx. Os corredores mudavam constantemente, deixando até Adam Scott desorientado no set.
Poltronas Henry P. Glass (1950)
No lobby da Lumon, quatro poltronas de couro verde chamam a atenção logo no primeiro episódio de Ruptura. Assinadas por Henry P. Glass, essas cadeiras dos anos 1950 representam o auge do design comercial da época
e um conjunto original pode custar até US$10.500 em leilões vintage.
Os corredores da Lumon Industries
Os corredores frios, filmados no York Studios, são um dos elementos mais marcantes de Ruptura. Para a ilusão
de espaços infinitos, a equipe construiu um grande corredor com paredes móveis e usou efeitos visuais como iluminação difusa e a ausência de referências espaciais reforçam a estética retro-futurista e sufocante inspirada no design corporativo dos anos 1960 e 1970.
Pinturas da Lumon
Nos corredores da Lumon, pinturas exaltam o fundador Kier Eagan em cenas que reforçam sua aura mítica. De herói romântico à la Caspar David Friedrich a uma figura neoclássica quase messiânica, as obras foram criadas pelo artista Hugh Sicotte a partir de descrições detalhadas do roteiro. Algumas versões passaram por até 50 ajustes antes de serem finalizadas, com retoques à mão para garantir a estética clássica e imponente.
Sala de cabras
A misteriosa Goat Room de Ruptura foi filmada no Marine Park Golf Course, no Brooklyn. O vasto campo verde foi cercado por um set construído do zero, enquanto os efeitos visuais ajustaram luz, cores e até a posição dos próprios bodes e cabras.
Sistema de som Braun Wandanlage (1965)
Na parede da sala de Gemma está o Braun Wandanlage, um sistema de som criado por Dieter Rams em 1964. Ícone do hi-fi, ele combina dois alto-falantes, toca-fitas e unidade de controle, com versões produzidas ao longo dos anos.
Poltrona Fardos (1968)
No canto do escritório de Mr. Milchick, a Fardos Lounge Chair repousa intocada. Criada em 1971 pelo brasileiro Ricardo Fasanello, a peça une três rolos de espuma com tiras de couro. Apresentada em Paris e Berlim nos anos 1970, a peça segue em produção no Brasil.
Poltrona Nimrod (2002)
A poltrona Nimrod (2002), de Marc Newson, combina estética futurista e inovação industrial. Produzida pela italiana Magis, sua estrutura é moldada por sopro – mesma técnica usada em garrafas plásticas.
Retiro na natureza
Woe’s Hallow, o cenário do retirodo MDR em Ruptura, foi filmado no Minnewaska State Park Preserve, com cenas na Awosting Falls e em Sam’s Point, onde a neve inesperada deu um toque surreal ao escritório no topo da montanha.
Televisão Braun FS-80 (1964)
A Braun FS-80 (1964), projetada por Dieter Rams, é um marco do design minimalista. Com linhas limpas e uma estrutura compacta, essa TV preto e branco reforça a estética retrofuturista de Ruptura, além de ser a primeira marca que aparece na série.
Poltrona 620 (1962)
A poltrona 620, de Dieter Rams (1962), combina estrutura rígida e assento confortável, equilibrando formalidade e aconchego – perfeita para o ambiente impessoal de Lumon.
Penteadeira Dilly Dally (1965)
Gemma pode não gostar de mudar de sala, mas ao menos tem a Dilly Dally de Luigi Massoni. Criada nos anos 1960 para a Poltrona Frau, a penteadeira compacta tem espelho retrátil, armazenamento oculto e cadeira embutida.
A casa da irmã do Mark
A casa modernista de Devon em Ruptura é a Bier House, em Usonia, projetada por Kaneji Domoto, discípulo de Frank Lloyd Wright. Um refúgio mid-century real no universo da série.