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    Fazer faculdade de moda faz diferença? estilistas respondem

    Numa indústria ainda extremamente elitista, profissionais graduados e autodidatas sem um diploma formal falam ao FFW sobre suas realidades.

    Karen fuke, Silla Filgueira, Monica Sampaio, Saulo Rocha, Rafael Silverio, Saulo Rocha e Ana Luisa Fernandes.

    Fazer faculdade de moda faz diferença? estilistas respondem

    Numa indústria ainda extremamente elitista, profissionais graduados e autodidatas sem um diploma formal falam ao FFW sobre suas realidades.

    POR Julia Lange

    No Brasil, muito mais do que apenas se aprofundar em uma área do conhecimento, o ingresso em um curso superior foi – e ainda é – sinônimo de ascensão social. Num contexto marcado pelas desigualdades, o campo da educação segue o mesmo caminho, com diferenças alarmantes entre as possibilidades de diferentes grupos de fato se inserirem na educação superior formal.

    E quando estamos falando de áreas do conhecimento em que a prática por vezes parece se sobressair à teoria? Conversamos com alguns nomes da indústria da moda brasileira – graduados e autodidatas – para entender melhor em que medida um diploma formal, ou a ausência dele, influenciou em suas trajetórias profissionais. Confira abaixo.

    Graduados

    Karen Fuke (já foi designer na Forum, Triton, Ellus e atualmente é Head Designer na Carina Duek) – Santa Marcelina

     

    Por que você decidiu fazer faculdade de moda?

    Em 1994 sai do colégio com 17 anos e tinha 3 opções na minha cabeça: artes plásticas, desenho de moda e arquitetura. A decisão pela Moda veio por eu ter muito contato com isso na infância, sempre gostei de desenhar, minha avó e minha mãe costuravam, bordavam, faziam Tricôs pra mim e para meus irmãos. Minha irmã 11 anos mais velha que eu, também sempre trabalhou com dança e teatro, gostava de garimpar vestidos em brechós e cresci vivenciando tudo isso e adorava.

    O que você diria que foi essencial na sua trajetória na moda e que só aconteceu graças ao curso superior?

    Foi importante aprender a organizar as ideias, ter uma linha de raciocínio clara para construir uma coleção. Não adianta ser criativo se não souber organizar as inspirações, cores, tecidos, etc. História da arte e moda também acredito serem fundamentais para ter bases e entender o que aconteceu no passado, sem isso não dá pra olhar pra frente! Toda a parte teórica foi importante, a prática mesmo de verdade só vem depois com o trabalho.

    Na sua opinião, qual o principal ponto positivo de ter um diploma na área da moda para sua carreira?

    Através da faculdade tive professores que se encantaram com o meu trabalho, acharam que eu tinha perfil para estagiar, participar da Casa de Criadores e trabalhar em algumas marcas… foi muito importante pra mim.

    Teve alguma porta que foi aberta e que só aconteceu pela sua formação formal?

    Através de uma professora de estilo fui indicada para estagiar no Reinaldo Lourenço, eu ainda estava saindo do terceiro ano e fiquei um ano lá até eu me formar. Aprendi muitas coisas… desde prova de roupas, acompanhar casting, etc. Assim que apresentei meu trabalho de graduação, uma professora de moulage levou meu trabalho para o Tufi Duek, da Fórum/Triton e comecei a trabalhar lá em 1999 onde fiquei até 2016. Comecei como assistente de estilo, depois estilista, coordenadora, head designer e por dez anos fui diretora criativa da Triton.

    Quais são seus principais conselhos para quem quer entrar no mundo da moda e pensa em realizar um curso superior?

    Concluí a faculdade em 1998 com 21 anos, e de lá para cá nunca parei de trabalhar com moda, sempre levei tudo que fazia a sério, nunca deixei de entregar nada e sempre tentei extrair o melhor de mim em cada situação que vivenciei. Hoje pra quem gosta de verdade e sabe o que quer, vale a pena o investimento. Acho importante deixar claro que tudo é um processo de aprendizado e não dá pra pular etapas.

    Minha filha hoje com 21 anos está no segundo ano cursando moda na mesma faculdade que eu fiz… Atualmente com o excesso de informação que todos temos, os alunos vão ter que saber filtrar para não se perder! Eles tem muitas possibilidades em ser “multicoisas”, meu conselho é tentar ser mais profundo nos assuntos que decidir falar, pois tudo está tão raso que é importante ter mais consistência. Sejam curiosos e nunca parem de estudar, tudo muda o tempo todo, a atualização tem que ser constante!

    Ana Luísa Fernandes (Fundadora e diretora criativa da Aluf) – FAAP

    Por que você decidiu fazer faculdade de moda?

    Na verdade, decidi fazer moda aos 17 anos ao analisar a grade curricular e as aulas de história, design, comunicação e vi que moda ia muito além da roupa. Mas desde criança eu gostava de desenhar croquis, e aos 15 anos pedi minha primeira máquina de costura.

    O que você diria que foi essencial na sua trajetória na moda e que só aconteceu graças a alguma influência do curso superior?

    O conhecimento técnico e prático das aulas de modelagem, costura e coleção, além de todo um repertório criado em aulas de história da arte e do design. Fora as aulas de desenho, que me ajudam a explicar melhor minhas ideias para outras pessoas. Mas o mais importante de tudo, foi aprender a importância do processo criativo, para não ficar simplesmente replicando algo.

    Na sua opinião, qual o principal ponto positivo de ter um diploma na área da moda para sua carreira?

    Claro que ter um diploma não quer dizer que você seja mais ou menos capaz do que outras pessoas que aprenderam de forma empírica, porém, o diploma acaba sendo um filtro para quais tipos de conhecimento básico na área você possui. Acho que esse seria o principal ponto positivo, a garantia de conhecimentos básicos da área.

    Teve alguma porta que foi aberta e que só aconteceu pela sua formação formal?

    Sim, dentro da própria academia, por estar naquele ambiente, participei de um concurso que deu início a minha carreira. E claro, o portfólio que fazemos ali dentro, também nos ajuda a conseguir trabalhos na área.

    Quais são seus principais conselhos para quem quer entrar no mundo da moda e pensa em realizar um curso superior?

    A academia é um lugar que lhe permite explorar, testar, errar, sem comprometimentos comerciais. Você passa quatro anos imersa em um universo com diversas pessoas que estão ali para lhe ensinar assuntos que elas já vivenciaram. Para mim, foram quatro anos de ouro, foco criativo, algo que no dia a dia do mercado não acontece. Explorei todas as oficinas de costura, cerâmica, metal, madeira, joalheria… foi uma época essencial para eu me entender enquanto criadora, por isso indico para quem deseja entrar na área de produto.

    Rafa Silvério (Designer e criador da Silvério) – Santa Marcelina

    Por que você decidiu fazer faculdade de moda?

    Eu sou primeiro formado na minha família, meus pais não tiveram a oportunidade, e eu não tinha ninguém próximo que pudesse me introduzir na área ou acesso a informações. Há dez anos atrás ainda estávamos menos conectados do que somos hoje, então isso me conduziu a uma graduação, quando me submeti a um processo de bolsa de estudos filantrópicas em uma faculdade particular. Meus pais sempre me deixaram cientes da necessidade do conhecimento como uma das poucas coisas intransferíveis ao longo da vida.

    O que você diria que foi essencial na sua trajetória na moda e que só aconteceu graças a alguma influência do curso superior?

    Naquela época, sim! Me abriu os olhos para o mercado, me deu acesso a lugares e pessoas das quais mais adiante eu reencontrei no mercado, e me deu ferramentas e organizou minha energia para lidar com uma profissão que eu só tinha como aspiracional. Essas informações mais tarde formaram meu processo autoral de criação e gerenciamento de produtos que eu utilizo até hoje.

    Na sua opinião, qual o principal ponto positivo de ter um diploma na área da moda para sua carreira?

    Ele valida meu conhecimento técnico. Para pessoas negras, o mercado ainda é mais competitivo e opressor, qualquer suporte que nos ajude a enfrentar o sistema é bem vindo, acredito que seja uma ferramenta que ainda é reconhecida pelo mercado, e faz com que eu transpasse por cenários com menos adversidade do que se tivesse sem este item. Mas ele não é certificação de sucesso profissional ou impeditivo para um desempenho, mas é um acesso facilitador.

    Teve alguma porta que foi aberta e que só aconteceu pela sua formação formal?

    Ambas as pós-graduações que eu tenho de formação e a carreira acadêmica como educador que é uma frente da qual eu venho me interessando cada vez mais!

    Quais são seus principais conselhos para quem quer entrar no mundo da moda e pensa em realizar um curso superior?

    Seja curioso, vá atrás de informações que não estão explícitas. Faça e cuide de organizar sua coleta de dados, suas informações! Se possível, participe de todas as atividades que esse ambiente lhe proporciona, observe primeiro, entenda as estruturas para depois cruzar seus pontos fortes com as brechas de mercado, fortaleça seu networking, faça disso uma boa database para fortalecer suas conexões via Linkedin.

    Autodidatas

    Saulo Rocha – (Designer de Moda e Diretor Criativo – @___saulo)

    O que você considera as principais vantagens de não ter realizado um curso específico? E as desvantagens?

    Um ponto positivo seria que o autodidatismo te permite desenvolver uma nova epistemologia, uma nova forma de aprender e saber. É um aprendizado muito mais prático, muito mais voltado para a experimentação, o que potencializa a criatividade de uma forma meteórica. Por outro lado, um ponto negativo seria a infraestrutura. A faculdade te permite ter acesso a laboratórios, ateliês, ter contato com pessoas que têm anos de experiência de mercado, além da troca com os outros estudantes e artistas.

    Não ter um diploma já te fechou portas? Se puder falar mais sobre isso e sobre como você lidou com a situação.

    Com certeza! O Brasil é um país que ainda tem muita tradição em possuir bacharelado em algum tema e isso pesa muito na hora de contratar alguém. Inclusive, a validação curricular é um requisito obrigatório na grande maioria dos editais de contratação de grandes marcas. Eu também acho que no Brasil não temos uma cultura estabelecida de olhar para portfólio, o que faz com que pessoas que não tenham formação formal mas que tenham um excelente portfólio, por vezes saiam em desvantagem num processo seletivo com alguém que não tem um portfólio tão denso, mas tem um diploma.

    Para lidar com isso, eu procurei melhorar o meu posicionamento enquanto criador e marca, criando conteúdos com mais informação de moda e mostrando repertório de produto – o que me coloca num lugar de valor, por conta desse conhecimento agregado. Também busquei fazer um trabalho mais comercial e mais direcionado para as marcas que me interessam e busquei readequar a minha identidade ao que o mercado pode querer e está pronto para consumir.

    É possível conseguir um emprego de designer em uma marca sem curso superior ou aos autodidatas só resta a opção de abrir sua própria marca?

    Eu acredito que pela forma como a indústria brasileira de moda está estruturada hoje, é mais difícil conseguir um emprego como designer sem um diploma. Isso porque esse cargo de estilista de uma marca, ou até mesmo assistente de estilo são muito vistos como trabalhos mais técnicos do que criativos. E as marcas enxergam que essas habilidades técnicas são na maioria das vezes ensinadas na faculdade.

    Quais os diferenciais na sua opinião para uma pessoa que quer se inserir no cenário da moda mas não pensa em realizar um curso formal? O que você diria que ela precisa correr atrás e se preocupar em fazer?

    Acho que têm dois aspectos que são os mais importantes. Primeiramente, como outras áreas dentro da arte, a moda é muito movida pelas relações que a gente constrói, o capital social é muito importante. Uma vez que você é uma pessoa que não tem currículo e não tem interesse em entrar numa faculdade, as relações vão servir de degrau para que você entre numa marca que você quer muito ou para que você construa uma boa audiência para a sua própria marca.

    Em segundo lugar, acho que é essencial saber sobre produto. Você tem que saber sobre costura, modelagem, gestão de produto, etc. Uma visão 360 graus sobre produto é primordial para que, se você não quiser seguir pelo caminho da formação acadêmica, você consiga conversar com uma pessoa que teve essa formação. É a partir do momento em que conseguimos entregar um resultado tão bom quanto alguém que tem formação formal, exatamente por entendermos muito de produto, que começamos a ser mais valorizados enquanto profissionais.

    Quais são seus principais conselhos para quem quer entrar no mundo da moda e não pode ou não considera realizar um curso superior? Existe algum caminho em comum que já tenha sido traçado?

    Acho que não existe fórmula pronta, mas meu conselho é: produza o máximo que você puder. Aprenda a construir uma peça de roupa e a partir disso, construa um repertório. Pesquise, estude, porque é isso que vai permitir a criação de uma identidade de produto e de design forte e consistente, e isso vai se tornar um produto esteticamente interessante. A moda tem essa vantagem, é a única indústria que nunca para de crescer, as pessoas nunca vão parar de consumir roupas ou arte, então alguém sempre vai gostar do que você está produzindo, e é essa noção que faz com que nós continuemos criando.

    Você acredita que depois de um tempo, a ausência de diploma para de ser colocado em cheque ou é algo que sempre volta a se fazer presente de alguma forma?

    O próprio bacharelado em moda ainda é muito recente no Brasil, então a própria existência da faculdade de moda é muito recente. Eu acredito que a partir do momento em que se comprova que é possível construir um produto tão bom quanto o de uma pessoa que tem a formação acadêmica, a partir do momento em que se prova que isso não é uma desvantagem, aí sim é parado de se colocar em xeque. Quando se chega nesse denominador comum e entendemos que existem outros caminhos possíveis e que quem é autodidata é apaixonado por moda e faz o trabalho com o maior respeito do mundo, nós paramos de nos antagonizar e colocar a existência ou não de um currículo em xeque.

    Mônica Sampaio – (fundadora e diretora criativa da Santa Resistência)

    O que você considera as principais vantagens de não ter realizado um curso específico? E as desvantagens?

    Pelo fato de eu ter começado tarde na moda (45 anos), precisei pular etapas e já me aventurei na prática, mas eu não recomendo. Ter total conhecimento da sua empreitada é um dos meus pilares. Sempre recomendo em minhas mentorias e palestras e deixo explícito que uma boa base é o segredo do sucesso. Sendo autodidata tive que correr atrás de conhecimento três vezes mais e o Sebrae foi o grande facilitador para essa jornada. A grande vantagem foi ter o poder de decidir o que aprender, quando e como. Não estava limitada a um currículo pré-determinado. Por não me limitar a aprender o que era ensinado em instituições, pude dedicar tempo e energia para explorar realmente o que era o meu objetivo na moda.

    Você já deixou de conseguir alguma oportunidade pela ausência do diploma? Se puder falar mais sobre isso e sobre como você lidou com a situação.

    Na verdade não. Eu tive a boa sorte de me cercar de um forte networking. Eu sou engenheira de formação e tive muitos anos no mercado. Essa experiência me fortaleceu e como gosto de encarar desafios, nunca me intimidei. Possuo muita disciplina, fui militar durante anos e trago toda essa bagagem para a moda e creio fortemente em aprendizado contínuo. Continuo uma eterna aprendiz.

    É possível conseguir um emprego de designer em uma marca sem curso superior ou aos autodidatas só resta a opção de abrir sua própria marca?

    Sempre é possível, mas acredito que seja mais difícil. Depende muito do seu foco e potencial. As grandes empresas buscam resultados. Se você traz resultado e possui experiência, ótimo. Claro que vão olhar seu perfil profissional, quais instituições estudou, quais formações possui. Pode ser um diferencial, na hora de conseguir aquela vaga. Em contrapartida temos Coco Chanel, Ralph Lauren e Jean Paul Gaultier como exemplos de autodidatas. Aqui no Brasil tivemos o grande Luís de Freitas, Mr. Wonderful, e temos agora as incríveis Sillas Filgueiras e minha Madrinha ngela Brito, engenheira como eu. Continuo acreditando no network. Construa uma forte rede de conexões no decorrer de sua carreira e seu nome será lembrado para indicar para trabalhos futuros.

    Quais os diferenciais na sua opinião para uma pessoa que quer se inserir no cenário da moda mas não pensa em realizar um curso formal? O que você diria que ela precisa correr atrás e se preocupar em fazer?

    Tenha disciplina, curiosidade, iniciativa e objetivos concretos. E corra atrás do conhecimento e mantenha-se atualizado. Para mim, foi fundamental. Gosto de ter domínio total daquilo que faço. Hoje eu faço pesquisas de moda, conheço a fundo os tecidos, costuro e modelo um pouco. Todas essas informações e conhecimentos, busquei sozinha.

    Quais são seus principais conselhos para quem quer entrar no mundo da moda e não pode ou não considera realizar um curso superior? Existe algum caminho em comum que já tenha sido traçado?

    Tenha coragem de realizar o seu sonho e paixão. Não permita que a falta do diploma seja um impeditivo. O meu caminho foram três pilares: acreditar muito em mim, acreditar muito no meu trabalho e buscar conhecimento. O conhecimento que eu falo, é sobre o que você quer fazer e também conhecer as pessoas que podem facilitar para que você o faça.

    Você acredita que depois de um tempo, a ausência de diploma para de ser colocado em cheque ou é algo que sempre volta a se fazer presente de alguma forma?

    Para de ser colocada em cheque a partir do momento em que seu trabalho se destaque como positivo. O diploma se torna irrelevante quando se apresenta resultados. Ser autodidata te desafia constantemente e faz com que você esteja em constante movimentação.

    Silla Filgueira – (Designer e fundadora da Sillas Filgueira)

    O que você considera as principais vantagens de não ter realizado um curso específico? E as desvantagens?

    A minha principal vantagem em não ter realizado um curso específico, foi a de “fugir” de alguns vícios que nos são ensinados em algumas faculdades, no fazer da moda. Um exemplo é que aprendi a olhar não apenas para o cenário europeu, mas também para o Brasil, tão rico em tudo que se propõe a fazer. Muitos alunos chegam no ateliê falando apenas sobre as marcas internacionais como Valentino, Dior, Versace e sequer sabem falar quem foi Zuzu Angel, Ney Galvão, Ronaldo Fraga, e tantos outros.

    Uma grande desvantagem é que as grandes empresas da área sempre exigem o currículo formal e algumas especializações, fato que considero sim importante. Mas eu gostaria de ressaltar que os grandes designers do cenário da moda internacional há um século atrás, que realmente ditaram como a moda seria feita e pensada, não fizeram faculdade de moda. Eles estudaram arte, outras disciplinas que se relacionam intrinsecamente com o “fazer moda”.

    Você já deixou de conseguir alguma oportunidade pela ausência do diploma? Se puder falar mais sobre isso e sobre como você lidou com a situação.

    Eu acredito que isso é algo muito comum quando estamos falando de novos estilistas e designers. No meu caso, eu já tenho um nome conhecido, então isso não acontece mais, mas não é um caminho fácil. Eu sou autodidata raíz, comecei fazendo vestidos desde pequena com canudos de refrigerante, bonequinhas de papel, eu brincava de fazer moda. Minha primeira oportunidade, depois de deixar de ser faxineira, foi um trabalho numa fábrica de jeans, que me deu uma oportunidade e experiência inigualáveis. Lá eu aprendi o que era corte, costura, produção, modelagem, confecção… E depois disso minha vida realmente mudou. Eu abracei as oportunidades que me deram, sempre fui muito curiosa, então isso realmente me abriu muitas portas.

    É possível conseguir um emprego de designer em uma marca sem curso superior ou aos autodidatas só resta a opção de abrir sua própria marca?

    Com certeza é possível conseguir um emprego numa marca sem curso superior e acredito que a experiência para nós que somos autodidatas é o que mais conta. Eu sempre fui motivadas pelos diversos “nãos” que eu ouvia dentro da fábrica em que trabalhei e isso me fez realmente querer iniciar a minha marca. É importante sim ter um diploma e cursar uma faculdade, mas a curiosidade de buscar conhecimento, querer fazer, ler, de fato ir atrás, isso é o mais importante. E isso não necessariamente você adquire num banco da faculdade.

    Quais os diferenciais na sua opinião para uma pessoa que quer se inserir no cenário da moda mas não pensa em realizar um curso formal? O que você diria que ela precisa correr atrás e se preocupar em fazer?

    Eu digo: corram atrás de conhecimento e sejam curiosos. Foi o que eu fiz desde a minha infância, com os recursos que eu tinha. Curiosidade é o primordial, se unido ao aproveitamento das oportunidades, é um meio excelente de se entrar no mundo da moda.

    Quais são seus principais conselhos para quem quer entrar no mundo da moda e não pode ou não considera realizar um curso superior? Existe algum caminho em comum que já tenha sido traçado?

    Corra sempre atrás e não desista no primeiro não. Eu sou uma mulher preta, trans, de origem humilde. No meio da pandemia, passando necessidades reais, me perguntaram se eu era modelista e eu não pensei duas vezes ao levantar e dizer que era sim, que faria o que fosse preciso. É um pouco disso, aproveitar as oportunidades, ir aprendendo no meio do caminho, ter a certeza que você vai errar, mas que vai acertar muito também. Não queira começar de cima ou de maneira “fácil”, porque no geral, não é assim que funciona. Eu não era modelista, mas aprendi, pesquisei e literalmente me virei. Sai na capa da Vogue, com a Lu da Magalu usando uma criação minha. E conheçam o Brasil, nós precisamos olhar mais para dentro.

    Você acredita que depois de um tempo, a ausência de diploma para de ser colocado em cheque ou é algo que sempre volta a se fazer presente de alguma forma?

    Acredito que para não ser colocada em cheque, você precisa sempre estar estudando, se especializando como pode, indo atrás e sendo curioso. O bom trabalho tem de ser feito e mostrado e acho que quando isso acontece, essa realidade de não ter um curso superior formal para de ser posta em cheque.

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