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    FFW Insider: Nick Knight

    Nome chave da fotografia de moda nos anos 1990 e 2000 e criador da plataforma ShowStudio, ele estrela nossa capa de maio.

    FFW Insider: Nick Knight

    Nome chave da fotografia de moda nos anos 1990 e 2000 e criador da plataforma ShowStudio, ele estrela nossa capa de maio.

    POR Camila Yahn

    Nick knight na capa número 1 da FFW Insider. Projeto gráfico: Sometimes Always

    Mensalmente, personagens chaves da moda, cultura e comportamento estamparão a capa de FFW Insider. Em entrevistas exclusivas, vamos desvendar a mente de Figuras que estão transformando a criação, o business, a comunicação e o consumo.

    A estreia de FFW Insider traz o fotógrafo britânico Nick Knight. Nome chave da fotografia de moda nos anos 1990 e 2000 e criador da plataforma digital ShowStudio, Nick é reconhecido por sua inquietante busca por desafiar os princípios da fotografia e ideias convencionais de beleza. Ele sentou com Camila Yahn e Giovanna Casimiro para uma conversa que passou por muitos assuntos, entre eles a revolução que a inteligência artificial está provocando na criação de imagem e na sociedade, medo do fracasso, a relação entre criatividade e dinheiro. Leia abaixo os principais trechos da conversa.

    SOBRE REVOLUÇãO NA COMUNICAçãO E VISUAL

    “Estamos vivendo uma uma revolução visual, uma revolução em todas as formas de comunicação. É incrivelmente emocionante. Isso me lembra da mudança que aconteceu quando a fotografia foi inventada, como a pintura e as artes tradicionais reagiram à fotografia e disseram: ‘Ah, é apenas uma máquina. Não pode mostrar a alma, não há arte nisso. Vai tornar os pintores redundantes, etc’. Acho que há uma espécie de onda de medo e negatividade que acompanha a mudança. E por ser uma mudança tão grande que estamos embarcando agora, ela vem com muito medo, e o medo é uma coisa necessária, mas não necessariamente a única coisa que devemos sentir”.

    BELEZA

    “Acho que a aceitação da beleza acontece de tantas formas diferentes. É muito positivo, e isso vem através das redes sociais. Antes você tinha certas publicações que monopolizava o que era aceitavelmente belo. Agora você tem gente com milhões e milhões de seguidores superando qualquer uma dessas pessoas que antes diziam: ‘vou te dizer o que é certo e o que é errado’. Hoje temos muitas vozes e opiniões e acho que isso é muito positivo”.

    PASSADO

    “Fico maravilhado com a arte do passado, com as civilizações do passado. Você vê o trabalho feito por outras pessoas, por outros artistas e pensadores e pode se intimidar com o brilhantismo deles. Estou bem ciente de um legado enorme e incrível em todos os lugares deste planeta e em todas as formas de arte que já existiram. E pode ser muito difícil perceber o quão boas outras pessoas foram no passado e seguir fazendo as pequenas coisas que fazemos”.

    “Muito do que faço quando estou criando imagens é mudar o que vejo com meus olhos e tentar criar o que vejo com minha alma ou meu coração. Nunca pensei que meu papel fosse apenas mostrar às pessoas o que já posso ver. Isso parece bastante inútil e chato. Então tento mostrar coisas que não consigo ver”.

    ARTE X DINHEIRO

    “Se você olhar para os grandes artistas conhecidos da década de 1890, 20s, quaisquer que sejam os séculos, eles se tornam mercadorias. Eles são comprados por pessoas incrivelmente ricas para pessoas incrivelmente ricas venderem e não acho que seja isso que queremos ver. Se nenhuma arte valesse mais do que 100 dólares – nenhuma arte de Van Gogh, Michelangelo, Warhol ou qualquer um que você queira mencionar – talvez isso se aproximasse mais da razão pela qual o artista faz a arte”.

    FILOSOFIAS

    “Eu não me sinto diferente hoje do que me sentia 45 anos atrás. Ainda fico apavorado porque não tenho ideia de como tirar uma fotografia. Você tem que continuar olhando para dentro de si mesmo. Você tem que tentar e ficar exposto e aberto ao mesmo tempo. A gente não entende o que somos. Não entendemos como funcionamos. Não entendemos nosso cérebro, não entendemos nossa mente, nossos corações. Não entendemos os relacionamentos que temos. Não entendemos a vida”.

    “Acho que nem entendemos como criamos as coisas. Não faço ideia de como tirar uma boa fotografia. Gostaria que tivesse”.

     

     

    “Não sabemos o que vem a seguir. E é tudo tão rápido. Agora, se você quiser, podemos ter uma visão romântica sobre o futuro, de que estamos deixando aqui uma presença eterna. Estamos colocando muita informação e muita inteligência de nós mesmos em um lugar que continuará a evoluir. Nós não somos definidos pelo nosso físico ou o nosso ser corporal. A nossa inteligência é o que se mantém viva”.

    AMOR

    “Eu gravitarei em torno de pessoas cujo trabalho eu gosto. Acho muito difícil realmente estar nesse tipo de relacionamento. Eu realmente me importo com as pessoas com quem trabalho. Sabe, sou muito privilegiado por poder entrar dentro da cabeça de Alexander McQueen, John Galliano, Lady Gaga, pessoas com quem tive relacionamentos bastante longos. A gente vive até uns 100 anos, então não são tantos relacionamentos longos que podemos ter. E eu mergulho neles muito, muito completamente”.

    CRIAÇÃO

    “O que estou tentando criar é uma imagem ou uma escultura ou um filme ou o que quer que seja. Estou tentando mostrar algo que não consigo ver. Estou tentando mostrar a você a razão pela qual estou fazendo isso. Mas não é algo que eu possa ver que você não possa. É algo que eu também não vejo até criá-lo. Meu desejo é de criar, de explorar. E depois de explorá-lo, você segue em frente. Não há desejo de repeti-lo. Não há desejo de voltar e tirar a mesma foto que tirei da Devon 30 anos atrás ou algo assim”.

    “Eu me apaixono pelas pessoas com quem trabalho com muita frequência. Eu me apaixono pelo processo de trabalho. Eu me apaixono pela maneira que você pode atingir uma compreensão da vida através do trabalho. É por isso que me apaixono. Não me apaixono por minhas próprias imagens. Infelizmente. A verdade é que, quando você vê uma imagem que criou, você só vê realmente os erros. Vemos o que não é tão bom, e é por isso que por muito tempo eu não tinha nenhum dos meus trabalhos pendurados nas paredes. Eu me recuso a ter porque é como um espelho deformante. Você apenas vê as coisas que não quer ver sobre si mesmo”.

    MEDO DO FRACASSO

    “Existe um medo bastante natural da performance, porque você tem que criar uma imagem na frente de alguém que eles precisam gostar e que você precisa gostar. E, claro, existe o medo humano do fracasso. Eu acho que é bastante saudável, para ser honesto. O medo do fracasso faz você se concentrar. É um pouco assim: você tem que estar preparado para correr e pular do penhasco e se jogar no vazio todas as vezes, porque é assim que você luta para permanecer vivo. Então o medo é importante. O fracasso é importante. Todas essas coisas são importantes porque você não quer se repetir. Mas é assustador. Tenho fotos para tirar no domingo e eu não sei o que vou fazer. Eu não quero apenas repetir um processo que fiz no passado, quero encontrar algo novo. Serei perspicaz o suficiente para enxergar as coisas que não posso ver?

    “Meu trabalho agora não é apenas criar uma fotografia. Acho incríveis todas as novas tecnologias, toda a Inteligência Artificial e a digitalização 3D e todas as diferentes formas de criar imagens e como podemos mudar as coisas.  Hoje eu posso fazer pinturas musicais, esculturas em ação, são inúmeras novas possibilidades e acho isso fascinante”.

    War Big

    SOBRE DINHEIRO

    “Não começamos o ShowStudio para ganhar dinheiro. Nada do que fazemos realmente é projetado para ganhar dinheiro. Essa nunca foi a motivação por trás do que faço tão pouco ter qualquer grau de fama”.

    “Sinto que a sociedade precisa mudar e acho que, até certo ponto, o dinheiro é um problema. A busca por dinheiro, especialmente na criatividade, é um problema porque se torna quase um fator que define se um trabalho é bom ou ruim ou se é considerado bem sucedido”.

    SOBRE FELICIDADE

    “Acho que não deveríamos, na vida, buscar a felicidade. É um objetivo falso. Existem alguns objetivos falsos que nos são apresentados. Dinheiro é um, fama é outro, felicidade é outro. Então, eu ganho todo esse dinheiro, serei famoso e feliz. Isso não é verdade. As pessoas que não são muito inteligentes são felizes. Queremos ser alguém que sente que a vida é rica e gratificante e cheia de coisas que não entendemos e queremos aprender. Não gosto da ideia de que você chega a algum tipo de estado benigno em que fica sorrindo o tempo todo como um tolo”.

    SOBRE SER ROMÂNTICO

    “Sim, eu sou um romântico. Às vezes gostaria de ser uma espécie de  purista, modernista, um pensador claro. Mas eu não sou. Sou, na verdade, muito influenciado pela emoção. Eu acho que você pode ser você, pode fantasiar, sonhar e imaginar coisas, Mas às vezes sinto falta de ter um pensamento claro, direto e realista”.

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