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    Rener Oliveira: “Não quero ser visto como um inimigo da moda, mas como um aliado”.


    O comunicador é o segundo nome a protagonizar nossa série de entrevistas com pessoas quem vem mudando a criação de conteúdo de moda no País. 

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    Rener Oliveira: “Não quero ser visto como um inimigo da moda, mas como um aliado”.


    O comunicador é o segundo nome a protagonizar nossa série de entrevistas com pessoas quem vem mudando a criação de conteúdo de moda no País. 

    POR Vinicius Alencar

    Em um primeiro olhar, Rener Oliveira pode parecer um outsider. Essa leitura simplista se dá principalmente pelo comunicador quebrar uma certa hegemonia demográfica: ele nasceu e vive – por enquanto – em Natal. O criador nos contou que sua relação com a moda floresceu de forma bem natural e se entrelaça com sua história pessoal.

    Com quase 36 mil seguidores, teve sua ascensão durante a pandemia ao propor outros e novos diálogos, além de leituras pessoais, sem esperar ou se apoiar em veículos tradicionais – ou perspectivas sudestinas. E mesmo tendo sua base mais fiel, aqui no Instagram, Rener aprende paralelamente ao seu crescimento os ônus e bônus de ter e trabalhar com opinião – onde tudo pode ficar bem acalorado até quando o tópico é moda. Conversamos sobre sua trajetória, como se divide entre editor chefe do Nordestesse e outros projetos, haters e até uma mudança de CEP.

    Como começou?
    Eu nasci em Natal e cresci em uma cidade no interior chamada Santo Antônio (conhecida por Salto da Onça) e minha tia era proprietária de uma multimarcas por lá. Era tipo a Daslu do agreste! Minha mãe era gerente e eu adorava aquela atmosfera. Vendia Colcci no auge da Gisele, Ellus, TNG, M.Office… e eu amava viver naquele universo mesmo sendo proibido muitas vezes por questão de segurança, mas nunca de repreensão. Talvez por essas e outras eu tenha trilhado um caminho que eu sempre me identifiquei: por não ser podado. Em 2012 eu mudo para Natal e começo a criar conteúdo no Facebook de uma maneira bem despretensiosa. No ano seguinte, passei a escrever para um portal local falando sobre moda e as coisas foram fluindo até chegar na universidade de Comunicação Social com habilitação em jornalismo em 2015. Graduei e pós-graduei em Comunicação, Marcas e Consumo. Poucos meses antes da pandemia voltei ao interior que cresci e trabalhei na área de comunicação da prefeitura e também como marketing digital de um supermercado. Nesse intervalo de tempo fui deixando o conteúdo de lado e tendo alguns trabalhos pontuais. No isolamento senti de volta a necessidade de criar, escrever e falar sobre moda. E foi onde passei a fazer o que faço até aqui.

    Qual foi o turning point para passar a viver de criação de conteúdo?
    No isolamento quando passei a me dedicar novamente aos conteúdos, fazendo textos de críticas e pensamentos além de entrevistas via Zoom com algumas pessoas de mercado, fui ganhando alcance e tendo meu conteúdo compartilhado. Esse turning point veio em uma dessas viralizações, na qual eu falava sobre Alexander McQueen e apropriação cultural e a Daniela Falcão, ex-diretora da Vogue Brasil e minha atual chefe, me encontrou. A partir disso ela me convidou a trabalhar no Nordestesse, que ainda estava nascendo e foi com esse convite/oportunidade que passei a viver de criação de conteúdo.

    O que é conteúdo pra você?
    Conteúdo para mim é fazer sentido. O que eu posso agregar na vida de alguém, os debates que podemos criar, as vozes que conseguimos amplificar e também como podemos mudar as perspectivas das pessoas. Fazer o banal todo mundo faz, quando se é diferente, você paga o preço por isso. Mas se meu conteúdo não fosse assim, não faria sentido. Não seria eu. Não sai do interior do RN para ser mais um.

    Como ser original e singular num mercado saturado?
    Vejo a originalidade como a soma de fatores que ganhamos com o tempo. Eu vim de um lugar muito diferente e com referências de vida que fogem de tudo o que conheço hoje na indústria da moda que abraça o sul/sudeste. Minha originalidade vem da minha rede de amigos, das experiências de vida, os olhares cotidianos, conversas e escutas. Minha originalidade não se resume a mim, mas a todos os atravessamentos culturais que me batem. Não há ninguém original que paute sua trajetória na individualidade.

    Como você lida com a questão da responsabilidade sobre o conteúdo que cria, as coisas que diz e o impacto que elas podem ter sobre as pessoas?
    Hoje eu penso muito antes de escrever um post. Passei a entender que nossas opiniões e pensamentos podem gerar grandes mobilizações. Fui percebendo isso com o tempo e se posso dar um exemplo, trago um post que fiz em fevereiro deste ano chamando o Grupo SOMA para uma conversa franca após uma de suas marcas ter feito uma publicidade duvidosa e fora de tom. O post bombou de comentários e questionamentos. Com o amadurecimento a gente entende quais “brigas” comprar e como se posicionar. Tenho cuidado para não ser apenas mais uma voz gritando, mas que eu seja um instrumento de novas possibilidades e conversas. Não quero ser visto como um inimigo da moda, mas como um aliado.

    Dá pra viver de criar conteúdo?
    Dá! Sabemos que se você nasce com a cor certa, o sotaque certo, o corpo ideal e uma boa herança (ou casando com alguém semelhante) isso se torna mais fácil. Mas tem muita gente fora dos estereótipos se mantendo mesmo sendo mais difícil. Hoje minha renda principal vem como editor-chefe do Nordestesse e escolho fazer publicidades apenas com marcas que estão alinhadas com o que acredito.

    Onde quer chegar?
    Para a minha expectativa geográfica, financeira e todas as peças que a vida já me pregou, eu considero que cheguei onde eu queria chegar, onde eu sonhava. De onde eu vim é tudo tão difícil que se me falassem que eu iria viver tudo que vivi até aqui eu não acreditaria. Não existe esse lugar de chegada para mim. Penso mais no sentido de permanência. O que é mais complexo para se manter na moda.

    Como você vê o mercado de criadores de conteúdo de moda nos próximos anos?
    Vejo que irá acontecer uma peneira, uma seleção natural das coisas. Há poucos anos as blogueiras dominavam tudo. Era um time de meninas que pautavam suas vidas como espetáculos e luxos mil. Hoje muitas delas perderam a relevância e vivemos em um novo formato de mundo, com outras estratégias. Desse recorte atual, poucos também vão sobreviver. Aqueles que permanecerem coerentes e ligados a essas mudanças, seguirão.

    O que te fez escolher a moda como foco?
    A capacidade de se comunicar através das roupas. Eu via minha mãe com uma roupa nova, um sapato, uma bolsa e como aquilo a transformava. Era a vaidade em forma de expressão. Entendi que eu podia mostrar ao mundo como eu me sentia através dos tecidos e o jornalismo me ajudou a dialogar de uma outra forma entendendo também que moda não é só vestir ou comprar roupas.

    Gostar de roupa basta para virar um creator de moda?
    Se você tiver dinheiro para comprar artigos de luxo e abrir caixas, sim. É só olhar ao redor e ver quem faz sucesso em números e publicidades. Se não quiser ir para esse lado, muito estudo, atenção e curiosidade. O caminho é longo mas acredito que seja mais saboroso.

    O que você diria para quem quer se tornar um criador de conteúdo?
    Eu diria para olhar primeiro para quem você não quer ser. Eu estudei muitos perfis, pessoas e profissionais da moda. Não me identificava com nada daquilo e muitas vezes me questionei por isso. Hoje eu me sinto confortável pelo conteúdo e comunidade que criei mesmo isso me blindando de diversas oportunidades. No fim vai fazer sentido para mim e para você fazer o que acreditamos, não o que o algoritmo nos pede.

    Atualmente você se divide entre sua página própria, o Nordestesse e outros projetos, certo?
    Sim! Sou editor-chefe do Nordestesse e também estou dentro de alguns projetos especiais que são braços da curadoria. Meu conteúdo segue paralelo e lá consigo fazer criação para outras marcas também.

    Como é a produção/rotina de conteúdo?
    Acontece de uma maneira orgânica. Às vezes surge de uma mesa de bar, de uma conversa com um amigo na internet, de uma angústia de um estilista. Não tenho um cronograma definido e prefiro assim. Esse é um dos diferenciais.

    Qual os ônus e bônus ao se posicionar sobre polêmicas?
    Ônus você vai criar alguns desafetos e bônus você ganha outros admiradores. Na vida não dá para acender uma vela para Deus e uma para o diabo. Somos condicionados a escolhas o tempo todo. Faz parte do jogo. A moda não é para os fracos.

    Se sente pressionado a ter opinião sobre tudo?
    Não! Meus leitores são especiais. Não me cobram para falar sobre tudo porque sabem também que o meu silêncio é um posicionamento. Penso no meu conteúdo como uma curadoria íntima do meu intelectual. Acredito que quem me acompanha espera esse filtro. Vez ou outra recebo mensagens como “esperei você falar para criar minha opinião”, o que acho curioso, porque de uma certa maneira me mostra o respeito que as pessoas têm por mim. Isso é muito especial.

    Como lida com os “haters” ou discussões virtuais?
    Não lido. Se eu vejo que é um comentário construtivo, vou lá e interajo. Se a pessoa comentar com um fake, não vou perder tempo com covarde. Dou minha cara a tapa o tempo inteiro, minhas brigas são de igual para igual.

    Quais os próximos passos? Lembro de comentar que vai se mudar, não?
    Em 2024 mudo para São Paulo. São 26 anos morando no Nordeste e preciso me desafiar a mergulhar de cabeça em outras experiências. Também tenho outros projetos de me aproximar ainda mais da minha comunidade e criar produtos para o offline, que também amo. O Nordestesse também está com tudo e temos muitas histórias para contar. No mais, quero ser feliz.

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