Inteligência artificial: como essa ferramenta impacta a moda?
Inteligência artificial: como essa ferramenta impacta a moda?
Que tal um editorial de moda com extraterrestres? Ou uma coleção colaborativa entre marcas e designers concorrentes? E tudo isso com uma perfeição e rapidez para ser criado nunca antes vista. Essa possibilidade se popularizou no final de 2022, visto em várias trends nas redes sociais. Essa técnica mágica de criar uma imagem quase realista não é feitiçaria, mas sim tecnologia. Chama-se Inteligência Artificial Generativa, que é um setor em ascensão nos maiores polos de tecnologia. Surgida em 1956, a inteligência artificial deu um grande salto para conseguir chegar à meta de produzir e ter funções semelhantes à capacidade humana. Os resultados ainda não são perfeitos, mas eles impressionam muito pela similaridade com a realidade.
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Diversas artes foram criadas desde que os entusiastas na internet descobriram as ferramentas de AI. Fotografias, ilustrações, mangás, pinturas e inclusive roupas e sneakers. A máquina reproduz os traços feitos por seres humanos de forma fidedigna. Quando falamos de fotografias de moda, o tratamento de imagem e a qualidade das roupas impressionam. Mas nem tudo é perfeito. O olhar e as mãos entregam a farsa. Seja por olhos desproporcionais e seis dedos. Talvez seja uma forma da máquina separar o que é o real do artificial, pois numa época de tanta desinformação, todo cuidado é pouco.
PLATAFORMAS
A Open AI é a principal empresa que aposta nesse mercado. Tanto que a Microsoft vai investir US$10 bilhões nela, que já é considerada uma das maiores startups do mundo. Uma das suas principais ferramentas é o ChatGPT, em que é possível criar textos a partir de perguntas para a máquina.
Além dele, o DALL-E é o favorito dos produtos do catálogo da empresa. Nele, as imagens são geradas por palavras e referências visuais em que o usuário faz upload no site. Semelhante ao DALL-E, o Midjourney é outro programa capaz de gerar imagens a partir de descrições textuais. Ele é um bot público disponível no canal da Midjourney no Discord e a demanda de usuários fez com que cursos surgissem para ensinar a criar na plataforma.
Pensou que a Meta ia ficar de fora dessa? A dona do Facebook anunciou o Make-A-Vídeo que ainda está em desenvolvimento. A ferramenta é inédita e faz vídeos por meio de descrições textuais para fins educacionais. Mas dentre todas, a que se popularizou por meio de aplicativos para iPhone e Android foi o Lensa. No fim de dezembro de 2022, uma onda de posts de ilustrações de super-heróis, piratas, fadas e astronautas tomaram conta da timeline. Quase todo mundo baixou o aplicativo para usar a função que o usuário faz upload de selfies e elas se transformam em ilustrações, parecendo às vezes uma verdadeira obra de arte.
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O que temos visto é uma explosão de posts de vários criativos de todo o mundo pipocando os feeds. De fotógrafos a diretores criativos e fãs de moda explorando as possibilidades de criação infinitas e mágicas das ferramentas de AI. Alguns mostram deslumbre pelas possibilidades de se criar algo como um toque de mágica, já outros se mostram receosos sobre os perigos que o uso indiscriminado dessas ferramentas pode representar, em especial com criativos. Pensando nisso, o FFW convidou alguns deles para dividir conosco seu ponto de vista sobre o que temos visto até aqui.
PONTOS POSITIVOS X PONTOS NEGATIVOS
Quando a timeline das redes sociais foi invadida pelas criações virtuais, um dos criativos que aderiu às experimentações de criação por Inteligência Artificial foi o fotógrafo Hick Duarte. Em seu trabalho, Hick já tem usado a Inteligência Artificial como uma espécie de moodboard vivo, exercitando a imaginação ao fazer dinâmicas de composição por meio da descrição de roteiros. Ele entrou de cabeça no Midjourneuy e inclusive criou uma conta no Instagram para postar seus experimentos Primalgourd,. Para ele, a Inteligência artificial está aí para auxiliar ele a ampliar suas práticas de trabalho e testar agora é uma forma de medir os impactos dela no futuro do trabalho, mas que por enquanto não vê muitas ameaças. “Eu não acho que vá substituir a fotografia pois tem muitas limitações, mesmo sendo muito livre e surpreendente o processo”, explica o fotógrafo.
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Das limitações, Hick contextualiza que além da resolução do produto final, se a imagem não existe na internet ainda, ela não estará no banco de dados criativo da máquina para ser referência da obra. Ele alega que “é mais difícil você especificar uma estampa ou um shape certo de tênis. É muito difícil chegar num produto muito específico que foi criado por uma equipe de estilo pois esse produto não existe ainda para o algoritmo”. E é exatamente esse o medo de alguns profissionais criativos: terem seus traços ou características assimiladas por máquinas.
“Para a Inteligência artificial criar as imagens, ela utiliza como base a arte de criadores que não necessariamente consentiram em ter suas artes disponibilizadas para esses bancos de dados, o que faz com que seja possível criar artes com assinaturas visuais de um artista sem que ele tenha permitido e sem gerar nenhum tipo de reconhecimento ou remuneração para ele”, explica Lipe Oliveira, ilustrador de moda e criador de conteúdo do perfil Mr. Illustrated. Lipe diz que sua preocupação é sobre a possível competição injusta com o profissional artístico.
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Ele explica que pode acontecer uma sucateação no trabalho de profissionais ao passo que um possível cliente pode optar em fazer com IA do que com um artista real em um momento que ela estiver melhor desenvolvida. Lipe conta que houve um caso que foi importante para essa discussão entre criadores: “um designer criou um livro usando duas plataformas de inteligência artificial, uma para a escrita e uma para a arte, e a única coisa que ele pagou foram os 30 dólares para poder usar o aplicativo de imagem. Grandes empresas podem usar as mesmas ferramentas e desvalorizar o trabalho de diversos profissionais”.
UMA FERRAMENTA EM DESCOBERTA
Conhecida pelo seu trabalho com moda imersiva e ser a idealizadora do Brazil Immersive Fashion Week, Olivia Merquior se considera entusiasta do que tem visto de criações feitas por máquinas. Entretanto, ela se considera muito ciente dos problemas que poderemos enfrentar ao aprender lidar com a nova tecnologia. Para ela, a inteligência artificial é uma ferramenta que pode servir tanto de forma positiva ou negativa na sociedade. “Esse será o principal paradigma que a gente vai ter que enfrentar daqui pra frente. Entender como essas novas tecnologias podem nos auxiliar a expandir a nossa imaginação”, explica a empresária. Ela comenta também que a partir daí vai depender muito da nossa capacidade de entender nosso lugar dentro das plataformas. Para encaminhar as novas descobertas de forma positiva para a sociedade, será necessário se interessar e entender como é feito, quem programa e quais são os termos de uso.
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Hoje, a Inteligência Artificial ainda está sob desenvolvimento e discussão. Mas é importante que esse debate seja levado com seriedade e responsabilidade, pois essa ferramenta está evoluindo muito rapidamente, ao ponto do Google já investir e trazer para seu ecossistema de compras IA para conferir a peça em tamanho real. O Céu é o limite para a inteligência artificial, para o bem ou para o mal. E você, qual sua opinião?