Porque homens de cropped ainda incomodam tanta gente?
Porque homens de cropped ainda incomodam tanta gente?
Desde que a edição de 2023 do Big Brother Brasil começou, o figurino masculino deu uma guinada ousada fazendo com que a internet debatesse sobre as peças escolhidas pela produção. Fugindo do convencional, o cropped foi a mais comentada nessa temporada do reality, usada pelo ator Gabriel Santana e o biomédico Ricardo Camargo (Alface). Seja amado ou odiado, o item colocou em discussão um assunto que (inacreditavelmente) ainda é tabu fora do universo da moda.
Verdade seja dita, ainda existe muito estigma sobre a peça. Tanto que durante o programa, diversas postagens críticas ao ítem, em especial em tom homofóbico, surgiram e se popularizaram na internet. Em uma delas, um influenciador de extrema-direita viralizou um conteúdo em vídeo em que questionava se o uso da peça era mesmo tendência ou se era uma pauta empurrada goela abaixo pela militância LGBTQIA+.
Ao contrário do que foi dito no vídeo, o cropped masculino tem conquistado cada vez mais homens, sejam eles heterossexuais ou não. Exemplo disso foram os cliques que apareceram nas redes sociais desde então, apresentando o ator João Guilherme, o apresentador Rodrigo Faro, o cantor Vitão e influenciadores digitais pelo Brasil afora. Entretanto, a grande resistência do uso do cropped é proveniente da homofobia que assola estruturalmente os gostos do brasileiro.
ORIGEM DA PEÇA
O cropped se popularizou após a Olimpíada sediada na União Soviética que buscava apresentar os corpos dos atletas, representando a saúde e beleza. Na década de 1980 o mundo passava por um momento de representar a saúde na estética e cultura. E a peça foi um importante marco para mostrar o abdômen definido e chapado. Johnny Depp, Dwayne Johnson e Will Smith foram figuras pop que adotaram a peça na época. Depois deles, o cantor Prince foi quem introduziu de forma mais glamourosa e menos atlética, dando um novo significado.
No fim do século XXI, com o avanço do HIV e de políticas anti-lgbts, as peças começaram a ser estigmatizadas, fazendo com que homens que usassem a peça sofressem preconceito. Muitos homens heterossexuais queriam se diferenciar dos homens gays e para isso optaram por peças mais neutras, normativas e modestas.
Apesar de ter caído em desuso, com o tempo o crop ensaiava sua volta de tempos em tempos, seja por astros do rock como Supla, que usou na Casa dos Artistas ou em desenhos como Pokémon, como o uniforme de James, integrante da equipe Rocket. Ícones adolescentes como Jaden Smith e Zac Efron também aderiram a trend de forma destemida, bem como grande parte dos músicos do gênero Kpop, como o Kai da boyband Exo.
Nas passarelas, a peça tem dado as caras desde o verão de 2022, como apontamos aqui. Fendi, Prada e Jacquemus foram algumas das marcas que já em 2021 traziam em suas coleções croppeds, micro-shorts e minissaias, como forma de quebrar o padrão de normatividade muito recorrente na moda masculina.
No frio, em especial nas coleções de outono 22, JW Anderson, Vetements e GmbH apostaram na peça fugindo da clássica camiseta de algodão, indo para um caminho de experimentação, com um recorte de alfaiataria, tricô ou relevos em couro.
Ao abordar propostas de moda masculinas desafiando normas tradicionais, percebemos que o estilo se reconstrói, desviando de padrões e aderindo novas formas de se encorajar por meio da moda. Quebrando barreiras, o cropped hoje tem conquistado seu espaço no mainstream provando que mesmo que de forma gradativa, o guarda-roupa masculino tem mudado, dando liberdade para se expressar e se sentir bem sem medo de ser feliz.