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    FFW entrevista Tommy Hilfiger

    Com mais de 50 anos de moda, o designer e empresário afirma se orgulhar de permanecer relavante.

    tommy hilfiger. foto: cortesia

    FFW entrevista Tommy Hilfiger

    Com mais de 50 anos de moda, o designer e empresário afirma se orgulhar de permanecer relavante.

    POR Augusto Mariotti

    Tommy Hilfiger e o editor-chefe Augusto Mariotti, no QG da marca em Nova York

    Tommy Hilfiger me recebeu para esse papo na manhã seguinte ao seu desfile da coleção de verão 2025, no QG da marca na Madison Avenue, em Nova York. Simpático, de fala calma e baixa, Hilfiger vestia uma camisa azul com o icônico logo de sua marca, fundada em 1985, quando a indústria da moda era outra. 

    O cenário da moda masculina norte-americana da época tinha seus ícones: Ralph Lauren, Calvin Klein e Perry Ellis. Tommy então procurou o lendário diretor de arte George Lois para criar uma campanha publicitária para o lançamento de sua marca própria e foi aí que tudo mudou. 

    Com um investimento de 200 mil dólares, um valor considerado modesto para os padrões da época, o publicitário instalou outdoors nos principais pontos de Nova York colocando o nome de Hilfiger como o quarto designer masculino mais importante da cidade. A ousada campanha causou curiosidade e irritação em seus concorrentes, afinal quem era Tommy Hilfiger – até então um ilustre desconhecido – para estar ao lado das três grandes estrelas? Fato é que a campanha se profetizou e a marca logo se tornaria uma das mais famosas e bem-sucedidas do mundo. Foi abraçada pelos artistas da música, se expandiu para outros continentes e colocou Hilfiger no olimpo da moda mundial.

    a campanha de lançamento da marca, 1985

    O sucesso midiático e comercial é confirmado pelos números. Somente no primeiro trimestre de 2024, a empresa reportou um lucro de 1.95 bilhão de dólares e a expectativa é fechar o ano em torno dos 10 bilhões, impulsionado por novas linhas de produtos e expansão global de uma cadeia que atualmente conta com mais de 2 mil pontos de venda e uma forte presença online.

    Leia abaixo a entrevista:

    Augusto Mariotti: Mr. Hilfiger o que te motivou a criar sua marca há quatro décadas? 

    Tommy Hilfiger: 50 anos atrás…1969…Faz a conta aí (ele pede para sua assessora fazer a conta na calculadora do celular). De 1969 para 2024, 55 anos atrás quando eu comecei na moda. Quando eu tinha 18 anos eu abri uma loja de jeans que vendia os jeans que eu comprava em várias lojas de Nova York e direto de fabricantes. Então eu comecei a desenhar meus jeans e decidi que devia abrir minha marca própria. Esse era meu sonho, mas eu não consegui fazer isso até 1985, que foi quando eu comecei a Tommy Hilfiger. A primeira coleção completa foi inspirada na estética náutica e desenhada por mim pois eu não encontrava o tipo de roupa que eu queria vestir, eu queria algo preppy mas com minha cara, algo cool, relaxado e tudo o que existia no estilo preppy era muito sério e meio tedioso, careta e eu queria algo mais cool. E então isso começou a ganhar força entre os jovens. Depois, comecei a usar celebridades para vestirem as roupas e aparecerem nas campanhas publicitárias, conectando a marca à cultura pop. Eu juntei música, músicos, moda, arte, entretenimento, celebridades e esportes.

    AM: O que você quer dizer com preppy cool? De onde vem sua obsessão com esse estilo?

    TH: Eu cresci usando roupas no estilo preppy, e acabei me cansando delas. Fiquei cansado desse estilo quando estava no ensino médio, e então comecei a usar calças boca de sino e roupas no estilo hippie. Aquela foi uma era. Depois dessa fase, voltei para o preppy, mas queria que fosse cool, relaxado, oversized e colorido. Eu queria que fosse diferente do que as pessoas normalmente associam ao estilo preppy clássico e foi isso que fiz.

    “Não queremos estar no negócio do luxo. O consumidor está chocado com os preços do luxo hoje. Queremos ser premium e ser acessíveis, mas com uma qualidade superior.”

    AM: A Tommy Hilfiger está aí há mais de quatro décadas ainda no topo. Como manter uma marca relevante em um contexto de mudanças cada vez mais rápidas, com tantas marcas surgindo e desaparecendo o tempo todo? 

    TH: Você precisa se modernizar sem perder sua identidade, trazer formas modernas, tecidos modernos, novos detalhes, surpresas, mas mantendo sua personalidade intacta, isso é um ato de equilíbrio.

    Bem, também tem muita concorrência por aí. Você tem as marcas de luxo, tem a Zara e a H&M. Somos uma marca premium, o que chamamos de luxo acessível, luxo acessível a um preço justo, e continuamos a elevar tudo o que fazemos. Não queremos estar no negócio do luxo. O consumidor está chocado com os preços do luxo hoje. Queremos ser premium e ser acessíveis, mas com uma qualidade superior. 

    AM: O que guia a criação de cada nova coleção: sua visão dos desejos de seu cliente ou seu instinto do que as pessoas podem vir a desejar?

    TH: É sempre a busca por novidade e manter a marca relevante sem perder o DNA, essa é a magica, não é  uma ciência. Mas é algo que é bastante difícil de fazer por que você é facilmente distraído por muitas possibilidades diferentes, como por exemplo as várias tendências que estão aparecendo a todo momento. Nós poderíamos seguir determinada tendência e abandonar nosso DNA, mas uma vez que você faz isso você deixa sua história pra trás.

    AM: A Tommy Hilfiger é uma marca global hoje. Como é possível traduzir esse estilo de vida tão americano para tantos lugares diferentes e fazer com que ele ressoe em cada um deles?

    TH: Meu papel é fazer ressoar com cada um deles, e é interessante que, no mundo todo, as pessoas abraçaram a marca, seja em Tóquio, Xangai, Dublin ou Rio. Eles gostam do estilo americano, do casual americano, do clássico preppy e do cool.

    “Eu acho que do fato de permanecer por quatro décadas e ainda sermos relevantes. Muitos nessa indústria não duram esse tempo. Isso é algo que me deixa orgulhoso.”

    AM: Você foi um dos primeiros designers da alta moda a abraçar os artistas do hip-hop. Como foi isso?

    ​​TH: O hip hop e o rap nasceram nos anos 80 e os fãs e artistas de hip hop abraçaram a marca Tommy Hilfiger. Como resultado disso, eu fiquei obcecado em tentar entender o que eles queriam a seguir. E formei relacionamentos com os artistas, e eles me diziam o que queriam vestir, como queriam que as calças se ajustassem, e que cores gostavam… Eu realmente estava aprendendo com o consumidor, e eles começaram a fazer rap sobre mim e sobre a marca nas músicas, como o fez Wu-Tang que tocou no desfile. Foi uma grande surpresa! E nós realmente nos tornamos parte da cultura, mas foi muito autêntico, não foi algo pago, nem planejado. Foi meio que por acaso.

    o grupo de hip hop wu-tang clan ao final do desfile de verão 2025

    AM: Já que falamos de música, quem está na sua playlist favorita no Spotify?

    TH: Eu gosto dos Rolling Stones, David BowieI, Led Zeppelin. Eu gosto de Motown Music. Nós acabamos de assinar com a Sophia Richie, a filha do Lionel Richie então eu tenho ouvido muito muito os clássicos do Lionel all night long.

    AM: Só clássicos

    TH: Sim!

    AM: Do que você se orgulha mais em toda sua história na moda?

    TH: Eu acho que do fato de permanecer por quatro décadas e ainda sermos relevantes. Muitos nessa indústria não duram esse tempo. Isso é algo que me deixa orgulhoso.

    AM: Qual sua primeira memória de moda na infância?

    TH: Eu queria me vestir de cowboy por causa do Roy Rogers que era um astro da TV e os garotos mais velhos queriam ser como ele!

    AM: Qual o melhor conselho que você já recebeu? 

    TH: Seja consistente. Se mantenha consistente, okay?

    AM: E qual conselho você daria a um jovem empreendedor e designer que está começando sua marca hoje?

    TH: Nunca desista! Porque às vezes é fácil ficar frustrado e pensar que não vai dar mais pra continuar. Eu nunca desisti, e houve momentos bem difíceis sim. No começo, eu não tinha financiamento. Passei por uma falência…Há muitos momentos em que você sente que talvez devesse desistir, mas acho que não desistir é importante para os jovens.

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