Após um longo período sabático, Tracey Emin abre hoje A Fortnight of Tears, sua primeira exposição em quatro anos, na White Cube Bermondsey, em Londres.
Como sempre, as obras nascem de suas próprias memórias e sentimentos como dor, raiva e amor (esse filme e uma das obras mais incríveis dela). Em novas pinturas, Emin articula a alegria e o sofrimento que são intrínsecos à existência humana, desde o território muitas vezes carregado de relações sexuais, ao trauma físico e psicológico do aborto e ao falecimento de sua mãe há dois anos.
A mostra também inclui esculturas, neon, filme, desenhos e fotografia e é uma experiência forte não só para a artista (por ser extremamente pessoal), mas também para quem vê. E mais ainda para quem acompanha a trajetória de uma das mais importantes artistas do Reino Unido, que sofreu bullying, estupro e inúmeras decepções amorosas. E ela fala sobre todos esses assuntos sem filtros, provocando o espectador menos preparado. “Ela fez uma visita guiada para o staff da galeria e muitos choraram porque não há como não se emocionar”, disse ao jornal Irish Examiner, Irene Bradbury, da White Cube. “Mas esse processo de passar por traumas é canalizado para a arte e é a arte que dá a Emin formas de verbalizar e visualizar suas emoções”.
As obras ganham nomes como Bye Bye Mum, I was too young to be carrying your Ashes e But you never wanted me, que traduzem sentimentos de dor, luto, amor e desejo, enquanto outros retratam sem rodeios os atos de agressão sexual que continuam a assombra-la. Em um novo filme, a câmera passa lentamente por
uma mesa em direção a uma caixa de madeira, com as cinzas de sua mãe, colocada em uma das extremidades, banhada por uma luz etérea. Emin relembra a tristeza de quando as levou de volta para casa: “Eu carreguei suas cinzas do outro
lado da rua – tentando não chorar, tentando não pensar. De alguma forma,
parecia errado como se eu estivesse roubando algo – como se eu fosse um ladrão”.
Entre os highlights está uma série de esculturas em bronze, que mostram mulheres em gestos de afeto e acolhimento ou em poses eróticas. “As esculturas de Emin das mulheres em estados de êxtase e saudade são confissões abertas de fantasia, desejo e paixão. São visões desse amor que sacode a terra e no qual ela ainda acredita”, diz o crítico Jonathan Jones.
Há também a instalação Insomnia Room, com 50 auto retratos que ela fez em períodos de insônia. A obra impressiona pela quantidade de imagens e tamanho da impressão e capta seus momentos de solidão e tormento na madrugada.
Quatro vitrines exibem trabalhos mais íntimos em papel, maquete ou objetos do acervo da artista, divididos por temas como amor, sexo, morte e medo.
Tracey Emin é famosa por se auto retratar muito antes desse costume ganhar o nome de selfie, assim como ela aborda traumas de abuso sexual em um período em que movimentos como o #MeToo não existiam. “Parece que agora eu ganhei o direito de me expressar”.
Sobre seu afastamento, ela diz que estava cansada. “Senti que estava correndo no vazio”, disse à vogue UK. Optou por cortar relações com sua galeria americana e se retirou por um tempo em sua fazenda em St. Tropez para resgatar sua energia e criatividade. “Nunca deveria ter exposto nos Estados unidos. Era muito jovem e não sabia o que estava fazendo, não tinha ideia do quão cruel é e como as coisas funcionam. Só o dinheiro importa”.
Hoje, além da casa em st. Tropez, ela tem um estúdio no bairro de Spitafields, em Londres, outro maior ainda em Margate, sua cidade natal, e um apartamento em Nova York. “Éramos sem teto quando eu era mais nova e acho que tenho tantas casas para me sentir segura. Aconteça o que acontecer, eu sempre terei uma casa”.
A Fortnight of Tears, de Tracey Emin, fica em cartaz de 3 de fevereiro a 7 de abril na galeria White Cube Bermondsey, em Londres.