Uma exposição cancelada virou um processo artístico que está sendo transmitido ao vivo em uma história que transforma o processo na exposição em si.
O artista carioca Edu de Barros tinha um projeto planejado para exibir na Sé Galeria, em São Paulo. Veio do Rio com sua equipe, alugou um airbnb e começou a organizar a montagem, que aconteceria em uma imersão de três semanas pintando afrescos na galeria que ocupa uma das casas da vila modernista de Flavio de Carvalho. Dois dias depois que ele chegou, explodiu o coronavirus e o isolamento começou. Por motivos que a gente já sabe, a galeria foi fechada e a abertura da mostra cancelada.
Mas Edu já estava aqui, com todo material de trabalho à disposição, e sem poder voltar para o Rio. Resolveu ficar em quarentena na galeria até a situação se estabilizar e continuou produzindo, transmitindo ao vivo seu processo (lindo) e transformando movimento e ação em um conteúdo artístico legítimo.
Você pode acompanhar o projeto Cropped por seu site e perfil do Instagram.
@edudebarros @segaleria #fénasé
O mais curioso são as coincidências que rondam essa história, a começar pelo texto da curadora Clarissa Diniz, que menciona processos apocalípticos e o fato do artista se chamar de Profeta (edu the profeta). “É uma produção absurda, numa consonância histórica com o que está acontecendo”, diz a galerista Maria Montero, dona da Sé.
Em seu perfil no Instagram, Edu conta: “atualmente moro na Rocinha e vim parar em SP para, à princípio, fazer um retiro de duas semanas no espaço da Sé Galeria, o que agora se tornou uma quarentena com tempo indefinido, já que os ônibus interestaduais pararam de rodar e fica difícil retornar”.
Mas com o investimento feito e todo o apoio que recebeu para conceber Cropped, Edu nem pensou em parar. “A ideia agora é ficar por aqui isolado na galeria, um lugar que pode me acolher e à equipe que veio comigo – produzindo até que a situação fique mais estável”.
A exposição foi ressignificada em um gesto tão poético quanto potente. Sem querer, a arte fez seu caminho.