Entre 1979 e 1980, Jean-Michel Basquiat, na época com apenas 19 anos, morou com a sua então namorada Alexis Adler no East Village de Manhattan, em NY – mais especificamente no sexto andar de um prédio da East 12th Street. Nesse período, Basquiat havia abandonado o seu projeto SAMO©, das tags grafitadas nas ruas, e, enquanto Adler trabalhava, ele ficava no apartamento fazendo experimentos artísticos onde fosse possível, em roupas, paredes e portas ou até nos móveis e pisos.
Foi uma fase importante na vida do artista, quando vendia roupas na rua para pagar seu aluguel e comprar telas para pintar. Saindo do espaço público às galerias, um ano depois ele se tornou um dos principais pintores da década de 1980.
Hoje, aos 60 anos, a embriologista Alexis Adler ainda vive nesse mesmo apartamento. Foi em 2012, ao visitar uma palestra sobre Basquiat na faculdade de seu filho, quando percebeu que deveria compartilhar essas obras íntimas do artista, as quais ninguém jamais havia visto. “Era uma sala lotada de jovens curiosíssimos sobre qualquer mínimo detalhe da vida de Jean”, disse Adler ao The New York Times.
Em 2014, ela chegou a vender algumas obras à casa de leilões Christie’s, porém as irmãs de Basquiat, responsáveis pelas propriedades do artista, processaram a casa alegando propaganda enganosa, uma vez que aquelas obras não eram de seu conhecimento e jamais haviam passado por uma autenticação. Foram devolvidas.
No ano seguinte, Adam Lerner, diretor do Museu de Arte Contemporânea de Denver (Colorado, EUA), entrou em contato com Adler a respeito de sua coleção, que inclui mais de 100 fotos dos momentos íntimos de Basquiat atuando e criando, objetos de arte – como a escultura feita com um radiador velho achado na rua no qual ele escreveu “milk” –, e coisas efêmeras da época, como desenhos e colagens em cadernos, todos feitos no apartamento.
A partir deste mês, tais peças estão expostas na mostra Basquiat Before Basquiat: East 12th Street, 1979-1980, no MAC de Denver, onde foi criada uma simulação parcial do apartamento para ambientar os visitantes nesse estúdio temporário do artista, assim como a reprodução dos grafites que ele fazia nos corredores e escadarias de edifícios.
“O tempo que Basquiat viveu com Alexis foi um momento importante de transição, porque ele ainda estava explorando diversas formas criativas com a mesma paixão, incluindo as músicas que ele fazia, as performances, os desenhos e textos”, explica Nora Abrams, curadora da mostra.
Uma das fotos mostra Basquiat tocando clarinete na borda de sua banheira; outra, a instalação que fez dentro da geladeira da casa, na qual colocou uma televisão para assistir a programas sobre política (dentre os quais aparecia um jovem George Bush), com um capacete de baseball na cabeça; ou quando ele cortou o cabelo na metade da cabeça para se sentir como se estivesse “indo e vindo ao mesmo tempo”, conforme ele mesmo explicou na época à Adler – o artista morreu numa overdose de heroína em 1988, aos 27 anos.
A parte boa àqueles que admiram o artista e não podem visitar o Museu é que um livro acompanha a exposição, com o mesmo título da mostra e conta os detalhes da época do fatídico apartamento, além de textos críticos e lembranças pessoais de amigos escritores, músicos, historiadores e cineastas do artista. A curadora Nora Abrams escreve sobre o contexto histórico da arte na época e analisa o trabalho do artista a partir deste período.
O livro pode ser adquirido no e-commerce do Museu, que entrega no Brasil!
Basquiat Before Basquiat: East 12th Street, 1979-1980 estará em cartaz no Museu de Arte Contemporânea de Denver até o dia 07 de maio.