Antes de ter uma carreira de sucesso escrevendo livros, dirigindo filmes independentes como Eu, Você e Todos Nós e desenvolvendo um app em parceria com a Miu Miu, o Somebody, Miranda July criou, em 1995, o projeto feminista de vídeos Joanie 4 Jackie, que buscava distribuir e chamar atenção para o trabalho de videomakers mulheres do mundo todo, começando por Portland, cidade onde morava na época.
Originalmente intitulado Big Miss Moviola e inspirado no movimento Riot Grrrl, o projeto DIY funcionava como uma corrente, mas em vez de cartas, fitas de vídeos. July distribuia panfletos na porta de shows de punk pedindo que artistas e diretoras a enviassem seus curtas e cinco dólares para entrar na corrente e se associar ao movimento e ela mandava de volta uma fita VHS com 10 outros vídeos e filmes dirigidos por mulheres. Bandas como Bikini Kill e Heavens to Betsy também levavam os panfletos com elas para distribuir durante suas tournées.
“Num mundo pré-YouTube, esse foi o único jeito de vermos o trabalho umas das outras e saber que não estávamos sozinha”, explica Miranda. “Não é exagero dizer que tudo o que já fiz foi com essas artistas e público em mente. Nós demos umas às outras um espaço poderoso. Nele mantive meu coração e dele construí coisas, frequentemente lidando com a insidiosa e desanimadora misoginia”.
Parte da coleção de vídeos, panfletos e cartas de participantes do movimento estão compilados no site recém-lançado joanie4jackie.com. E foram doados pela artista ao The Getty Research Institute (que possui arquivos de Robert Mapplethorpe e do grupo Guerrilha Girls) para serem catalogados, digitalizados e disponibilizados para acadêmicos.
Mais do que uma cápsula do tempo com teor sociopolítico e cultural, o projeto é bastante pessoal para July. “Eu queria ser uma diretora, mas nunca havia feito um filme, então esse foi um verdadeiro desafio para mim. O Riot Grrrl nos permitiu pegar nossas guitarras e cantar sobre nossas vidas com uma paixão que tornava a maestria [técnica] irrelevante. Será que o mesmo não poderia ser feito com filmes?”, diz ao The New York Times. “Através de Joanie 4 Jackie aprendi a me conceber como diretora – a criar uma comunidade escondida dentro de uma cultura maior que eu nem sabia que existia. Isso me ajudou em todas as áreas da minha vida e minha maior esperança é que esses arquivos proporcionem espaço para novas ideias de redes de trabalho, sobrevivência e uso da tecnologia”.