Muitos já conhecem a The White Cube, uma das galerias mais prestigiosas de Londres. Mas e o The White Pube? Essa foi a sacada irônica da dupla Gabrielle de la Puente e Zarina Muhammad, que criaram uma plataforma online para publicar críticas semanais de exposições.
Elas assinam como The White Pube e seus textos têm chamado atenção no mundo das artes não só pela sua sinceridade e tom provocador, mas também porque elas escrevem de uma maneira solta e em seus próprios termos, como se estivessem conversando pelo whatsapp, com abreviações, emojis e td. “Os reviews refletem nosso encontro imediato com a arte. Nós gostamos de abordar o assunto como se estivéssemos falando com amigos ou pelo messenger do Facebook, muito mais do que um texto no ‘Evening Standard'”, dizem em entrevista ao The Guardian.
As críticas são publicadas todos os domingos e elas cobrem desde grandes instituições, como a Tate Modern, a galerias independentes de jovens artistas. “Queremos escrever críticas de arte que as pessoas vão gostar de ler. Textos críticos que apoiam os artistas e, mais importante, que de fato diga algo, e não apenas um textão que descreve o que tem na exposição e depois vai embora (estamos falando com você, ArtReview)”.
Gabrielle e Zarina se conheceram na faculdade (Central Saint Martins) e desde então são como almas gêmeas. Ambas têm 23 anos, vivem com seus pais (uma em Londres, outra em Liverpool) e têm construído uma comunidade, não só de fãs, mas de pessoas que também têm o que dizer e que podem adicionar às discussões. Que amam arte, mas não se vêem representados neste sistema, especialmente o das publicações especializadas. “Começamos a escrever sobre arte porque todo o resto era um tédio / super acadêmico / white nonsense e masculino”, dizem em seu site. “Cada review é uma reação pessoal, um encontro com uma experiência estética. Nós queremos escrever bem e não aquela porcaria geral que faz com muitos de nós nem queiram ir a uma galeria”.
Assim, o The White Pube foi crescendo e a dupla incorporou novos elementos à plataforma: além dos reviews, há podcasts com pensamentos soltos sobre a arte, uma biblioteca online em que outros colaboradores podem ajudar a construir enviando seus textos, e um projeto de residência em que artistas podem “ocupar”uma página do site por um mês.
As meninas estão sendo chamadas por veículos como Guardian e Dazed como as críticas de arte mais engraçadas, corajosas e com mais frescor que existe hoje. E de fato, elas representam uma nova geração e agem como tal.
Uma prova disso é um link no site em que publicam suas contas, revelando o quanto ganham em todos os trabalhos que fazem. Além da transparência inédita num universo como o das artes plásticas, esses dados podem servir como um guia para jovens profissionais aprenderem a cobrar por seus trabalhos. Seguindo com a mesma honestidade, elas também criaram uma iniciativa de apoio que permite que seus leitores façam doações. Assim como as galerias e os museus têm seus patronos, elas também tem. A The White Pube já tem 164 apoiadores que rendem US$ 409 por mês, dinheiro usado para pagar pelas despesas de viagens para visitar exposições. Essa comunidade de apoio, que é tipo um crowdfunding, permite que as pessoas doem a partir de 1 dólar, ou seja, é acessível para qualquer um que acredite no projeto. “Se você não pode nos ajudar desta forma, então compartilhe ou escreva um tweet sobre nosso trabalho”.
Incrível iniciativa, totalmente transparente em todos os seus aspectos. Não é uma surpresa que elas estão subindo como um foguete. Sua maneira confessional e pessoal de escrever, junto com seus posicionamentos políticos que sempre aparecem nos textos, fazem com elas sejam relevantes para uma audiência jovem da forma que as publicações tradicionais não conseguem mais. Olho nelas.