A Netflix acaba de lançar um documentário sobre a mais recente exposição do artista britânico Damien Hirst. Em abril do ano passado, depois de 13 anos sem apresentar uma mostra inédita, Hirst retornou com a superlativa Treasures From the Wreck of the Unbelievable, que ficou em cartaz em Veneza, Itália, até dezembro último. Com 189 obras, a expo ocupou dois museus, um ao lado do outro: o Palazzo Grassi, com seus 5.000 m² no Grande Canal, e o Punta della Dogana, antiga alfândega de Veneza – ambos pertencem a François Pinault, colecionador de longa data das obras de Hirst e fundador do grupo Kering, conglomerado que detém grifes como Gucci, Saint Laurent e Balenciaga.
Logo que foi lançada, a mostra gerou controvérsias e dividiu opiniões. Hirst fez uma espécie de autorretrato e se apoiou no mito que conta a história de Cif Amontan II (anagrama para “I am fiction”), um escravo que viveu entre o primeiro e o início do segundo século antes de Cristo. Amontan era um grande colecionador, assim como Hirst, e desejava criar um espaço para guardar e contemplar toda sua coleção, porém, para tanto precisava transportá-la. Como era extremamente abundante, com esculturas oriundas de diversas culturas (romana, asteca, inca, egípcia, entre outras), ele a colocou num navio colossal chamado Apistos (inacreditável, em grego), que naufragou.
Mais de dois mil anos depois, em 2009 uma equipe de arqueólogos marinhos descobriram esse naufrágio na costa leste da África. Hirst foi quem os patrocinou para que pudessem continuar a explorar os tesouros perdidos de Amontan. Ou seja, a mostra levou sete anos para ficar pronta – e quatro meses para ser montada.
Para os críticos, dividiu opiniões. Jonathan Jones, do The Guardian, adorou e a avaliou com cinco estrelas. “Quando eu vi pela última vez uma obra de arte contemporânea que surpreendeu, perturbou e me encantou tanto quanto isso?”, escreveu. Já Alastair Sooke, do The Telegraph, achou pavorosa e avaliou com apenas duas estrelas. “Em última análise, porém, Treasures from the Wreck of the Unbelievable oferece escala em vez de ambição; é um kitsch mascarado como alta arte”. “Como artista, o melhor que você pode esperar é que as pessoas discutam e tenham diferentes opiniões”, rebateu Hirst em entrevista à Vulture. O fato é que a mostra gerou US$ 330 milhões em vendas.
No fundo, o que prevaleceu foi um sentimento de ambiguidade. São tesouros que foram realmente de Cid Amontan II ou foram esculturas criadas ontem? Essa história é realmente um mito antigo ou foi criada pelo artista? Por isso, o documentário homônimo chega em boa hora para, ao longo de 90 minutos, mergulharmos juntos nesta história. “Pra mim, a exposição é sobre acreditar. Acreditar no passado. Acreditar em Deus. Acreditar em deuses. Ou não acreditar”, resume Hirst no doc. “E a crença é algo estranho, porque não há verdade absoluta. Os artistas não têm respostas, os cientistas não têm respostas, a religião não tem respostas. Mas de alguma maneira, coletivamente, criamos alguma verdade. Quer acreditemos em algo ou não, precisamos de algo”.
Assista ao trailer abaixo e clique aqui para assistir na Netflix.