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    Vanesa Beecroft: “Quero que o público se sinta envergonhado”

    Vanesa Beecroft: “Quero que o público se sinta envergonhado”

    POR Camila Yahn

    O segundo dia da 6ª edição do Pense Moda começou com uma mesa redonda que reuniu os coordenadores dos  principais cursos de moda de São Paulo para discutir o tema “Educação de moda no Brasil: Como olhar e pensar o futuro da educação em moda”. Mediados por Carol Vasone, Lázaro Eli, do Senac, Raquel Valente, da Faculdade Santa Marcelina, Ivan Bismara, da FAAP e Isabella Prata, fundadora da Escola São Paulo, traçaram um panorama da situação atual no país e debateram temas como os problemas que os alunos enfrentam ao começar um curso de moda, a profissionalização do tema e as principais diferenças entre a educação de moda no Brasil  e no resto do mundo.

    Entre os 151 cursos de moda que o país oferece, aprovados pelo MEC (Ministério da Educação), sem contar com os cursos livres, a opinião geral é de que a área de moda viu uma profissionalização muito grande na última década. No final dos anos 70/início dos anos 80, a moda no Brasil era amadora, o que fez surgir a necessidade de criar cursos de graduação para os trabalhadores da área e não apenas basear o ensino em cursos livres, o que ajudou a profissionalização do setor. “Hoje temos gente muito profissional, mas falta o mercado se profissionalizar”, esclarece Ivan Bismara, atuante na área há 25 anos.

    “A moda enquanto educação vem crescendo por necessidade do mercado”, explica Lázaro Eli. “O aluno que entra tem um problema: ele é jovem, sem informação e com um sonho de glamour. O momento em que ele entende de fato o que é esta profissão é o momento em que entra em uma escola”, acrescenta, adereçando os conceitos que os alunos têm antes de entrar em uma faculdade de moda e a importância que a faculdade tem em esclarecer o aluno. Já Isabella Prata não partilha da mesma opinião. Fundadora de uma escola especializada em cursos livres, ela acha que o aluno é mal recebido nas faculdades, pois estas estão criticando o público sem fazer a devida autocrítica. Isabella aponta também a importância da multidisciplinaridade e da interseção entre os cursos, sublinhando que muitas vezes os alunos que querem atuar na área de moda não querem necessariamente ser estilistas, mas sim investidores ou empreendedores, e questiona a importância de certas disciplinas obrigatórias nas matrizes curriculares dos cursos da faculdade, muito focados ainda em criação. “A faculdade ensina a profissão, mas não prepara para a vida”, acrescenta Isabella, afirmando que os alunos não têm todos as mesmas expectativas em relação aos cursos e que deveriam ter mais liberdade na sua formação.

    A quantidade de formandos em design de moda foi também uma das questões discutidas. Segundo Lázaro, o crescimento da classe C e o aumento de opções de cursos de moda tiraram o status de exclusividade aos poucos estilistas que existiam – no sentido de que todo mundo hoje quer ser estilista – e aponta a falta de boas costureiras e modelistas. “Hoje o estilista que tem uma boa costureira ou modelista não larga por nada. Não adianta encher o mercado de estilistas”, diz. Já Raquel Valente defende que estamos vivendo outro momento na moda, e que a educação deve acompanhar os jovens de hoje, as suas exigências e modo de vida. “A nossa maior preocupação é entender a cabeça dos jovens. O Alexandre [Herchcovitch, que estudou na Santa Marcelina] era muito provocador, mas hoje o jovem vai muito mais além”, explica.

    A mesa terminou com a discussão da qualidade do ensino de moda no Brasil em relação ao exterior e o recente interesse no país e nas suas produções. Ivan Bismara citou o exemplo do sapateiro Jimmy Choo, que na sua recente visita ao país, mostrou interesse em pisar em solo brasileiro com mais frequência a partir de 2013, quem sabe até para lecionar. Raquel defende que existe uma maior tradição de moda em outros países ou capitais europeias, mas que hoje o Brasil é tão qualificado quanto o exterior e que as faculdades estrangeiras estão procurando faculdades brasileiras para parcerias e intercâmbios, e não apenas o contrário, como acontecia há pouco tempo. Embora estas sejam boas notícias, Isabella lembrou da importância de estimular o aluno estrangeiro a estudar a nossa história. “Não podemos deixar que se extingam técnicas manuais e de artesanato que acrescentam valor às nossas produções”, ela sublinha.

    A noite continuou com uma imersão profunda no trabalho da italiana Vanessa Beecroft, e uma interação com Graziela Peres, diretora de criação da “ffwMAG!” e com a estilista Karlla Girotto. A instigante artista começou mostrando um vídeo de uma das suas performances, VB55, realizada durante dois dias em Berlim, em 2005. “A performance de Berlim é lenta, pesada e glamorosa. Ela pode despertar um certo tédio, o mesmo que a plateia viu ao vivo”, explicou Beecroft a uma plateia expectante.  O vídeo dura aproximadamente vinte minutos e mostra 100 mulheres – “qualquer uma que viesse ao casting entrava, até chegar a 100”, explicou – usando apenas uma meia calça transparente, recebendo instruções que, aliás, são comuns a todas as suas exposições: “Não falem, não riam, não façam movimentos bruscos, evitem olhar diretamente para as pessoas, se estiverem cansadas podem sentar e, se tiverem que sair, façam-no de forma tranquila. Tentem aguentar até ao fim da performance”. “Quando falo as regras pergunto-me sempre: Será que eu faço o papel do homem que dá regras às mulheres ou são regras delas para elas mesmas?”, questionou a artista, sublinhando o papel da mulher na sociedade. No final do vídeo, convidados engravatados e senhoras de vestidos longos assistem às mulheres “caindo” pouco a pouco. Beecroft contou que o sentimento que quer provocar é de vergonha e provocação. “Às vezes até pedia para as pessoas irem de terno para criar ainda mais estranheza”, explicou. “Quero que o público se sinta envergonhado por estar ali, mesmo tendo sido convidado”, acrescentou, sublinhando os principais sentimentos que pretende despertar na plateia durante as suas exibições.

    Beecroft seguiu mostrando imagens das suas performances mais marcantes. A sua segunda exposição, em 1993, em Milão, foi a que despertou o seu interesse em provocar a plateia, quando em vez de uma exposição de desenhos, colocou as meninas. “Não foi bem visto. Falaram que eu era juvenil e que estava objetificando as mulheres”, explica. “Assim que percebi que estavam acusando a plateia de ser voyeurista e as meninas de serem prostitutas, eu decidi que ia fazer mais e mais, para testar os limites do espectador”.

    E não são só mulheres que aparecem em suas performances. Na instalação VB39, realizada em 1999 em San Diego, Beecroft utilizou marinheiros norte-americanos, os US Navy Seals. “É diferente fazer a performance com homens. Eles não se desmontam, enquanto que as mulheres parecem um Pollock derretendo”, diz. Quanto à nudez, presente em quase todas as suas performances, a artista explica: “Era a referência que eu via na escola quando pintava modelos. Na escola estudei todas aquelas coisas de abstracionismo e pintura e acabou que na minha carreira só mostro mulheres nuas”, brinca.

    Ela disse ter vergonha de admitir que gosta de moda, mas Beecroft já fez vários trabalhos para grifes, ou apenas parcerias com designers. Na mesma época da exposição em Berlim, na qual decidiu não colocar nada que embelezasse as meninas, a Louis Vuitton chamou a artista para expor em uma de suas lojas em Paris. “Coloquei as meninas de salto alto, encaixadas nas prateleiras da loja, junto das tradicionais malas da marca”. Na exposição VB60, realizada em 2007 na Coreia do Sul, o figurino foi desenhado pela Margiela, que ao lado de Helmut Lang, está entre seus criadores favoritos – “eles desconstroem a moda”, explicou.

    Atualmente na exibição de número 72, os registros do seu trabalho podem ser encontrados em livros, fotos ou até no documentário que a artista fez no Sudão, embora ela tenha admitido que detesta qualquer reprodução das suas obras. “Sempre que vejo uma reprodução do meu trabalho, odeio. Ou porque é muito bonito, ou porque é muito feio, e penso: “Será que devia fazer só coisas efêmeras?”. Quando vejo o meu livro, tenho muita vontade de queimá-lo. Queria ter feito tudo em bege, que é a minha cor favorita”, disse Beecroft.

    + Veja a entrevista que o FFW fez com Vanessa Beecroft

    + Regina Guerreiro: “Ou você se entrega, ou faz outra coisa”, e mais do dia 1 de Pense Moda 2012

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