Por Luísa Graça
Depois da temática politizada da edição de 2015, All The World’s Future, a 57a Bienal de Artes de Veneza chega leve e resplandecente sob o tema Viva Arte Viva. O mundo ficou mais sombrio nesse meio tempo, é verdade, mas aliviar o pessimismo e preocupação através da celebração do papel do artista e de seus processos de trabalho pareceu uma tarefa necessária, segundo Christine Macel, curadora-chefe do Centre Pompidou e quem encabeça a curadoria desta Bienal. “Num mundo cheio de conflitos e solavancos, arte é a parte mais preciosa do ser humano”, comenta.
Aberta ao público a partir deste sábado, 13.05, esta edição conta com o trabalho de 120 artistas, de nomes proeminentes da cena contemporânea como Kader Attia (vencedor do Prêmio Marcel Duchamp 2016), o albanês Anri Sala e Philippe Parreno, atualmente em cartaz na Tate Modern; a jovens artistas como as videomakers Rachel Rose e Agnieszka Polska e o duo filipino Issay Rodriguez e Katherine Nuñez; e, claro, alguns veteranos como Olafur Eliasson, com seu projeto Green Light, Damien Hirst e até o cineasta John Waters, com a série de esculturas que se assemelham a placas de aviso, mas politicamente incorretas. Nomes como Paulo Bruscky, Ernesto Neto, Erika Verzutti e Cinthia Marcelle representam a arte brasileira.
Além de ocupar o Arsenale e o Giardini, onde se encontram os pavilhões dos países e a mostra central Viva Arte Viva, arte ocupa toda Veneza durante a Bienal, com instalações em pontos turísticos, como as torres douradas de James Lee Byars, e exposições em diversos casarões. Aqui, a gente conta os 5 pavilhões que estão dando o que falar e sugere 10 mostras espalhadas pela cidade que você pode conferir tranquilamente enquanto passeia.
No Giardini, 5 pavilhões que você não pode deixar de ver
Alemanha
Faust, de Anne Imhof
Nos próximos meses, o pavilhão alemão recebe a artista de performance Anne Imhof e seu time de dançarinos, modelos e amigos, todos vestidos de preto em roupas urbanas numa espécie de pseudo-ópera. A ideia de Imhof é sugerir radicalismo coletivo como a única maneira de nos libertar de uma forma repressiva de capitalismo. Um crítico do Observer se pergunta: “Faust é realmente arte ou simplesmente uma campanha viva e exagerada de um lifestyle de vida curta que veio e foi embora rápido demais?” Vale visitar pra tentar responder.
Brasil
Chão de Caça, de Cinthia Marcelle
Para criar seu site-specific para a Bienal, a artista mineira tomou a própria construção modernista do pavilhão brasileiro como ponto de partida. Um piso industrial, grade e pedras compõem a instalação de Cinthia, que ainda apresenta outros elementos como esculturas, uma série de pinturas e um vídeo, que ilustra condições de encarceramento. “O trabalho dela tem a ver com ambigüidade. Ela cria um ambiente enigmático, dirigido por suspensão, obsessão e rebeldia. Essa instalação provoca uma sensação de instabilidade”, explica o curador do pavilhão este ano, Jochen Volz.
Estados Unidos
Tomorrow is Another Day, de Mark Bradford
Baseado em Los Angeles, Bradford é conhecido por suas colagens evocativas e multidisciplinares. Seu trabalho na Bienal apresenta várias camadas para traçar uma narrativa que mistura experiência pessoal com história social e, de acordo com o artista, reflete sua crença “na capacidade da arte de expor histórias contraditórias e inspirar ação”. As instalações ocupam as cinco mini-galerias do pavilhão americano e cobrindo parte das paredes, tetos e domos, como uma caverna.
Finlândia
The Aalto Natives, de Nathaniel Mellors e Erkka Nissinen
A primeira colaboração dos dois artistas é resultado de um interesse em comum por humor, sátira e caricatura. A instalação de vídeo apresentada na Bienal inclui um filme e duas esculturas em animatronic, que representam dois seres superiores que criaram a Finlândia e, milhões de anos depois, a visitam. Tentando entender o que aconteceu com o lugar nesse período, entram em discussões bem-humoradas sobre política, mídias sociais e ética.
Reino Unido
Folly, de Phyllida Barlow
A mostra na Bienal marca uma renascença na carreira da artista britânica de 73 anos. Conhecida por ensinar e apadrinhar artistas vencedores do Prêmio Turner, ela exibe no pavilhão britânico uma série de esculturas colossais – estruturas provisórias, empedradas e remendadas, que vazam para fora do prédio, tomando também o espaço de fora. Um crítico resumiu a sensação que o trabalho com pinta urbanística da artista evoca como: “na sarjeta, mas olhando para as estrelas”. Algo que diz respeito ao mood do evento neste ano.
Mostras de arte por toda a cidade
The Boat is Leaking. The Captain Lied
Fondazione Prada – 10.05 a 26.11
Com um título no mínimo curioso e que remete à canção Everybody Knows, de Leonard Cohen, a mostra multimídia apresenta os resultados das colaborações entre o artista Thomas Demand, a figurinista Anna Viebrock, o escritor e cineasta Alexander Kluge e o curador Udo Kittelmann. Numa confluência de filmes, fotografias, espaços cênicos e visuais e objetos de arte, os artistas querem tornar o palazzo do século 18 em um local metafórico “para a identificação da complexidade do mundo em que vivemos”.
Pierre Huyghe
Espace Louis Vuitton – 10.05 – 26.11
Parte do programa Beyond the Walls, da Bienal, a mostra modesta do artista multidisciplinar ocupa o andar de cima da loja da Vuitton com três obras. Silence Score (1997), uma transcrição de uma performance de 4:33, do John Cage; A Journey to Antarctica (2005), um filme sobre uma viagem do francês ao continente em busca de um pinguim albino; e Creature (2005-11), um pinguim feito em fibra de vidro, bem no teto do espaço.
Very Boxing versus Very Chic, de Scarlett Rouge
Bargenale, Giudecca – 11.05 a 18.05
Michèle Lamy e Rick Owens armam novamente sua Bargenale, espaço social com cozinha aberta e lounge sobre o mar, onde a dupla recebe convidados para almoços, brunches e gatherings. Lá a artista Scarlett Rouge, filha de Lamy, exibe seus sacos de pancada inspirados em Rocky e Francis Bacon como parte da instalação Very Boxing versus Very Chic.
Intuition
Palazzo Fortuny – 13.05 a 26.11
A sexta exposição com curadoria de Axel Vervoordt no Fortuny, presta-se a investigar o tema intuição e formas de conhecimento que não podem ser explicadas com palavras. Em meio a incrível arquitetura e coleção de arquivo do palazzo – uma atração por si só, obras de Klee e Kandinsky misturam-se a trabalhos surrealistas de Breton, Masson e (da super intuitiva) Hilma Af Klimt e obras site-specific de artistas contemporâneos. O velho e o novo justapostos.
Philip Guston and the Poets
Gallerie dell’Accademia – 10.05 a 03.09
Por mais que as obras de Rembrandt, Beckmann e Mondrian fossem uma referencia para Philip Guston, quando o perguntavam a quem ele estudava, ele citava autores tais quais Dostoiévski e Kierkegaard. A mostra foca na influência da literatura e de poetas como T.S. Eliot, W.B. Yeats, D.H. Lawrence e Eugenio Montale sobre o trabalho do pintor canadense.
Poolside Magic, de Chris Ofili
Victoria Miro – 10.05 a 01.07
Inaugurando a galeria Victoria Miro em Veneza, Chris Ofili apresenta uma série de 27 aquarelas e desenhos em carvão e giz pastel sobre papel, feitas entre 2012 e 2013. O artista natural de Manchester, na Inglaterra, também está em cartaz com uma mostra solo na National Gallery, em Londres, e é, certamente, um dos nomes mais incensados desta edição da Bienal.
Threading Light, de Mark Tobey
Peggy Guggenheim Collection – 06.05 a 10.09
Durante o período da Bienal, quatro mostras tomam o Palazzo Venier dei Leoni, onde fica a Peggy Guggenheim Collection, apresentando um leque de tradições da pintura modernista. A primeira delas apresenta uma retrospectiva do trabalho do americano Mark Tobey e suas contribuições para o abstracionismo. As pinturas surrealistas de Rita Kerrn-Larsen também serão expostas no museu (Surrealist Paintings), assim como uma seleção de desenhos e pinturas de Pablo Picasso com o tema Picasso on the Beach e o simbolismo místico do Salon de la Rose+Croix, em Paris.
Space Force Construction
V-A-C Foundation – 13.05 a 26-08
Novíssimo espaço dedicado a exposições e residências de arte em Veneza, fundado pelo bilionário russo Leonid Mikhelson, a VAC Foundation abre suas portas com uma exposição coletiva de arte moderna e contemporânea. Artefatos históricos pós-Revolução Russa e obras comissionadas a artistas engajados na política contemporânea como Tania Bruguera, David Goldblatt, Barbara Kruger e Wolfgang Tillmans aparecem aqui.
Gente di Palermo!, de Douglas Gordon
Palazzo Ducale – 13.05 a 24.11
O palazzo mais famoso da cidade recebe a première mundial da instalação em vídeo do artista escocês Douglas Gordon, que inclui um vídeo caseiro filmado na Cripta dei Cappuccini, em Palermo, um cemitério subsolo que abriga milhares de cadáveres embalsamados e expostos.
Spazio anche piú che tempo, de Carol Rama
Palazzo Ca’nova – 08.05 a 28.06
A primeira exposição veneziana da artista depois de sua morte, em 2015, coincide com a retrospectiva New Museum, em cartaz em Nova York. Com mais de 30 trabalhos da italiana, vencedora do Leão de Ouro em 2003, a mostra explora diferentes fases de seu desenvolvimento.
Treasures from the Wreck of the Unbelievable, de Damien Hirst
Punta della Dogana e Palazzo Grassi – 09.04 a 03.12
Damien Hirst levou 10 anos para concluir os trabalhos dessa mostra, que marca sua primeira solo inédita em 13 anos e ocupa os cinco mil metros quadrados das duas propriedades de François Pinault. Com obras monumentais, Treasures… imagina um naufrágio fictício do qual o artista escavou os objetos em exibição – de esfinges com rosto de celebridades à la Pharrell e Sienna Miller a uma escultura de 18 metros de altura, exposta no átrio.