Por Isabela Serafim, via Holistix*
Chrissy Teigen, Victoria Beckham, Monica Benini, Renata Vanzetto, Fernanda Neute. Essas são apenas algumas das centenas de mulheres que tiraram o silicone nos últimos tempos e voltaram a ter seios com tamanhos naturais. Elas resolveram falar sobre o assunto na internet, dando voz ao movimento que começou nos Estados Unidos há cerca de 6 anos e ressalta a “Doença do Silicone” ou “Síndrome de ASIA”, quadro de doenças relacionadas à presença da prótese no corpo feminino, com sintomas como fadiga, vertigem, palpitações cardíacas, inchaço, dor nas costas, insônia e sinusite. Com o aumento dos depoimentos nas redes sociais e exposição na mídia, o “explante de silicone”, como é chamado, passou a ser discutido entre especialistas das mais diversas áreas de atuação.
O que começou como um questionamento de pacientes em grupos no Facebook já ganha espaço na ciência: em setembro de 2020, o FDA (órgão regulador americano) publicou uma série de orientações sobre o risco de doenças relacionadas ao silicone. ”O FDA tem monitorizado e estudado o câncer associado à prótese de mama, chamado Linfoma Anaplásico de Células Grandes, ou das iniciais em inglês, BIA-ALCL”, explica o cirurgião plástico Ricardo Miranda. “As hipóteses mais aceitas são de uma reação inflamatória crônica do organismo frente à prótese, a exacerbação de mecanismos autoimunes e pessoas com predisposição à presença de uma película de bactérias aderidas à prótese que se chama biofilme”, completa.
Nana Lima, Diretora de Impacto Think Eva e Think Olga, acredita que o fenômeno faz a gente refletir sobre o nosso relacionamento com o corpo. ”São tantas camadas de questões e opressões as quais somos submetidas que temos que voltar pra raiz da coisa, que na maioria das vezes é um padrão de beleza inalcançável. O silicone é um procedimento mais invasivo do que um alisamento no cabelo ou uma depilação. Além disso, padrão de beleza muda. O quanto vamos ficar correndo atrás dos padrões? Acho que o lance é entender de verdade o motivo. E que ele não seja uma imposição estética, uma não-aceitação”, diz.
Nicole Vendramini, cofundadora da Holistix, marca de produtos de bem-estar, passou pelo processo de explante há 3 anos e se deparou com várias questões no caminho. “Olhando para trás, me espanto com o fato de considerarmos normal inserirmos dois grandes plásticos de origem duvidosa dentro dos nossos corpos.” A influenciadora Fernanda Neute usa frequentemente suas redes sociais para jogar luz ao tema. “As próteses desencadearam um processo inflamatório que serviu de gatilho para que eu desenvolvesse uma série de doenças autoimunes e causaram uma infecção de baixo grau que estava destruindo o meu sistema imunológico lentamente nos últimos 4 anos”, conta.
A médica fisiatra Maike Heerdt explica que um estudo publicado em julho de 2020 liderado pela médica Lu-Jean Feng, uma das pioneiras a falar sobre o tema no Estados Unidos, aponta melhora de uma lista de sintomas relatados logo após a retirada das próteses de silicone: dormência e formigamento nas extremidades, dor muscular e/ou articular, perda de cabelo, perda de memória/problemas cognitivos, olhos secos e/ou visão borrada, fadiga crônica, dor no peito, urticária e erupção cutânea, dificuldade para respirar. E como identificar se a retirada é indicada para uma paciente? “Faço uma analogia do cigarro com as próteses de silicone. Pois vivemos algo muito parecido na década de 90, quando começaram a surgir dados consistentes sobre efeitos do cigarro no corpo. Por isso, podemos trocar tranquilamente a pergunta ‘quem deveria se submeter ao explante?’ por ‘quem deveria parar de fumar?’. A resposta é a mesma”, explica Maike.