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    Nome quente do mercado, Amanda Schön transforma maquiagem em ativismo
    Nome quente do mercado, Amanda Schön transforma maquiagem em ativismo
    POR Redação

    Por Isabella de Almeida Prado

    Ao entrar no backstage da A.Brand, já dava para perceber que o clima era diferente; era o tom dado por Amanda Schön, maquiadora de 31 anos que assinava sua primeira beleza de um desfile do SPFW. Muito calma, ela massageava com toques leves o rosto de uma das modelos que esperavam para começar a maquiagem, enquanto conversava com um grupo de quatro jornalistas.

    Amanda é um dos nomes mais interessantes do mercado atual. Além de transformar a maquiagem em uma forma de expressão artística, a maquiadora vai na contramão da beleza como acessório e usa seu trabalho como meio de levantar bandeiras políticas e disseminar a causa feminista e da diversidade no mercado de moda. “Eu sei que certas informações não chegaram para algumas pessoas ainda, mas já chegaram pra mim e eu quero compartilhar isso. Estou o tempo todo defendendo essas bandeiras”, afirma.

    Este é um momento importante na carreira da maquiadora, que recentemente assinou ensaios da “FFWMAG” #42 trabalhando com Zee Nunes, Dani Ueda e Pedro Sales. Já no SPFW, ela fez a beleza da A.Brand, o cabelo da Iódice e toda a beleza da Just Kids. O trabalho tem agradado: “Amanda captou bem o espírito da marca. Fizemos uma prova de maquiagem e foi maravilhoso. Brilho saudável e beleza natural”, diz Ana Claudia Zander, diretora criativa da A.Brand.

    Confira abaixo um bate-papo com a maquiadora, logo após o desfile da grife carioca na terça-feira.

    A Brand SPFW - N42 Outubro / 2016 foto: Sergio Caddah/ FOTOSITE

    Amanda Schön no backstage da A.Brand ©Sergio Caddah/Agência Fotosite

    Quando foi o seu primeiro contato com a maquiagem?

    Minha família disse que foi desde criança. Eu gostava muito, maquiava todo mundo com a maquiagem da minha avó, até meu avô. Mas a vida vai correndo e os caminhos vão mudando…

    Qual é a sua formação?

    Eu cursei Publicidade. Sou de São Bernardo, que apesar da proximidade com São Paulo, é bem provinciana. Lá uma carreira é você sair da escola, fazer faculdade e entrar em uma empresa, de preferência uma multinacional. Era essa a responsabilidade que eu sentia nas minhas costas. Nunca consegui olhar para as coisas que eu gostava de fazer como uma maneira de trabalhar, uma profissão. Fui gerente de banco com 18 anos. Uma vez fui em um salão em São Bernardo. Ia cortar o cabelo e peguei as coisas que estavam por lá e comecei a me maquiar. O maquiador de lá, o Eduardo Hyde, falou para mim “cara, você já pensou em maquiar alguém?” e eu disse “não” – apesar de que sempre fui a pessoa que maquiava as amigas, fazia o cabelo de todo mundo. Fiquei com isso na cabeça e comecei a trabalhar como assistente dele no salão aos finais de semana.

    E quantos anos você tinha quando teve essa primeira experiência?

    Tinha 22 anos. Na época já tinha trancado a faculdade, no último ano. Ainda trabalhava no banco, tinha minha filha Alice e já estava grávida do Vicente. Isso foi acontecendo, até o momento que ele [Eduardo Hyde] começou a fazer os seus primeiros trabalhos de moda e eu ia acompanhando. Na época, ainda ia de modelo dele. Eu odeio, morro de vergonha. Mas começou assim, o interesse. Eu tinha responsabilidade de vida adulta já, com aluguel, contas, filhos. Então era complicado sair do banco e investir em uma carreira meio incerta e que existe um investimento de mala, equipamento…

    Quando você conseguiu sair do emprego e focar na profissão de maquiadora?

    Eu saí do banco e com o dinheiro que recebi de lá, montei a minha mala e comecei a trabalhar.

    E o envolvimento com a moda? Foi mais natural?

    Sempre foi uma coisa que eu gostei, mas era fora da minha realidade. As faculdades são supercaras e a minha família nunca teve grana. Eu trabalho desde os 13 anos. Então sempre foi uma coisa meio fora, até para a minha família, que gostava, mas dizia “como você vai bancar?”. Eu desisti. Vim trabalhar com isso depois, nunca queria salão, sempre vi a moda como maneira de me expressar artisticamente com a maquiagem e o cabelo.

    Qual foi o primeiro trabalho de moda que você fez?

    Fiz muito backstage com o Edu Hyde. O primeiro foi com ele, nem estava assinando, mas ele me chamou para a equipe. Esse dia eu lembro muito, meu primeiro backstage de SPFW; a primeira vez eu entrei e pensei “Caraca, que incrível!”. Pirei. Desde o primeiro dia, meu sonho era assinar um desfile, ver isso acontecer.

    Você lembra qual era o desfile?

    Era da Osklen.

    Hoje você trabalha com Dani Ueda, Zee Nunes, fez diversas colaborações para editoriais da nova “FFWMAG”. Como é esse novo momento?

    Ainda não parei para pensar sobre isso, tudo aconteceu tão rápido. Não é nenhum milagre, eu tenho construído a minha carreira. Nos últimos meses foi uma avalanche. As pessoas foram me conhecendo, dando oportunidade, e a primeira oportunidade viraram dez. O meu primeiro trabalho com o Zee Nunes foi agora, com a capa da “FFWMAG”, da Lorena [Maraschi], e já tinha trabalhado com o Pedro [Sales] antes. Quem me indicou para eles foi o Rodrigo Costa. Ele foi meu padrinho aqui em São Paulo, me apresentou para toda essa galera. É maravilhoso. Eu sinto segurança de trabalhar com eles, que sabem muito bem o que querem e ao mesmo tempo me dão abertura e liberdade criativa. Eu participo muito, a gente opina no trabalho um do outro. É realmente uma equipe, todo mundo colabora de fato. No começo da minha carreira, o meu lugar era do lado do monitor olhando se o cabelo saía do lugar. Hoje em dia, não é mais assim. Se eu tenho uma ideia de um acting da modelo ou de alguma coisa pro styling, eu tenho absolutamente toda liberdade de falar. E eu também dou essa liberdade para as outras pessoas, é incrível. Adoro trabalhar com eles, a vibe é muito boa e estamos sempre em comunhão. Não só com ele, mas também com o [Rafael] Pavarotti, que me dá imagens lindas, o George Krakowiak, que é um gênio também.

    Você não tem uma agência que cuida da sua agenda e trabalhos. O que te fez querer ter essa autonomia?

    Quando eu estava no Rio, eu tinha uma agência, mas eles não tinham uma sede lá, o que dificultava, porque eles não estavam me representando na cidade. Mas eu também sempre fui muito cara de pau. Quando fui pro Rio, já tinha mandado meu portfólio para todos os fotógrafos, stylists. De pouquinho em pouquinho, fui pegando trabalhos menores, depois maiores e foi rolando. Quando voltei pra cá, eu estava muito em busca do meu trabalho autoral. Investi um tempo para pesquisa, até para amadurecer a estética que eu estava tentando representar. No começo não tinha tanta demanda assim, então não precisava de alguém. Hoje em dia, já está ficando complicado. É muita demanda para cuidar e isso acaba me privando um pouco do meu processo criativo. Eu gostaria de ter alguém não exclusivo, mas que cuidasse de mim de uma forma mais próxima. Procuro manter essa relação com os meus clientes. Quando você está em uma agência, tem 300 maquiadores, óbvio que as pessoas não conseguem lidar com tanta proximidade nem de você, nem do cliente. Eu ainda não sei o que vai ser… De verdade! SPFW foi uma prova pra mim. Depois disso aqui, vou precisar de uma ajuda. Mas deu tudo certo, trouxe uma equipe a dedo, não pedi de agência. Consegui ter todo mundo que eu queria aqui. Próximo passo é encontrar essa pessoa ou grupo que consiga cuidar de mim de uma maneira mais pessoal.

    Em uma das fotos do editorial da Lorena Maraschi, na nova “FFWMAG”, ela aparece com uma marca de ferro na testa, como se tivesse sido queimada como gado. Uma imagem bem impressionante. Como você dá identidade ao seu trabalho? Dá para levantar bandeiras políticas por meio da maquiagem?

    Dá muito! Meu trabalho autoral é muito político. Até o que não é autoral. Óbvio que não é tudo que eu consigo levantar bandeiras no trabalho final, mas eu faço de tudo por trás para a gente não continuar repetindo erros que a gente sabe que estão massacrando e passando por cima de pessoas. Eu sei que certas informações não chegaram para algumas pessoas ainda, mas já chegaram pra mim e eu quero compartilhar isso. Estou o tempo todo defendendo essas bandeiras. Esse editorial foi incrível, porque foi o primeiro que fiz com o Zee e ele também é vegetariano, eu sou vegetariana e a Lorena também. Queria fazer algo contra o especioso, de achar que o animal não sofre ou vale menos que você. A nossa ideia foi fazer uma “punk farm”: o mundo que a gente conhece acabou, ela está numa fazenda em que todos os animais morreram e ela se alimenta e vive dos vegetais e usa acessórios dos animais. É de causar um pouco de desconforto, a questão da marcação, porque “no bicho não dói”, mas numa pessoa choca. Com todos os cuidados, a gente queria muito fazer isso. Meu trabalho tem disso, eu gosto de manchar a pessoa, de fazer uma cicatriz. Eles me deram uma liberdade criativa absurda nesse dia. A gente fez seis maquiagens diferentes e fluiu muito, consegui colocar o que eu queria.

    E como funcionam as campanhas? Você consegue ter mais liberdade?

    Tem todo um briefing, uma pesquisa de mercado. Mas acho que hoje, consigo ter mais liberdade. Mesmo nas campanhas, a minha pele é leve do mesmo jeito. Se tem uma característica da pessoa que está sendo tolhida em outros lugares, uma modelo de cabelo afro, não aliso de jeito nenhum. Quero ela com um cabelo desse tamanho! Estou em defesa das texturas, da diversidade. Mesmo em campanha, em um trabalho mais comercial, eu já consigo trazer essa mulher que eu acredito. Ela pode estar com um batom vermelho, laqueado, mas a pele muito leve.

    Ela é uma mulher que aceita as imperfeições, então?

    Exatamente, é autoconhecimento, aceitação e autoestima. Estamos em um momento de rever milhares de coisas, de descobrir a nossa autoestima, o quão maravilhosa a gente é sem todas essas capas, essas coisas que colocam em cima da gente compulsoriamente. Você pode amar usar maquiagem, mas não é legal ser escrava disso. Não é legal dizerem para você que você está bonita porque está maquiada, porque está tapando um monte de coisas que as pessoas dizem para você que é feio, mas na verdade não é, sabe? Esses moldes de maquiagem, que você ilumina aqui, marca ali. Não, cara! Cada rosto é um rosto. Tem gente que gosta da bochecha, então deixa ela vir. Tem gente que não gosta, mas se você mostrar pra ela que é bonito, de um outro jeito, ela vai passar a gostar. A minha mulher tem inseguranças, mas ela é independente, ela é uma mulher em descontração. Ela está aí querendo mostrar a cara dela mesmo, dizendo que faz o que ela quiser. Ela é linda na hora que ela acorda e na hora que vai dormir. Linda no dia que está com a cara lavada e linda quando está usando um olho preto com cílios postiços.

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    A beleza supernatural da A.Brand, criada por Amanda. Além da pele levemente iluminada, bochechas rosadas e cabelos marcados como se estivessem presos com elástico durante o dia na praia ©Agência Fotosite

    Existe não só no Brasil, mas no mundo, uma cultura da beleza disseminada por tutoriais do YouTube. Você acha que maquiagem é empoderamento?

    Isso é bem complexo. A gente acaba tendo mais mulheres que falam por isso, o que eu acho maravilhoso, porque no resto da mídia, existem mulheres que dizem o que homens falaram para elas dizerem. Até no mercado de moda, temos uma ideia que é produzida por homens. Ela veste mulheres, mas o nosso mercado é dominado. Estilo, styling, beleza… O que tem hoje no mercado de mulheres na beleza? São poucas, vista a quantidade de homens. Isso é meio complicado porque a gente continua a trazer referências do que é ser mulher, do que é ser bonita e estar na moda, mas é uma mensagem que a gente está recebendo de homens. A gente deixa de se sentir bonita, de saber como a mulher se sente bonita. E tem muita diferença! O que me assusta um pouco nesses tutoriais é que eles ainda são dentro desse modelo de beleza carregado e que serve para todo mundo. Tem a Nataly Neri que é maravilhosa e que está falando de empoderamento e de moda, mas ela compra as roupas dela no brechó mais barato, é garimpeira, e fala sobre a maquiagem que embeleza a beleza negra. Tem essas pessoas, mas o total ainda vem muito com a coisa da Kim Kardashian. Isso é uma coisa que veio lá de fora, mas ainda aparece por aqui. Você ilumina aqui, você marca ali e você está linda. Isso me preocupa um pouco, porque comunica com muita gente e não tem um contraponto, tipo, não, vou fazer aqui um tutorial de maquiagem que fica bom em mim. Minha boca é assim, mas se a sua for assado, desencana, é maravilhoso. Tem muito pouco ainda. De qualquer jeito, tem mais mulheres que estão falando; mesmo maquiada, ela está com uma câmera na frente dela, não está sendo dirigida ou roteirizada. Essa democracia da internet, com certeza, empodera a mulher.

    Dá para eleger algo de mais especial que você já fez em sua carreira?

    Cara, tive momentos realmente maravilhosos! Não só de expressão de trabalho, mas de exercer coisas, de colocar coisas que eu acreditava. Acho que hoje, o SPFW. Era o meu sonho, tinha todo mundo que eu queria do meu lado. Estou muito feliz com o resultado, com tudo que fiz. Eu não consigo classificar, cada um tem um significado especial.

    Você fez a maquiagem da Elza Soares, para a capa do último álbum dela…

    Nossa, Elza Soares! Um dos momentos mais incríveis da minha vida, não só da minha profissão. Sempre gostei da Elza, em casa a gente sempre escutou. Já admirava a história dela, só que quando você entra em contato com a pessoa e sente a energia ali, foi um set que a gente se emocionou o dia inteiro. Não era só eu não, todo mundo. Você olhava para as pessoas e elas estavam lacrimejando. É muito forte. Ela é a voz do milênio, mais reconhecida na gringa do que aqui. No mundo, as pessoas ovacionam essa mulher. Uma mulher negra, periférica, que teve um monte de filhos, sofreu todo tipo de violência, e está aí, cantando com a voz dela. Ela é guerreira, um ícone pra mim!

    Tem alguma pessoa com quem você tem o desejo de trabalhar? 

    Adoraria, como realização, estar no backstage com a Pat McGrath. Acho ela genial. E é uma mulher negra, ali nesse espaço, reinando há muito tempo.

    O que falta na beleza?

    Desconstrução. É isso. O que eu estou tentando fazer, que é desconstruir esses conceitos de beleza, deixa ela vir sozinha, do jeito que ela é. Uma vez que você desconstruir, você tem muito mais liberdade para brincar. Para colocar uma sombra azul, um desenho no meio da cara se você quiser.

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