Com a estreia de “Julieta” nos cinemas brasileiros na semana passada (07.07), a estética particular de Pedro Almodóvar voltou à tona, junto com o impacto que seu repertório cinematográfico causa toda vez que entra em cartaz. Cineasta espanhol mais conhecido mundialmente depois de Luis Buñuel (1900-1983), Almodóvar construiu um estilo extravagante, vibrante e dramático tanto do ponto de vista da imagem quanto do conteúdo. Da estética marginal e maximalista vinda das ruas da Movida Madrilenha à importância da mulher em todos os seus filmes, passando pela provocação de quebra de tabus, do ativismo gay, da crítica à igreja católica e, claro, de sua forte conexão com a moda, incluindo parcerias com Gaultier e Dior, veja a seguir 10 coisas que você precisa saber sobre Pedro Almodóvar, puxando um pouco a sardinha para o lado fashionista (afinal, somos um site de moda!).
1. Dior e ele
Em “Julieta”, o 20º filme de Pedro Almodóvar, o cineasta faz pela primeira vez uma colaboração com a Dior no figurino. E que colaboração. Até o brinco Dior Tibale, que virou febre mundial quando lançado, aparece no longa-metragem, usado por Bea (Michelle Jenner), a personagem vestida pela maison. Bea é uma jornalista que tem uma relação conturbada com Julieta (Emma Suárez/Adriana Ugarte), protagonista da trama. Um terno vermelho, a bolsa Diorama, além de um suéter preto e branco do Inverno 2016 da maison fazem parte dos looks usados pela personagem.
2. Jean Paul Gaultier
O estilista é colaborador habitual de Almodóvar, uma história que começou com “Kika” em 1994, quando Gaultier desenvolveu os figurinos da personagem Andrea Scarface (Victoria Abril) – uma celebridade televisiva que se vestia “como se tivesse sido vítima de uma catástrofe, mas com um toque de glamour” segundo a descrição do cineasta. O francês retornou em “Má Educação” (2003), no qual criou, entre outros, o vestido reluzente que lembra um corpo nu usado por Zahara (Gael García Bernal). Nesta década, Gaultier assinou o guarda-roupa de Vera (Elena Anaya), protagonista de “A Pele Que Habito” (2011), composto basicamente de segundas-peles para todo o corpo.
3. Estética kitsch
O mix de cores vibrantes e caóticas, os elementos trazidos da cultura popular usados tanto no figurino quanto na cenografia não são os únicos a definir a estética kitsch de Almodóvar: ela aparece não só nas imagens mas nas situações vividas pelas personagens, cercadas de dramalhões e melodramas e momentos tragicômicos.
4. A força das mulheres
“Empoderamento feminino” é uma realidade para Almodóvar antes mesmo desta expressão existir. Em seus filmes, especialmente Volver e Tudo Sobre Minha Mãe, as mulheres costumam estar no comando, exercendo sua independência e reinando, ou então sendo solidárias diante da perda. Esse poder, por sua vez, é encarnado por atrizes marcantes como Carmen Maura, Penélope Cruz, Cecilia Roth e Marisa Paredes.
5. Movida Madrilenha
O movimento cultural surgido na Espanha nos anos 1970 ainda pulsa forte nos filmes de Almodóvar. As comédias urbanas de hoje talvez não sejam tão exageradas quanto as que ele filmava há 30 anos, quando a energia de suas histórias passava por cima de qualquer roteiro, mas alguns dos elementos catalisadores da Movida permanecem: especialmente as drogas, as armas e as prostitutas.
6. Vermelho
A paleta de cores nos filmes de Almodóvar sempre foi vibrante, mas se há uma dominante, esta é o vermelho. Símbolo de amor, de paixão, de ódio e de sangue, ela parece simbolizar os sentimentos que o cineasta faz questão de evocar ao longo de seus filmes, seja no detalhe de um sapato ou num vestido, seja num cenário extravagante. “Uso o vermelho de uma maneira bem sensual – não importa a cultura, é sempre uma cor significativa”, já declarou o diretor.
7. A beleza do erro
Se Miuccia Prada é a rainha da “ugly beauty”, ou da beleza feia na moda, Almodóvar pode deter o título no cinema. Como Fellini, ele coloca em seus filmes figuras totalmente fora do padrão. Mas ao contrário do cineasta italiano, o efeito é menos de realidade fantástica e mais de realidade crua, da beleza cheia de defeitos das ruas, exposta de tal maneira que nos seduz, e faz uma mulher que tecnicamente não é bonita revelar todo o poder de sedução de seu exotismo estético. Rossy de Palma, lançada por Almodóvar e presente em muitos de seus filmes (incluindo o último, “Julieta”), é o melhor exemplo disso.
8. Atores
Todo grande diretor tem musos e musas, mas Almodóvar foi além, levando alguns de seus protegidos ao estrelato. Penélope Cruz e Javier Bardem foram descobertos por Bigas Luna, mas ela decidiu ser atriz depois de assistir “Ata-Me!” (1990) e foi com “Carne Trêmula” (1997) que ambos ganharam visibilidade suficiente para se tornarem atores de Hollywood. Antonio Banderas, por sua vez, é o mais emblemático exemplo, começando a carreira em “Labirinto de Paixões” (1982) e atuando em outros filmes como “Matador” (1986), “Mulheres à Beira de Um Ataque de Nervos” (1988), “Ata-me!” (1990), até retornar em “A Pele Que Habito” (2011) como o cirurgião Robert Ledgard.
9. Missoni
Depois de ser a estrela da campanha da grife italiana em 2012, quando foi clicado por Juergen Teller ao lado da modelo Mariacarla Boscono e das atrizes Rossy de Palma e Blanca Suarez, Almodóvar e Missoni voltam a colaborar em “Julieta”, ainda que de forma discreta. O pôster do filme traz o icônico zigue-zague de tricô da marca, que surge em peças de decoração em algumas cenas.
10. Crítica à Igreja Católica
Ex-estudante seminarista, Almodóvar reagiu à educação católica de forma semelhante ao conterrâneo Luis Buñuel: criticando-a em seus filmes. Seja no começo da carreira, como em “Maus Hábitos” (1984), comédia sobre jovens pecadoras que se refugiam em um convento mas não buscam a redenção, ou mais recentemente em “Má Educação” (2004), o diretor denuncia a hipocrisia e o caráter abusivo que vê na igreja.