Por Luiz Henrique Costa
Um dos principais filósofos do Iluminismo, o suíço Jean-Jacques Rousseau defendia o pensamento que “o ser humano nasce essencialmente bom, mas a sociedade o corrompe”. Através do trailer de Cruella, o novo live-action da Disney que se passa em Londres nos anos 70, década marcada pela revolução do punk rock, é possível deduzir que um dos caminhos seguidos no filme será o de um trabalho mais sombrio, focado no desenvolvimento da personalidade da protagonista, a jovem estilista, ansiosa por crescer na carreira e mostrar todo seu potencial, desconstruindo a sua natureza perversa de sacrificar animais para o uso de sua pele. Muito pouco deve ser visto dos cãezinhos pintados, inclusive. O filme promete um exercício em humanizá-la, como foi visto em caso semelhante na versão de Malevóla vivida por Angelina Jolie em 2014.
Nos filmes anteriores, a animação 101 dálmatas de 1961 e o filme protagonizado por Glenn Close em 1996, certamente alimentaram o mural de referencias de imagens luxuosas para a figurinista inglesa Jenny Beavan, a veterana que já foi indicada ao Oscar 10 vezes e recebeu duas estatuetas. Vocês talvez se recorde do certo alvoroço causado por ela ao subir ao palco, quando recebeu o prêmio por Mad Max, usando calça e jaqueta que imitam couro. Muitos se espantaram pela simplicidade do look usado por Jenny, mas o recado que ela trazia era claro: “Falso, não é couro”. Ironicamente temos agora Jenny assinando o figurino de uma personagem obcecada por pele animal.
Beaven criou nada menos que 277 figurinos para os personagens, sendo que 47 deles, todos nas cores preto, vermelho e branco, são para a personagem de Emma Stone para compor com seu marcante cabelo bicolor de Cruella de Vil inspirado pela estética punk.
Cruella segue como a vilã apaixonada por moda e no seu desenvolvimento os looks vão evoluindo conforme a sua personalidade se torna mais segura nos embates com a rival, a personagem Baronesa, vivida por Emma Thompson, outro figurino poderoso e cheio de referências de Alta Costura, Dior e Balenciaga. Em um bate papo recente com jornalistas, a figurinista afirmou que se trata de “um filme sobre moda e sobre roupas com um fundo denso que envolve o arco da protagonista’.
Dirigido por Craig Gillespie, responsável também por Eu, Tonya (2018), outro trabalho com direção de arte e figurino muito interessantes, tem se revelado uma grande entusiasta por personagens complexas e de caráter questionável mas cheias de estilo.
Promete ser marcante.
Cruella tem lançamento previsto para o próximo dia 28 nos cinemas e no serviço de streaming Disney+.