Em 1998, em uma exibição de um de seus filmes em Paris, o jovem diretor francês Olivier Meyrou foi abordado por Pierre Bergé, companheiro de vida e negócios de Yves Saint Laurent, que perguntou se ele gostaria de fazer um documentário sobre Saint Laurent e sua lendária casa de alta costura. Segundo o diretor contou à Another Magazine, ele acha que “Bergé já podia ver que o fim estava se aproximando e queria um último retrato da casa antes de fechar”.
O diretor, que não conhecia nada sobre o mundo da moda, passou os três anos seguintes documentando a vida no ateliê da Avenue Marceau, registrando como o designer criava suas coleções de alta costura e se preparava para eventos como o desfile na cerimônia de encerramento da Copa do Mundo de 1998 (final Brasil e França; veja abaixo um trecho) e o prêmio Lifetime Achievement que ele recebeu no CFDA Fashion Awards em 1999.
As filmagens terminaram em 2001, um ano depois do então Grupo Gucci assumir o controle da marca e um ano antes de Saint Laurent se aposentar (Alber Elbaz era quem desenhava as coleções no final da era YSL). O doc recebeu o nome de Yves Saint Laurent: The Last Collections. Porém, mesmo sem nem ver o filme, Pierre Bergé processou Meyrou e o proibiu legalmente de ser lançado. Foi apenas em 2015, sete anos após a morte de Saint Laurent (e dois antes da sua) que ele aceitou assistir e permitiu seu lançamento. “Acho que ele não entendeu o que era fazer documentários”, explica o diretor. “Ele estava acostumado a dirigir, a controlar todas as imagens associadas a Yves Saint Laurent e quando eu disse que ele não podia fazer parte do processo de edição ou narração, ele não gostou. Também acho que ele sabia que estávamos documentando o fim e era muito cedo ainda para ele aceitar”. O filme acaba de entrar em cartaz no Reino Unido, 18 anos após o fato.
Meyrou conta que ficou impressionado como as coisas aconteciam no ateliê. “A casa era como uma versão em miniatura da França no início do século 20 – você tinha trabalhadores, bilionários, criativos, todos sob o mesmo teto. A maneira como todos se mexiam, conversavam e interagiam era como se fossem de uma era diferente; como um filme de Jean Renoir. A criatividade estava no centro de todas as decisões e tudo era baseado na visão de Yves Saint Laurent”.
Mas é Bergé quem ocupa mais tempo de tela do que o próprio estilista. Ele aparece andando pela casa, dando ordens, repreendendo a equipe e se certificando de que tudo está de acordo com os padrões Saint Laurent, além de dirigir seu parceiros em momentos como o discurso que fez ao receber o prêmio do CFDA. “Não pareça como “um velho vacilante”, diz ele.
Por pegar os últimos anos de um dos maiores gênios da moda, o filme mostra o costureiro sob uma luz melancólica, embora consiga transmitir sua visão precisa e a reverência em torno dele. “Fisicamente, ele era o homem mais fraco do ateliê, mas irradiava uma energia muito poderosa. Eu só falei com Saint Laurent três vezes durante as filmagens”, diz Meyrou. “Ele era muito impressionante, mas vivia muito na sua própria cabeça, era quase inacessível. A única coisa que podíamos fazer era observá-lo, como fazer um documentário sobre a vida selvagem”.