Uma guerra inspirada por filmes de Harmony Korine e fotos de Nan Goldin. Um pouco paraíso, um pouco inferno. A experiência da liberdade total vivendo longe dos pais, contrastada por um regime rigoroso que doutrina e drena qualquer pensamento racional. A vida no meio da selva, longe da civilização. A guerra para oito soldados adolescentes é uma obrigação, assim como é a escola para crianças vivendo em um ambiente comum. Mas não ha nada de ordinário em Monos, novo filme do diretor colombiano Alejandro Landes.
Os jovens soldados, chamados por nomes como Bigfoot, Rambo, Lobo, Senhora, Sueco, Cão, Smurf e Boom Boom, foram doutrinados por um grupo de guerrilla chamado The Organization. Não há indicação de onde estamos, em que ano estamos ou por que todos estão lutando. Tudo o que sabemos é que eles vigiam uma refém americana e que há tumulto político. E que a tensão aumenta quando seu chefe, O Mensageiro, aparece em cena.
Monos estreou em Sundance, onde ganhou o prêmio do Júri, entrou na seleção de diversos festivais de cinema e venceu como Melhor Filme no London Film Festival.
O longa tem uma fotografia de tirar o fôlego, mas o principal valor de Monos é um questionamento sobre a condição humana e nossa capacidade de compreender (ou não) os personagens. O que define nossa moral? Quem decide a quem devemos responder? E o que a libertação completa pode fazer às pessoas quando seu próprio entendimento da sociedade já está tão distorcido?
“O filme cria uma declaração política muito forte, porque há um vácuo ideológico”, diz Landes em entrevista ao Dazed Digital. “Estamos acostumados a entrar em guerra pela ideologia. Em um filme da Segunda Guerra Mundial, eles estão lutando pelos aliados ou pelos alemães. Quem está certo? Quem está errado? Existem bandeiras e uniformes. A guerra, hoje em dia, não tem essas linhas. Você vê o Iraque, o Afeganistão e a Síria – essas são guerras travadas nos bastidores. A idéia de quem ganha ou o que está ganhando não é tão clara”.
O diretor queria ter certeza de que nós não enfrentaríamos esse conflito através das noções tradicionais de esquerda ou direita, comunismo ou capitalismo. “São guerras modernas que não têm um fim ou começo claros e também não têm uma noção clara de vitória. Este é um filme de guerra para a nossa geração”.
Entre as influências do diretor estão filmes como Platoon, de Oliver Stone, Bom Trabalho, de Claire Denis, e Gummo, de Harmony Korine. As fotografias de Nan Goldin e Robert Capa também inspiraram Alejandro. “Queria que o filme tivesse seu próprio estilo, mas você não pode criar no vácuo, principalmente quando se trata de uma situação de gênero”.
Os (não) atores foram escolhidos através de street casting. Os produtores saíam nas ruas, foram às portas de escolas e também pesquisaram online. Foi assim que acharam Sofia Buenaventura, que na vida real também atende por Matt. Ela interpreta Rambo, uma personagem não binária, cujo gênero nunca é revelado e isso não tem importância.
Monos é uma história “coming of age”, mas neste caso, as crianças são forçadas a irem a guerra em sua passagem para a maturidade em vez de descobrirem. Na verdade, elas se descobrem, se beijam, namoram, jogam futebol vendados e dançam em volta da fogueira. Mas tudo isso dentro de um contexto caótico de vida em que nós, espectadores, observamos sem saber para qual lado torcer.
Monos já estreou nos EUA e Europa e chega em breve ao Brasil.