Nós já falamos aqui sobre um livro que mostrava meninas aprendendo a andar de skate no Afeganistão. Agora, essa mesma história é contada em um filme que é um dos indicados ao Oscar 2020 para melhor documentário de curta metragem.
Learning to Skateboard in a Warzone (If You’re a Girl) – Aprendendo a andar de skate em uma zona de guerra (se você é uma menina) – é dirigido por Carol Dysinger e tem vencido prêmios importantes no circuito internacional. O doc ganhou na categoria de Curta Metragem Britânico no Bafta e o prêmio do júri como Melhor Documentário Curta no Festival de Tribeca.
É uma história tão emocionante quanto corajosa e empoderadora, especialmente porque se passa em uma região de conflito e de pouca perspectiva para as mulheres. O filme segue uma turma de meninas do Skateistan, ONG que começou em 2007 como uma escola de skate em Cabul e hoje está ativa em vários países, focando no recrutamento de meninas de bairros pobres, não apenas para ensiná-las a andar de skate, mas também para ajudar a educá-las para que possam ingressar no sistema público de escolas.
Porém, em Cabul, há pouquíssimas oportunidades se você é uma menina. Você não pode andar de bicicleta, por exemplo. De skate pode em locais fechados, mas ainda assim as meninas encontram muitos obstáculos dentro de suas próprias famílias em relação à prática de esporte. Uma das professoras de skate, por exemplo, não quer que su rosto apareça no filme. “Se meu rosto aparecer na televisão, meus irmãos vão me provocar até o dia em que morrer”, ela diz. “É assim que começa quando a opressão faz parte da cultura”, observa a diretora.
Para conseguir permissão para filmar a escola e contar a história dessas meninas, Carol Dysinger contratou uma equipe local e aproveitou também o fato de que vai ao Afeganistão há 15 anos e já deu aulas de cinema para jovens cineastas afegãos. “Em todos os 15 anos que estive lá, sempre ensinei. Reunia uma classe de jovens cineastas afegãos, ou me juntava a um grupo chamado Afghan Voices que treinava jovens jornalistas. E eu ensinava uma aula sobre corte e edição dava um feedback depois porque há alguns cineastas muito bons chegando”.
Ela aprendeu a língua e conquistou a confiança de parte da comunidade. “Durante as filmagens do documentário, apenas três de nós éramos ocidentais: eu; Lisa Rinzler, diretora de fotografia; e Elena Andreicheva, a produtora. O resto da equipe era afegão. Você não pode chegar lá e achar que vai funcionar apenas com um tradutor”.
No começo, ainda haviam muitas discussões sobre o que ela poderia ou não filmar. Uma das questões do filme é que as meninas não andam de skate na rua, e como você faz um filme de skate quando ninguém (exceto os meninos) pode andar de skate ao ar livre? No final, o skatepark é também um lugar seguro para as meninas e um ambiente onde é mais provável que elas se abram justamente porque se sentem protegidas. “Para as meninas de nosso filme, a chance de andar de skate apresenta uma experiência única – competir, jogar, aprender seus pontos fortes e ganhar coragem e habilidades para a vida que transcenderão o skate e a sala de aula”, finaliza a diretora.
Veja abaixo o discurso da diretora Carol Dysinger ao receber o prêmio no evento britânico: