Conheça Maureen. Uma garota de vinte e poucos anos que vive de loja em loja high-end, abrindo e fechando zíperes de capas que ostentam vestidos luxuosos, escolhendo roupas e acessórios para uma celebridade, sem nunca experimentar as peças no próprio corpo. Pode parecer o trabalho dos sonhos para muita gente e um verdadeiro tédio para tantas outras pessoas. Maureen faz parte do segundo grupo. Americana, ela aceita o trabalho enfadonho para poder bancar a vida em Paris, cidade em que morava seu recém-falecido irmão gêmeo. Enquanto lida com essa dolorosa perda, tenta também se conectar com o fantasma dele para descobrir se há mesmo vida após a morte. De aparência lânguida e pálida, quase como um fantasma ela mesma, Maureen ganha pulso e vida através de Kristen Stewart em Personal Shopper, filme fantasmagórico com filtro glam que estreia hoje nos cinemas do Brasil.
É o segundo trabalho de Stewart com o diretor francês Olivier Assayas, com quem trabalhou anteriormente em Acima das Nuvens no papel de outra assistente de celebridade. Tal longa rendeu a ela um prêmio César de Melhor Atriz em 2014 – a primeira atriz americana a conquistar esse prêmio, vale ressaltar. É desnecessário dizer que quando Personal Shopper estreou no Festival de Cannes, em 2016, as expectativas eram altíssimas. O filme dividiu a crítica, mas a atuação de Kristen foi um ace. Em entrevista coletiva, ela confidenciou que este foi o seu trabalho mais difícil até hoje.
Rosto da Chanel, a atriz chega a provar um vestido prateado de paetês em cena. Uma ação, de acordo com o figurinista Jürgen Doering, motivada pelo desejo de Maureen de esquecer a jornada assombrada que tem vivido e assumir uma vida glamorosa e livre de peso. Mas o guarda-roupa da personagem pouco tem a ver com o de sua chefe, são roupas do dia-a-dia. Jeans, jaqueta biker, suéter Fair Isle, camisetas pólo. “Maureen não gosta do trabalho dela”, explica o figurinista à revista Vogue. “Ela está mal, sente falta do irmão, então, essas roupas são contrastadas às que ela compra”.
O filme é cheio de tais contrastes e até mesmo mudanças tonais que tornam difícil o trabalho de descrevê-lo propriamente. É um mix de terror com thriller psicológico; discreto e confrontador; estranho e familiar. O filme compreende dualidades, então, faz todo o sentido que tenha dividido a crítica. Com aprovação ou reprovação, a gente recomenda a viagem.