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    Ecosex: conheça a nova forma de ativismo ambiental e social
    Ecosex: conheça a nova forma de ativismo ambiental e social
    POR Camila Yahn

    Você já ouviu falar em ecosexualidade? O termo, ainda com definições bastante amplas, vem ganhando terreno como uma nova forma de ativismo ambiental e identidade sexual, uma vez que o ativismo tradicional parece precisar de ajuda para provocar a mudança radical de que precisamos.

    O movimento ecosexual vai muito além da primeira ideia que nos vem à mente (um grupo de hippies idealistas vivendo em total liberdade sexual e em contato com a natureza, ao estilo Wild Wild County?).

    A socióloga e PHD Jennifer Reed escreveu uma dissertação sobre ecosexualidade chamada In Pursuit of Social Justice at the Postmodern Turn: Intersectional Activism through the Lens of the Ecosexual Movement (Em busca da justiça social na virada pós-moderna: o ativismo intersecionional através da lente do movimento ecosexual). Ela diz que o número de pessoas que se identifica como ecosexual aumentou muito nos últimos anos e que hoje cerca de 100 mil pessoas se identificam abertamente como ecosexuais.

    Ecosexualidade é um termo com definições abrangentes onde cabem desde as comunidades hippies de amor livre, passando por sex toys sustentáveis, sites pornôs cuja renda é revertida para ONGs ambientais, formas de arte, pessoas que praticam esportes ao ar livre nus e até aqueles que, literalmente, transam com árvores. 

    A escritora e ativista Stefanie Weiss lançou em 2010 o livro Eco-sex: Go Green Between the Sheets and make Your Love Life Sustainable, uma pesquisa que mostra o impacto ambiental prejudicial de materiais usados em preservativos, lubrificantes e outros produtos sexuais. Ela disse que escreveu o livro para ajudar as pessoas a tornar suas vidas sexuais “mais neutras em carbono e sustentáveis”. Curiosamente, essa questão passa longe das questões climáticas e ambientais, mas é um dos pontos do movimento ecosexual. 

    Já o coletivo Pony Express criou uma instalação interativa chamada Ecosexual Bathhouse, que fez parte do festival de arte experimental de Sidney, na Austrália.

    ☆Ecosexual Bathhouse Trailer☆ from Pony Express on Vimeo.

    Parte da razão deste movimento estar crescendo está na conta do trabalho incansável das ativistas Annie Sprinkle e Elizabeth Stephens, que fizeram da ecosexualidade sua cruzada pessoal. Elas criaram o site SexEcology, onde divulgam todas as suas ações, de manifesto ecosex, documentários e workshops até o primeiro Ecosex Symposium, que começa nesta semana em Madri e termina no fim de julho em Londres. Stephen e Sprinkle estavam engajadas no movimento pela igualdade no casamento gay e queriam aproveitar essa energia para causas ambientais.

    Olhando em seu site, há muitas atividades que ainda parecem nonsense para quem olha de fora, como as cerimônias que fazem em que as duas casam-se com a terra, com a lua e outras entidades da natureza. “Queremos reconceitualizar a maneira como olhamos para a Terra, de deixar de ver o planeta como uma mãe para vê-lo como um amante”, disseram em uma entrevista à Vice. Como Morgan disse, pensar na terra como um amante é o primeiro passo para levar a sério a crise ambiental. “Se você irritar sua mãe, ela provavelmente vai te perdoar. Se você trata mal seu namoradx/amante, elx vai terminar com você”.

    Além de ser um chamado para uma causa com uma outra abordagem, há algumas questões que dão um caráter de transformação a esse movimento.  O Ecosex atrai pessoas para o ativismo ambiental através da alegria, trazendo para perto um público mais diverso que muitas vezes não se vê representado em outras organizações, mas que individualmente, se preocupam com a Terra. A ideia é levar o assunto para além do que as pessoas normalmente associam ao ambientalismo, oferecendo à pessoa comum uma maneira acessível e divertida de se envolver com a questão.

    “Aprendendo com o trabalho de Roberto Jacoby (artista e sociólogo argentino), usamos estratégias de alegria para atrair mais gente para o movimento ambiental. Estamos tentando tornar o movimento ambientalista mais diversificado e explorar públicos inexplorados”, disse Sprinkle a Dazed. Vale destacar que elas são autênticas em seu trabalho e rejeitam as pressões para atender a concepções do que é considerado “respeitável” para serem levadas a sério – o que tradicionalmente exclui  as pessoas queer, profissionais do sexo e desfavorecidos socioeconômicos, entre outras comunidades. 

     

     

    Outro ponto é a questão do prazer no contexto da nossa vida hoje. A ecosexualidade é diferente de outros movimentos sociais porque se concentra no comportamento pessoal e no prazer, em vez de protestos ou políticas. Segundo a palestrante e consultora Suzanne Dhaliwal, especializada em justiça ambiental, “há definitivamente um movimento de ativismo do prazer realmente vibrante e ele está vindo de um lugar de necessidade de autocuidado durante estes momentos de extrema hostilidade”, diz. 

    Dhaliwal vê o movimento como um necessário descanso: “Em resposta à violência contra nossos corpos neste tempo de urgência e fascismo, há um movimento para descansar, cuidar, agradar a nós mesmos e às comunidades como ativistas da justiça ecológica e social, para assegurar que seremos capazes de desfrutar do futuro pelo qual estamos lutando tanto”. Dhaliwal ainda celebra a parte do movimento ecosexual que vem de uma história de organização da justiça social de comunidades negra, parda, indígena e queer. “São eles que estão recuperando a linguagem e o espaço da ecosexualidade”.

    Se lutar contra múltiplas formas de violência é desgastante, os ecosexuais não estão sozinhos em sua busca por um mundo melhor e mais justo. A autora e ativista Adrienne Maree Brown diz que ainda podemos encontrar esperança e amor em meio ao desespero que nos rodeia todos os dias. Em seu novo livro “Ativismo de prazer: a política de se sentir bem”, ela olha para feministas negras para nos ensinar como abraçar o que nos traz alegria é central na organização contra a opressão. “Recuperar nossa plena vivacidade erótica é uma peça central para se recuperar de atos de opressão e marginalização. Se você não faz essa conexão inicial, é muito difícil não ver o prazer como uma coisa de culpa”, diz em entrevista ao Color Lines. Brown vai mais longe ainda no assunto e aborda questões como as comunidades de cuidado como um dos aspectos do ativismo do prazer e seu uso como uma estratégia de cura.

    Portanto, a ecosexualidade é uma iniciativa inclusiva, abrangente e com conexões com outros movimentos sociais que, no final, buscam objetivos em comum que envolvem a evolução da nossa sociedade e do mundo ao nosso redor.

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