Quem se interessa por moda já deve ter esbarrado em seu nome _e suas imagens_ em alguma publicação do meio. Se você se interessa por arte, também já deve ter ouvido falar, presenciado alguma de suas performances ou visto alguma de suas obras. Marcio Banfi, stylist, artista plástico e atual editor de moda da revista Gloss, abre neste sábado (04/11) sua segunda mostra individual, na galeria Emma Thomas, em São Paulo.
Por MSN, Marcio conversou com o FFW para contar um pouco mais sobre a exposição “Ninguém É Uma Ilha”.
Still do vídeo “Papila” ©Reprodução
marcio diz:
Luigi!
luigi diz:
Oi, oi! Então, vamos lá, me fala um pouco sobre do que se trata a mostra.
marcio diz:
Então, será minha segunda individual, a primeira na (galeria) Emma Thomas. São 16 trabalhos inéditos. Incluindo fotos, vídeos, objetos… A mostra se chama “Ninguém É Uma Ilha”. A pesquisa ainda é a mesma que eu venho fazendo sobre identidade e individualidade, existência, auto retrato e estética. Sob essa visão segui na pesquisa dos cabelos e também da auto imagem. Os fios e os cabelos, então, estão na expo de uma forma geral, assim como a passagem do tempo, as marcas, memória corporal, auto representações, dress code… Um corpo que é dependente da estética e da suposta beleza para ser reconhecida (é aí que aparece a moda) e aposta em suas características para ser percebida… Um corpo que se modifica, se constrói, se esconde, se veste e se despe, se ressignifica através de suas escolhas. O auto retrato aparece como prova de existência. Se não se fotografa ele morre.
luigi diz:
Mas o que o cabelo tem a ver com tudo isso?
marcio diz:
Nossa, o cabelo é uma obsessão tão antiga… Os cabelos, além de serem parte das características principais de reconhecimento de alguém ou de uma personalidade em determinada época, significa a força. A força de Sansão. Ele perde a identidade e a força quando cortam o seu cabelo. Além disso tem um sentido mórbido e também erótico _o erótico também aparece emquase todo o trabalho. Além de um certo bom humor e cinismo.
“Fingindo Viver Nesse Mundo”
marcio diz:
Minha primeira individual foi 2006. Tive um canyon criativo por um período.
luigi diz:
E esse canyon criativo foi meio que uma ruptura no que você vinha fazendo ou essa segunda individual é uma espécie de continuação seja de idéia, temática ou estética?
marcio diz:
Não, mudei bastante coisa sim… Na verdade eu não parei nunca, mas não produzi com uma continuidade para fazer grandes expos. Na verdade, depois dessa 1ª individual eu comecei a entrar forte na história do auto retrato… Fui pesquisar e estudar… Coloquei bastante meu corpo nos trabalhos. Aí fui ver outras coisas referentes à identidade. Foi qdo entrou o cabelo. Cabelo, pele, rugas, manchas… Até chegar na dúvida da presença em si… Da presença e da existência.
luigi diz:
E como você vê a moda envolvida nessa questão toda? O quão importante ela é para ressaltar ou esconder e confundir a identidade?
marcio diz:
A moda é super presente na minha vida, obviamente. Digo, sempre que a moda está no meu trabalho de arte assim como a arte está no meu trabalho de moda nesse caso a moda aparece totalmente pelo lado estático. Ops, estético. Tem um trabalho que se chama “anos dourados” que é um tríptico do meu rosto e no lugar das rugas de expressão aparecem correntinhas de ouro cortadas. Acho que na expressão, e obviamente no cabelo.
luigi diz:
Mas você acredita que a moda é essencial nessa questão de formar/criar uma identidade? Ou ela é só mais um elemento nesse processo?
marcio diz:
Claro, são códigos visuais p/ identificar alguma pessoa, grupo…
luigi diz:
Mas me conta, o que veio primeiro na sua vida, a moda ou a arte?
marcio diz:
A arte apareceu 1º, depois veio a moda.
luigi diz:
E como foi esse processo?
marcio diz:
Da passagem? Bom, sempre quis fazer arte. Meu pai achava que era hobby, então prestei desenho industrial e depois de 2 anos eu prestei artes plásticas e entrei. Foi quando o Alê Herchcovitch me viu e me chamou para desfilar para ele. E aí ele me chamou para ser seu assistente. Achei estranho mas topei. Tinha interesse em costura, meu trabalho de arte tinha isso… Gostava de modelagem… Aí trabalhei um ano com ele. Foi ele quem despertou super meus desejos de moda. Já gostava muito de moda. Conhecia, entendia, sabia quem eram os estilistas, comprava a The Face, mas não imaginei que ia trabalhar com isso. Aí logo que saí do Alê, eu fui chamado para trabalhar como editor de moda da Sportswear, que estava mega caída… Prestes a fechar… Acho que se não fosse assim eles não me chamariam. Não tinha experiência nenhuma! Mas segui com a moda nas artes também. Até hoje estou bordando uma camiseta inteira com fios de cabelo. Um por um.
luigi diz:
Meldels! E isso vai para a individual, né?
marcio diz:
Vai sim… Se eu não enlouquecer ou cegar até lá.
“Anos Dourados”
luigi diz:
E falando bem do seu trabalho, no que sua arte influencia a moda e vice-versa?
marcio diz:
A forma de eu pensar é exatamente a mesma… Parto das mesmas coisas. As minhas referências são as mesmas. E a arte vem na maneira de compor uma imagem. Pensar nos pesos, pensar até na proporção, e no conceito ser um pouco mais forte. Mas ao mesmo tempo, eu odeio quando uma pessoa fala para mim que eu sou “conceitual” demais! Gente, até na Capricho eu já trabalhei! Até na Venice, uma revista de surf!
luigi diz:
(posso publicar isso??? diz que sim!)
marcio diz:
Claro que pode! Não estou mentindo! Mas então… Já a moda a moda vem na estética, na luz das fotos…
luigi diz:
E já que seu trabalho fala muito desse conceito de identidade, como que você essa questão da formação da identidade em tempos de facebook, twitter e tudo mais?
marcio diz:
Nossa, você sabe que eu já estou começando a pensar nisso… Quem sabe numa próxima expo… Mas amo pensar que você pode inventar uma série de coisas… Amo pensar que você pode armar o maior barraco por internet. Você pode até inventar que você é alguém. Não é incrível? Juro, fico muito passado. É muito, muito perigoso… É absurdamente tenso. Mas tenho pensado muito nisso. Na identidade em tempos de internet…Você poder ter 20 identidades se quiser.
luigi diz:
E você acredita que essas 20/infinitas identidades que se pode ter na internet acaba migrando para vida real?
marcio diz:
Ah, claro… Começam a “existir”… Os personagens existem de verdade… É bem absurdo. É quase uma abdução ao contrário.
luigi diz:
Amo “abdução ao contrário”, mas vamos lá, última pergunta: Há quanto tempo você está trabalhando em cima dos trabalhos (desculpa a redundância) dessa individual?
marcio diz:
Hmmm… Um pouco mais de 1 ano e meio acho… Quer saber quanto eu gastei também? hahahahahaha! Porque olha, menino… vou te contar… Formas de enlouquecer.
luigi diz:
hahahahahaha! Mas não, imagino que não deve ter sido pouco, afinal para tanto cabelo, né? Sei que não é nada barato comprar cabelo por aí. Enfim, só queria ter uma idéia de quanto tempo mesmo…
marcio diz:
É… tipo 1 ano e meio…
Serviço:
Galeria Emma Thomas
Rua Barra Funda, 216
Abertura dia 4/12 a partir das 11h.
A mostra fica até dia 22/01/2011.
+ Twitter: @marciobanfi
+ Site Oficial: barogaleria.com