Quando Cheer começou a aparecer no meu feed do Netflix, algo me chamava a atenção, mas ignorei por ser um doc sobre cheerleading, que pra mim nada mais era do que as meninas que dançam antes de um jogo para entreter o público, jogando aqueles pompons pra um lado e pro outro. Até que resolvi assistir ao trailer e fiquei impressionada com o nível técnico das acrobacias. Assisti a um capítulo numa noite de insônia e não parei mais.
O documentário acompanha um grupo de adolescentes americanos que formam o time de cheerleading do Navarro College, em Corsicana, Texas, um dos grupos mais fortes e competitivos do mundo nessa categoria. Nós acompanhamos os esforços da equipe nos ensaios para a final do Campeonato Nacional de Cheerleading, uma competição que dura apenas 2 minutos e 15 segundos, mas tem um trabalho exaustivo meses antes até que coreografia fique impecável.
E é nesses treinos que conhecemos até onde o cheerleading pode ir tecnicamente. As rotinas são hiper elaboradas e perigosas, especialmente para as flyers, as destemidas meninas voadoras, que podem cair (e caem) de uma altura significativa.
A tensão dos ensaios é intercalada na série por entrevistas com alguns dos atletas. Suas histórias giram em torno de suas vidas pessoais, problemas familiares, sacrifício, contratempos profissionais e dificuldades no treino. Muitos vêm de famílias destruídas, outros sofreram preconceito em casa, bullying ou tiveram problemas com drogas e a polícia, como é o caso de Lexi (uma das mais absurdas). Já Jerry perdeu sua mãe e foi adotado pela mãe de uma colega de cheer e é o cara mais obcecado com o esporte e quem levanta o astral da equipe sem nunca mostrar sinais de cansaço ou desânimo.
Não é fácil nem mesmo para Gabi Butler, a menina de ouro do cheerleading que ganha dinheiro como influenciadora. Uma das melhores atletas da área, Gabi sofre uma pressão enorme do pai, que fica trazendo cada vez mais acordos comerciais para ela, sem notar que a filha está a ponto de ter um colapso.
Mas lá no grupo liderado pela coach Monica Aldama, todos têm um único propósito: ser o melhor possível e vencer. O que é sua dor é também sua salvação. E é isso que os leva a superar a exaustão, a dor e o medo de suas exaustivas práticas diárias, que tiram lágrimas – deles e da gente.
Eu tinha preconceito em relação ao cheerleading, achava que era algo extremamente fútil, fruto de um lado menos inteligente da cultura americana. E para outros que pensem assim, esse doc destrói essa ideia. Vemos jovens que treinam duro, que dão 100% do que tem, mas vemos que também são adolescentes como qualquer outro, com inúmeras questões emocionais que, muitas vezes, acabam refletindo no chão do ginásio. E tem uma outra questão: os “cheers” não podem mais competir profissionalmente quando entrarem na faculdade. Em Navarro, eles estão então no limite de sua carreira.
Cheers estreou no início de janeiro e virou uma febre. A equipe se apresentou no programa de Elle Degeneres e conquistou bons reviews em publicações como New York Times, GQ e IndieWire. Vale assistir (e torcer por uma segunda temporada).