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    Ícones da Fotografia: German Lorca e os 60 anos de pioneirismo no Brasil
    Ícones da Fotografia: German Lorca e os 60 anos de pioneirismo no Brasil
    POR Redação

    “Moda”, de 1970 ©German Lorca/Reprodução

    Há pouco mais de dois meses, o FFW iniciou a série semanal “Ícones da Fotografia”, com o intuito de apresentar a trajetória e as obras mais icônicas de grandes nomes que marcaram a arte de captar o instante. Paolo Roversi, Deborah Turbeville, Patrick Demarchelier, Helmut Newton e Robert Capa já tiveram sua história contada; agora vamos introduzir German Lorca, paulistano nascido em 1922 no Brás e pioneiro da fotografia publicitária, mas também de arte, no Brasil.

    As fotografias de Lorca, que abrangem um período de mais de 60 anos, estão ligadas intrinsecamente à história de São Paulo. A partir dessas imagens, é possível conhecer um pouco mais de como viviam as pessoas em um Brasil já distante, onde reinava a poética do preto e branco. Desde o final de março, o MAM-SP, no Parque do Ibirapuera, hospeda a exposição “German Lorca fotografias: acontece ou faz acontecer?”, que apresenta uma retrospectiva da carreira do paulistano. Em paralelo à mostra – e em celebração da mesma – o FFW entrevistou Lorca em seu estúdio, na Vila Mariana, onde contou sobre o início de sua carreira, a influência da cidade de São Paulo e a adaptação à tecnologia digital.

    German Lorca, em seu estúdio na Vila Mariana ©Juliana Knobel/FFW

    O Sr. se formou em Ciências Contábeis, mas optou por viver de fotografia. Como surgiu este interesse e como o Sr. tomou essa decisão?

    Eu gostava muito de ver imagens, lembro bem quando eu tinha mais ou menos sete anos, isso durante a crise de 1929, o [jornal] Estadão publicava uma vez por semana um suplemento de fotogravura que trazia fotografias de ocorrências de diversas partes do Brasil e eu sempre gostei de ver, sempre tive essa predileção, além de cinema, mas naquele tempo o cinema não era tão desenvolvido quanto é hoje. Quando eu era mais novo nem todo mundo podia ter máquina, só quem tinha algum dinheiro, fotografia não era barato. Na família da minha mãe, a irmã dela era casada com um fotógrafo, que também era espanhol e trabalhava nos Jardins da Luz tirando fotografias de pessoas que iam passear no local, era algo muito comum na época, inclusive tirou várias minhas, mas eu não tinha possibilidades de comprar uma máquina, então fui estudar Ciências Contábeis.

    Logo que eu me formei, em 1940, montei um escritório pequeno que durou até 1952. Em 1945, eu me casei e pedi uma máquina fotográfica emprestada, comprei uns três filmes e não perdi uma foto, mas não tinha prática nem técnica. Na minha turma de Ciências Contábeis tinha um rapaz que também era filho de espanhóis e na família dele quase todo mundo lidava com fotografia. Ele então começou a trabalhar no balcão de uma loja de fotografias na Rua 15, foi quem me vendeu minha primeira máquina. Uma máquina pequena de fole [um tipo de máquina sanfonada]. Comecei então a fotografar meus filhos, além de fotos que tirava na rua porque levava a máquina sempre comigo, mas sem pretensão nenhuma.

    “A Revolta dos Passageiros”, de 1947 ©German Lorca/Reprodução

    Um dia, eu estava na Praça da Sé [em São Paulo], porque tinha ido a uma repartição pública a trabalho e, quando estava na Praça Clóvis, eu vi uma fumaça lá longe, na Avenida Rangel Pestana e fiquei curioso. Fui até lá com a máquina e era fogo nos bondes, foi uma das minhas primeiras fotos [“Revolta dos Passageiros”, de 1947], que guardei e nem dei muita importância. Nesse meio tempo eu sempre fotografava meus filhos, até que um tio meu, marido da minha tia, que era engenheiro, me sugeriu a aprender fotografia. As coisas não eram fáceis, eu morava com minha mulher e três filhos em uma casa simples no Brás e os cursos de fotografia naquele tempo eram de laboratório, você só aprendia a revelar… e eu queria uma coisa melhor.

    Depois de pesquisar algum tempo descobri o Foto Clube, frequentado por industriais, advogados, médicos, engenheiros, enfim, gente que tinha boas condições financeiras e máquinas boas, ao contrário de mim. Pouco depois, montei uma sociedade geográfica brasileira com alguns amigos, incluindo dois tios meus, com o objetivo de ajudar no desenvolvimento do país, mas tínhamos dificuldades de dinheiro porque não podíamos investir muito. O projeto não durou muito, mas eu continuei como contador e fotógrafo e, nessa sociedade geográfica, conheci uma pessoa que tinha uma indústria que me chamou para fazer umas fotos do local. Fui lá e fiz umas fotos bem caprichadas…o resultado foi que ganhei mais em uma semana como fotógrafo do que ganhava quase em um mês com Contabilidade!

    Daí eu pensei: “acho que está na hora de mudar” – o que não foi bem visto pelo meu pai – mas comecei a me aventurar: ao mesmo tempo que tinha o escritório passei a fazer trabalhos de fotografia e reportagem, onde comecei a crescer e trabalhar com agência fotografando também casamentos, inaugurações, etc. Com isso acabei entrando nesse rumo da propaganda e montei meu primeiro estúdio na Av. Lins de Vasconcelos, no Cambuci, que depois transferimos para a Vila Mariana. Larguei então as reportagens, mas continuei participando dos concursos no Foto Clube, e me destaquei porque estava todo tempo pensando em fotografia. Os amadores só pensavam em fotografia no fim de semana, eu pensava todos os dias. A partir daí o negócio foi para frente e larguei de vez a contabilidade.

    “À Procura de Emprego”, de 1951 ©German Lorca/Reprodução

    Como foi o desenvolvimento da sua técnica e do seu estilo?

    No Foto Clube, tinha gente muito intelectualizada e que procurava estudar as técnicas de fotografia. Tinha um especificamente, o Sr. Francisco Albuquerque, que veio do Nordeste e tinha trabalhado na base americana de Natal e com o [diretor americano] Orson Welles, e que possuía um pequeno estúdio em Fortaleza, no Ceará, a família dele toda era composta por fotógrafos. Ele veio para o Sudeste, primeiro para o Rio de Janeiro e depois para São Paulo, em busca de mais oportunidades e começou a trabalhar com agências. Ele me ensinou muita coisa que tinha aprendido com os americanos.

    Com o passar do tempo fui aprendendo cada vez mais e até ganhei prêmios, como profissional e amador. Na Argentina, ganhei uma medalha de ouro e na Suíça um diploma por uma exposição. Mais ou menos em 1954, eu larguei do Foto Clube e comecei só a fazer fotografias para mim, que depois guardava. Em 1952, fiz minha primeira exposição no MAM-SP [Museu de Arte Moderna], que ainda era na Rua 7 de Abril, próximo ao MASP, que também era ali. A técnica e composição fui desenvolvendo com o tempo mesmo e assim me tornei esse velho fotógrafo.

    E as suas temáticas? A cidade de São Paulo parece uma constante em suas fotografias, foi algo intencional desde o início?

    Muitas temáticas eram propostas pelo Foto Clube. Tinha concursos de temas variados, como chuva, textura, arquitetura, eu inclusive ganhei alguns prêmios desses concursos. A maioria eram trabalhos bem feitos, tinham pessoas especializadas em retratos, arquitetura, fotos de modelos e artistas, entre outras coisas.

    “Menina na Chuva”, de 1951 ©German Lorca/Reprodução

    No começo, eu fazia muitos casamentos, mas me cansei porque eles iam sempre até muito tarde. Algumas das fotografias da exposição [“German Lorca fotografias: acontece ou faz acontecer?”, em cartaz no MAM-SP] surgiram dos concursos do Foto Clube, outras eu fiz por minha conta própria. O que eu sempre digo é que a fotografia acontece para o fotógrafo, quer dizer, às vezes ele está andando na rua e vê uma cena boa e é o momento decisivo, como dizia o [Henri] Cartier-Bresson. Você vê e tem que fotografar, se não o momento acaba. Mas você também pode montar uma foto, aquela da menina na chuva [“Menina na Chuva”, de 1951], por exemplo, foi construída para um concurso do Foto Clube.

    Fotografei muitos lugares icônicos de São Paulo e por isso fui escolhido, em 1954, para documentar a cerimônia do IV Centenário da cidade; fui o único fotógrafo oficial, fiz as fotos da catedral e do desfile. O Getúlio [Vargas], o [Lucas Nogueira] Garcez, o Jânio [Quadros], o Milton Campos e o Juscelino Kubitschek foram. Fizeram também a cerimônia de 450 anos e como eu era o fotógrafo mais velho e a Caixa Econômica [Federal] estava fazendo um livro, eles me sortearam para que eu cobrisse a Praça da Sé e a Catedral, e aí fizemos o livro.

    A escolha por retratar São Paulo foi uma escolha minha ao longo das décadas. Do tempo que eu comecei até hoje a cidade mudou muito e eu gosto de registrar essas mudanças, então muitas vezes tento voltar aos mesmos lugares em que estive há anos para fotografar o crescimento de São Paulo.

    “Parque D. Pedro”, de 1949 ©German Lorca/Reprodução

    Quando o Sr. começou a se atualizar em relação à fotografia digital?

    Muita gente acha que fotografia digital tem menos valor, mas uma obra de arte é sempre uma obra de arte. Os recursos para fazer uma fotografia digital são melhores que para fazer uma imagem analógica. Faz mais ou menos uns cinco anos que eu passei a digitalizar minhas fotos. Tem fotos que eu faço com filme em branco e preto e passo para o computador.

    No Foto Clube, a gente aprendia muita composição, mas às vezes uma fotografia não precisa de composição e sim de impacto visual.

    E como foi a adaptação à fotografia digital?

    Bom, as minhas fotografias quase todas partiram de negativos que eu transformei para digital por causa da facilidade de cópia. E eu também, com 80 e poucos anos não ia entrar no laboratório e ficar lá por mais de quatro horas, não consigo. No computador, posso corrigir muito mais para conseguir qualidade, que melhora na fotografia digital. O contraste melhora; antes fazíamos tudo no laboratório com banhos diferentes, já hoje não é preciso mais ficar horas no ampliador. Claro que não sou eu que edito diretamente, não entendo muito de computador, mas fico do lado do rapaz dizendo o que fazer.

    E eu também uso máquinas digitais, tenho duas Leica e aqui no estúdio só se faz fotografia digital. A forma de pensar também não mudou, para mim funciona do mesmo jeito que antigamente. O problema é que com o acontecimento da fotografia digital tem gente que bate fotos “adoidadamente”, mas é preciso ter uma consciência profissional e de arte para fazer fotografia.

    Como é viver de fotografia no Brasil?

    No começo foi difícil, porque tive que aprender “na raça”, como dizem. E alguns fotógrafos vinham do estrangeiro com capacidade profissional muito elevada, lá fora tinham escolas muito boas desde aquele tempo. Aqui estão surgindo cursos bons há pouco.

    “Demônios e o Padre”, de 1956 ©German Lorca/Reprodução

    Como é sua rotina de trabalho hoje?

    Eu agora não posso trabalhar muito porque eu já estou velho (risos). Faço algumas fotos quando viajo. Ano passado, por exemplo, fui para os Estados Unidos com meu filho e fiz mais de 200 fotos, vou escolher umas 50 ou 40. Sempre faço alguma coisa porque talvez ainda tenha o olho para fazer composições e para enxergar o assunto.

    E a fotografia colorida, o Sr. gosta e já se arriscou?

    Agora estou preparando uma exposição inédita com fotografias a cores, estou só esperando o local. Já foram selecionadas mais de 100 fotos coloridas. Você viu a exposição do alemão [Wolfgang Tillmans] lá no MAM-SP? Eu não faria certas coisas que eu vi ali, fiz coisas modernas, mas o alemão fotografa qualquer coisa e coloca na parede, isso eu não faço. A fotografia precisa ter alguma emoção para mostrar pra gente, pode ser que para alguns seja válido aquilo que ele faz, mas para mim, não.

    “Exposição German Lorca fotografias: acontece ou faz acontecer?” @ MAM-SP 
    Endereço: Parque do Ibirapuera (Av. Pedro Álvares Cabral, s/nº – Portão 3)
    Visitação: 28 de março a 27 de maio de 2012
    Horários: terça a domingo, das 10h às 17h30
    Tel.: (11) 5085-1300
    Entrada gratuita

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