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    Laerte fala ao FFW sobre moda, consumo e crossdressing
    Laerte fala ao FFW sobre moda, consumo e crossdressing
    POR Camila Yahn

    Laerte Coutinho, Angeli e Claudiney Ferreira na Flip 2012 ©Fernando Banzi

    Não poderia haver melhor maneira de fechar a Flip 2012 do que com o humor de dois dos cartunistas e ilustradores mais conhecidos do Brasil. Ou talvez seja mais correto dizer: dois dos criadores dos personagens mais conhecidos do Brasil. Falamos de Laerte, idealizador das aventuras dos Piratas do Tietê, publicadas diariamente na “Folha de S.Paulo”; e Angeli, fundador da publicação “Chiclete com Banana”, uma das mais importantes até hoje de quadrinhos para adultos, e criador de personagens como a veterana de bar Rê Bordosa e o punk anárquico Bob Cuspe, que fazem parte do cotidiano brasileiro desde os anos 80. A Tenda dos Autores lotou com leitores ávidos por ouvir e aplaudir as histórias de vida dos dois cartunistas — à semelhança de suas tiras, cheias de humor.

    A mesa que colocou Angeli e Laerte frente a frente, mediada por Claudiney Ferreira, gerente do núcleo “Diálogos”, do Itaú Cultural, se chamava “Los Amigos”, fazendo referência à “santíssima trindade” do cartunismo brasileiro: “Los Tres Amigos”, composta por Laerte, Angeli e Glauco Villas Boas (morto em 2010), criador do Geraldão e Geraldinho. Amigos de longa data, os desenhistas arrancaram aplausos constantes do público contando episódios antigos e bastidores da criação das charges e tiras. Explicaram também como era o trabalho diário de um cartunista e falaram sobre as suas histórias de carreira, e de como era trabalhar com Glauco, desde o Salão Internacional de Humor de Piracicaba.

    “Los Tres Amigos”: Laerton, Angel Villa, e Glauquito – trocadilhos feitos com os seus nomes reais ©Reprodução

    A conversa iniciou com o tema dos limites do humor. Conhecidos pelo seu humor ácido, e relembrando os primórdios do Salão de Humor de Piracicaba, onde as piadas tinham uma função de crítica à ditadura militar do Brasil, Angeli afirma que “as piadas precisam de liberdade para serem feitas”, mas também reconhece a necessidade, decorrente deste fato, de “responder por aquilo que se fala”. Depois de recordar do episódio em que criou um personagem que sofria de Alzheimer (e dos seus consequentes problemas com associações e familiares de pessoas doentes), Laerte adverte ainda dentro da temática: “Não devemos acreditar em tudo o que lemos nos quadrinhos”.

    O debate passou então para a criação dos personagens e a relação dos dois com o trabalho. Enquanto Angeli desenvolve uma relação diária com a prancheta – “Almoço na prancheta. É o meu lugar preferido da casa” – procurando renovar constantemente a sua produção gráfica, Laerte admite estar mais interessado “na narrativa que a imagem traz do que na técnica”; sobre o desenho, ele admite, entre risadas: “Sou capaz de faze-lo, mas só se me pagarem muito bem”.

    “E a idade já não é a mesma, não é?”, questiona Angeli, sobre a queda de criatividade, sobre a qual ambos parecem concordar. “Ultimamente ando perdendo a memória porque fumei muito orégano na vida. Algo aconteceu que ando tendo uns brancos. É coisa da idade, gosto de fazer piadas com isso”, acrescentou, arrancando mais uma vez os risos e aplausos da plateia após ter esquecido uma pergunta colocada por Claudiney.

    Quando questionados sobre a proximidade e identificação com os seus personagens, Angeli tomou a palavra: “Veja a Rê Bordosa, por exemplo: não me identifico com ela nem sei se queria ser amigo dela. Assim, uma mulher de meia idade, bêbada e cuspindo em cima de você no bar não é a melhor colega, concorda?”. Mais uma vez a plateia estourou em risos. Já Laerte afirmou gostar de “propor um passeio para o leitor”.

    Tira de Laerte da série “O Pequeno Travesti” ©Reprodução

    A mesa não poderia acabar sem que alguém tocasse no assunto do crossdressing de Laerte — que subiu ao palco com um longo vestido florido. Quando as perguntas abriram para o público, a primeira foi direta: “Onde comprou o seu vestido?”. Laerte responde sem hesitações e abre o tema para a conversa. Depois de contar alguns episódios decorrentes da sua opção, afirmou também que hoje em dia ela não atrapalha em nada a sua vida: “Tenho uma identidade feminina. É uma condição que devo entender”, disse.

    Com a conversa sempre pontuada por recordações, homenagens e referências a Glauco, o terceiro membro da “santíssima trindade”, foi ele enquanto personagem ausente que encerrou a conversa: “Ele tinha um poder de sensibilidade e intuição incrível para exercer a crueldade do humor com destreza”, descreveu Angeli.

    Laerte durante a mesa na Tenda dos Autores ©Fernando Banzi

    Após a mesa, muito aplaudida, o FFW conversou rapidamente com Laerte:

    Na Tenda dos Autores, você falou que gosta de propor um passeio para o leitor. Que tipo de passeio?

    Para começar, um passeio fora das referências clichês da linguagem de tiras. Proponho que ele abra a mente e experimente dentro daquele espaço onde ele costuma ler uma piada ou outra coisa mais tradicional. Pretendo que ele faça uma viagem mais poética, que ele aprecie ou entenda outro tipo de discurso. Às vezes um discurso puramente gráfico. Enfim, a ideia é essa, propor para o leitor outras coisas.

    Quando acha que as tiras começaram a ser consideradas literatura, a ponto de fazerem parte da Flip?

    Essa pergunta você devia fazer a quem nos convidou, não a nós! (risos) Eu sequer procuro me formalizar, em uma catalogação, se quadrinho é literatura ou não. Acredito que existe familiaridade entre essas formas: texto, poesia, quadrinho, e outras coisas, mas não sei. Eu sempre acho muito saudável que essas barreiras sejam fluidas e que haja bastante flexibilidade.

    O assunto do crossdressing sempre está na mesa quando se fala de você. Na prática, como é ir a uma loja e comprar uma roupa feminina?   

    A pergunta para mim é estranha! (risos) Porque esse tipo de receio e medo eu tinha quando comecei a ir a lojas. Depois que eu percebi que as vendedoras estão interessadas em vender, que o espaço é para se provar e que as roupas estão ali para serem apreciadas e consumidas — e é exatamente o que eu estou fazendo –, descobri que as lojas não têm nenhum problema de gêneros; eu sou muito bem tratado.

    Gosta de moda, acompanha?

    Não é muito a minha praia. Gosto de moda como eu sempre gostei – uma expressão de criação estética. Desfiles eu vejo como momentos de criação artística usando a roupa como suporte. Uma boa parte da produção da moda que é para ser vista mesmo, como uma obra. Mas não sou grande conhecedor, eu compro marcas populares, vou na C&A, nas lojas Marisa, na Collins [de onde era o vestido que estava usando] até porque não tenho dinheiro para mais. (risos) A minha investigação sobre o que é interessante para eu usar é de outra natureza. Para começar, o meu corpo é masculino, então eu tenho que ver um monte de adequações. Por exemplo, vestidos soltões eu acho que me caem melhor. Procuro fazer um arranjo entre o que é o meu desejo de usar e o espelho; é uma negociação. (risos)

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